
Em pleno Setembro Amarelo, mês de valorização da vida e a prevenção ao suicídio, psiquiatras relatam notar, diariamente, casos de agravamento de quadros psiquiátricos nos pacientes, prognóstico do isolamento social e das intercorrências da pandemia. Em Santo André, o especialista do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D’Or, Líbano Abiatar, conta que, somente em seu consultório, notou também um aumento na procura pela especialidade, em cerca de 40%.
O médico declara que o aumento por serviços na área de saúde mental (psiquiatria/psicologia) era esperado por conta do isolamento social, no entanto, o que preocupa foi a quantidade de novos pacientes e aqueles que acabaram com o quadro agravado. “Esperávamos aumento progressivo, mas acabou sendo maior do que isso, se comparado com o momento pré-pandêmico”, analisa. Já o psiquiatra Cyro Masci afirma que, por conta do isolamento, mais pessoas desencadearam transtornos, como ansiedade e depressão.
Os temas relacionados à contaminação, no entanto, não têm sido mais o tema central para desencadeamento de transtornos mentais, diz Abiatar. Segundo o psiquiatra, outras temáticas como dinâmicas familiares, regimes de trabalho, exaustão e relacionamentos interpessoais desgastados tomaram lugar entre os principais temas tratados nas consultas. “Tudo isso se tornou gatilho. São motivos estressantes, que cada vez mais estão presentes no diálogo dos pacientes nas consultas”, diz.
Tendo em vista o aumento na procura, Abiatar comenta que ações desempenhadas pelas prefeituras no Setembro Amarelo não têm sido suficientes. “O Setembro Amarelo é sim uma política eficaz, porém políticas públicas devem ser levadas em conta”, defende ao citar que muitas ações foram desativadas e/ou negligenciadas ao longo dos últimos anos. “Temos recebido muitos pacientes que eram assistidos por serviços públicos e hoje, por desorganização e/ou por serviços desativados, não têm mais assistência”, diz.
Negligência
Abiatar relata que somente São Bernardo e São Caetano se destacam nas políticas públicas e cuidados paliativos com a população, que sofre com algum tipo de transtorno mental. “São as cidades que percebemos com rede melhor estruturada. Já Santo André, com serviços negligenciados, há um contraste na redução dos atendimentos na saúde pública com alta na demanda da rede privada. É uma informação falseada”, salienta.
O especialista alerta que, entre os sinais a serem administrados pelas famílias de que algo não vai bem estão mudanças bruscas de comportamento, prejuízo na funcionalidade (não conseguir mais exercer atividades que exercia antes normalmente), manifestação de sofrimento psíquico e emocional e reações comportamentais diferentes. “Qualquer sinal parecido, a sugestão é buscar um especialista para avaliação psiquiátrica e, assim, determinar se há ou não a presença de transtorno mental”, recomenda.
Em casos extremos, que cheguem à ameaças de suicídio, a orientação do psiquiatra Cyro Masci é que a família retenha o impulso de atentado – que pode durar até 30 minutos. “A primeira estratégia é ganhar tempo com a vítima. A maioria tem comportamento impulsivo muito marcante e, assim, ao ganhar tempo você ajuda a pessoa a refletir sobre o ato”, ensina o médico.
Setembro Amarelo
Ribeirão Pires promoveu no último dia 17, sensibilização de gestores em escolas. No encontro, a Secretaria de Educação apresentou proposta de atividades, que poderão ser adotadas pelas unidades de ensino, voltadas ao diálogo, reflexão e valorização da vida. A partir do dia 20, todas as escolas terão programação especial do mês, com palestras, rodas de conversa e apresentações culturais.
O Terminal de Santo André e prédios dos Transportes Metropolitanos do Estado ficam iluminados de amarelo, ao longo do mês, para chamar a atenção sobre a necessidade de cuidar da saúde mental. Além disso, estações e terminais recebem campanhas voltadas ao tratamento da saúde mental com disponibilização de mensagens, cartazes e exposições de sintomas. O centro de controle operacional da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo), em São Bernardo, também tem a fachada com luzes amarelas.
São Bernardo realiza o II Simpósio de Prevenção ao Suicídio, no dia 23, de forma online, das 9h às 12h, com transmissão pelo site (even3.com.br/setembroamarelo2) e inscrição gratuita para todos os interessados. Os demais eventos estão disponíveis no mesmo portal e contemplam ainda o I Seminário de Vigilância em Saúde, no dia 15, além de palestras, nos dias 2, 14 e 16. Para reforçar, os nove Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) promovem atividades integrativas e de sensibilização, como a distribuição de laços amarelos, projeções de vídeos, oficinas, rodas de conversas, entre outras.