
O juiz Lucas Tambor Bueno, da Vara do Júri e Execuções do Fórum de Santo André, marcou nesta sexta-feira (30/07) o julgamento de quatro dos cinco réus no caso da família carbonizada, ocorrido no dia 27 de janeiro de 2020 e que vitimou Flaviana e Homoyuki Gonçalves e o filho do casal Juan Victor, de 15 anos. Segundo a denúncia do Ministério Público as vítimas teriam sido torturadas e mortas na residência em Santo André e tiveram os corpos queimados dentro do carro da família, encontrado na madrugada do dia seguinte na Estrada do Montanhão, em São Bernardo. Os acusados são Anaflavia Meneses Gonçalves, filha do casal, sua companheira Carina Ramos, os irmãos Jonathan e Juliano Ramos, primos de Carina, e Guilherme Ramos da Silva, este último terá um júri separado e a data ainda não está marcada.
Diogo Reis, primo de Flaviana, disse que a família respira um pouco mais aliviada com a marcação do júri, um ano e meio após o crime que chocou a região e que teve repercussão nacional. “Para nós hoje foi um dia muito importante, nós aguardávamos ansiosos pela marcação desse júri, ainda teremos mais seis meses por vir, mas é um peso que sai dos nossos corações, principalmente da minha tia (Vera Lúcia das Chagas Conceição – mãe de Flaviana), porque a justiça vem sendo feita. Infelizmente sabemos da demora da justiça, mas também fomos acometidos por uma pandemia, nós até entendemos isso e estamos muito confiantes de que a justiça vai ser feita, que o júri popular vai ser justo e eles vão pagar pelo crime”, disse o familiar em entrevista ao RD.
Ainda de acordo com Reis, a mãe de Flaviana, sorriu pela primeira vez nesta sexta-feira ao saber da marcação do julgamento da neta e de outros três acusados da morte de sua filha, do genro e de seu outro neto. “Minha tia conseguiu ter um dia bom hoje, fazia tempo que eu não via minha tia voltar a sorrir, e ela voltou a sorrir hoje porque acredita que a justiça vai ser feita, que eles vão pagar. Ela disse hoje que nada vai trazer de volta os três, o Homo, a Flaviana e o Juan, mas a gente está vendo que quem cometeu o crime está pagando. O sentimento da família é de gratidão, principalmente a Deus, que tem nos amparado de maneira muito grande. Com o julgamento, a gente consegue ter uma esperança que os acusados vão pagar e os três que perderam a vida poderão descansar em paz sabendo que a justiça foi feita”, concluiu.

O advogado Epamindondas Gomes de Farias, que representa a família e atuará como assistente de acusação ao lado do Ministério Público, diz não ter dúvidas de que os cinco acusados serão condenados à pena máxima por homicídio qualificado. “Todos vão ser condenados pelo homicídio e não por um roubo que não deu certo – tese das defesas – porque houve um planejamento. A quebra do sigilo telefônico mostrou que meses antes eles já estavam planejando o crime, prova é que Carina chegou a fazer a cotação para a troca do piso do sobrado onde a família vivia; ela tinha certeza de que, dando cabo à família, a Anaflavia herdaria os bens e elas ficariam com a casa”, avaliou.
Em seu despacho o juiz não atendeu ao pedido da defesa de Anaflavia, de cisão do julgamento, ou seja, que haja divisão das acusações. O magistrado também rejeitou o pedido de liberdade provisória dos réus, Jonathan e Juliano Ramos. “Compulsando os autos, conclui-se que as razões fáticas e jurídicas que deram ensejo ao decreto cautelar permanecem íntegras e foram ainda reforçadas pela prova colhida durante o sumário de culpa, tanto que os acusados foram pronunciados. A imputação de três crimes de homicídio multiqualificado, três crimes de ocultação de cadáver, roubo circunstanciado e associação criminosa é gravíssima e demonstra comportamento incompatível com o convívio em sociedade, não se admitindo a concessão de qualquer benefício liberatório a quem responde por tão graves condutas”, sustentou Lucas Tambor Bueno. O magistrado determinou ainda que o uso de máscara será obrigatório e que haverá medição de temperatura na entrada do tribunal na data do júri.
O advogado Lucas Domingos que, junto com Sebastião Siqueira, defende Anaflavia, disse que a defesa vai insistir na cisão do julgamento. “A expectativa é de que consigamos fazer com que os jurados tomem conhecimento da verdade, sendo que a Anaflavia fora envolvida neste caso; ela teve participação apenas no roubo, em momento algum planejou, quis ou participou das mortes. Sendo assim, através da individualização da conduta de cada réu, pretende-se que Anaflavia seja absolvida quanto aos homicídios, que como dito, nada tem a ver. A defesa tenta a separação do julgamento quanto a ela, em fronte aos demais réus. Como inicialmente o juiz não aceitou será, tal decisão, passível de recurso”, sustentou o advogado em nota.