
Uma a cada três pessoas que superaram a covid-19 é diagnosticada com alguma sequela relevante meses após a infecção, segundo o infectologista do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or, Ruan de Andrade. Problemas neurológicos, dificuldade de concentração, dores torácicas, queda de cabelo e dores musculares são alguns dos diagnósticos mais frequentes.
Assim, apesar do risco ser menor para vítimas que tiveram quadros leves da doença, o infectologista alerta que o efeito da sequela pode ser irreversível e orienta avaliação médica para todos os infectados no período de até quatro semanas pós recuperação da doença. Muitas sequelas podem se tornar crônicas, mas a maioria tem tratamento e pode ser revertida, diz. “Para isso é essencial que o paciente busque um especialista logo após a melhora do quadro da covid-19 e faça um check-up“, orienta.
Andrade alerta que o risco para que os pacientes desenvolvam problemas a longo prazo cresceu para quem foi hospitalizado pela doença em estágio grave. “Todos em geral correm riscos, mas quem passa por cuidados intensivos e/ou que fazem parte do grupo de risco pode evoluir melhor nessas sequelas”, frisa ao citar que, para isso, é importante a vacinação nas duas etapas. “Não deixem de se vacinar. Por enquanto, é o melhor remédio contra essa doença”, diz.
Cardíacos
O professor titular de cardiologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor do InCor (Instituto do Coração) e Hospital Sírio Libanês, Roberto Kalil, assinala que mesmo após a cura, a vítima também corre riscos de enfrentar problemas cardíacos e sequelas graves no coração. Segundo o cardiologista, os estudos da fase aguda mostram que podem ocorrer arritmias, tromboses, isquemia e infarto, além de miocardite e inflamação do músculo cardíaco.
Kalil cita estudos de autópsias os quais indicam que 60% das mortes em função de pneumonia causada pela covid-19 apresentam o vírus no músculo do coração. Para isso, aconselha que o acompanhamento dos doentes é fundamental após a alta. “Verificamos que 78% dos pacientes curados ainda têm sinais sugestivos de inflamação no coração 70 dias após receberem alta”, diz. “Ainda que sem sintomas, o monitoramento clínico é fundamental”, alerta.
Pós-covid
Desde o ano passado, as prefeituras do ABC atenderam, em média, 4.081 pacientes no pós-covid que apresentaram alguma sequela motora, cognitiva e/ou respiratória. Os atendimentos acontecem via visitas de agentes comunitários, busca ativa ou telemonitoramento, com os pacientes encaminhados para avaliação e reabilitação, e acompanhamento de profissionais como neurologistas, pneumologistas e cardiologistas.
Em Santo André, quem apresentar alguma sequela, pode buscar a Unidade de Saúde (US) de referência do bairro para fazer avaliação e receber encaminhamento. A cidade não informa quantos pacientes receberam tratamento para as sequelas da covid até agora.
Em Ribeirão Pires, pacientes que foram internados no Hospital de Campanha receberam serviços de acompanhamento. De setembro de 2020 até o momento, cerca de 260 pessoas foram atendidas. Para receber atendimento, é preciso ligar no ambulatório e pedir marcação de consulta, acompanhado de documento de identidade e resumo de alta.
Diadema encaminha pessoas com sequelas físicas e/ou psicológicas, via UBS de referência. Até o momento, 76 foram atendidos. Em São Bernardo, quem teve alta hospitalar é encaminhados à UBS de referência, para avaliação e segue para a Policlínica. Desde o início da pandemia, 412 pacientes receberam tratamentos. Quem apresenta sequelas meses depois também deve procurar uma UBS.
De outubro até agora, 3.193 pacientes foram atendidos em São Caetano, no Ambulatório de Acompanhamento e Reabilitação pós-covid (av. Rodrigues Alves, 93 – Fundação). No entanto, quem precisar de atendimento, pode procurar a UBS referência que fará encaminhamento. O paciente passa por consulta e é encaminhado aos especialistas de acordo com a sequela.
Mauá possui Centro de Reabilitação (CER) para estes pacientes, com serviços de fisioterapia, fonoaudiologia, assistência social e outros para reabilitação. Pacientes não graves são atendidos por meio de encaminhamento da UBS ou Hospital Nardini. Quem não teve gravidade da infecção e apresenta alguma sequela devem procurar a UBS e, se necessário, o CER. Esses pacientes serão inseridos na regulação. Foram atendidos 140 pacientes pós internação hospitalar.