
Não para de crescer o número de reclamações contra a Enel, principalmente relacionadas a valores cobrados nas contas. No ranking do Procon estadual, a Enel já figura como a segunda colocada, com 28.811 reclamações e índice de solução de apenas 52%, mais que as empresas de telecomunicações, historicamente as mais reclamadas. A concessionária de energia perde apenas para o site de vendas coletivas Facily. No caso do Procon de Santo André, a Enel já é líder de queixas, por isso o órgão de defesa do consumidor vai fazer esta semana representação ao Ministério Público e pedido de fiscalização da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
A Enel conseguiu um feito ao subir oito posições no ranking do Estado. Em 2018, o levantamento da Fundação Procon, com base no número de reclamações, colocava a empresa na décima posição com 958 queixas. Em 2019, a empresa já era a sétima colocada, com 1.419 reclamações. Em 2020 não houve ranking, mas neste ano, somente de janeiro até 31 de agosto já era vice-líder, aumentando em mais de 20 vezes a conta de clientes insatisfeitos.
Os problemas são centralizados na forma de atendimento da companhia, que é terceirizado. Os consumidores reclamam de receberem diversos números de protocolo e pouca ou nenhuma solução para seus problemas. Caso da moradora da Vila Guarani, em Mauá, Iara Beatriz Iponema. A consumidora reclama que pagou pelo mesmo consumo duas vezes e não consegue que seu pedido de compensação seja cumprido. “Em abril de 2020 não houve leitura por conta da pandemia, em maio foi feita a autoleitura que chegou a um total de 498 kWh (quilowatt/hora) de consumo, que foi a somatória dos dois meses. Paguei a conta dos 209 kWh de abril e depois tive que pagar os 498 no mês seguinte e eles não descontaram o que já tinha sido pago. Há um ano e meio estou reclamando, já usei todos os canais de atendimento como o 0800, a ouvidoria, o Procon e fui até presencialmente na agência e não consegui resolver. Abro reclamação eles me respondem e eu contesto, tem sido assim a cada 15 dias e nada”, relata.
O mesmo acontece com o morador do Parque Marajoara, em Santo André, Genivaldo Araújo Pereira. Ele conta que no mês passado o funcionário da Enel não fez a leitura na sua casa e a conta foi feita pela média. Mas os vizinhos tiveram o relógio de luz verificado. “Eu estava com uma obra em casa, mas vi quando o funcionário passou na casa do lado, depois foi para o outro lado da rua, esperei que voltasse mas ele não veio. Já liguei na Enel, recebi protocolo com prazo de resposta em cinco dias úteis, já se passaram oito e até agora nenhum retorno”, destaca.

Em nota, a Enel informou que fará visita técnica nos dois endereços apontados pela reportagem. “Em relação à cliente Iara Beatriz Iponema, a fatura do mês 04/2020 foi calculada pela média dos 12 meses anteriores, devido ao avanço da pandemia país. O acúmulo de consumo foi cobrado na fatura do no mês 05/2020, que foi paga. A companhia não identificou erro de leitura ou de faturamento. Em contato com a cliente, foi agendada uma visita técnica para aferição do medidor, que será realizada no dia 18/10. Já em relação ao cliente Genivaldo Araújo Pereira, será necessário enviar uma equipe técnica ao local para confirmação da leitura. A concessionária tenta contato com o cliente para esclarecer sobre os pontos solicitados”.
Na quinta-feira (7/11) após o RD encaminhar a reclamação de uma moradora do Jardim Campanário, em Diadema, a Enel revisou uma conta de R$ 409 para R$ 21, reconhecendo divergência na medição de consumo. A dona Geralda da Consolação Lopes de Faria, disse que a casa com a divergência era onde morava sua mãe, que faleceu no ano passado e, desde então, o imóvel estava vazio. Ela também tentou resolver o problema pessoalmente na agência da Enel, mas não conseguiu.
A diretora do Procon de Santo André, Doroti Cavalini, diz que já está pronta representação contra a Enel, que será entregue ao Ministério Público para avaliar se é caso de uma ação civil pública. O mesmo material também será enviado para a Aneel. “Vamos pedir uma fiscalização da agência reguladora na Enel, porque são muitos questionamentos de contas altas. Tivemos a crise por conta da pandemia e também a crise hídrica, mas dobrar o valor da conta é abusivo. Tivemos aqui um caso de um consumidor que tinha uma conta de R$ 1,7 mil, que foi revisada para R$ 120, isso com a intervenção do Procon porque o atendimento é muito ruim, o cliente nunca tem razão e precisa buscar os órgãos de defesa ou a imprensa para ser ouvido. Alguém precisa por um breque na Enel, porque já foram mais de 28 mil reclamações no Estado só até agosto, e não é possível que todo o consumidor esteja errado”, diz a diretora.
O Procon andreense também já reuniu informações e as encaminhou para a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara de Santo André.
CPIs devem ouvir representantes da Enel ainda este mês
As comissões de inquérito instaladas em quatro das sete câmaras municipais do ABC – Santo André, Diadema, Mauá e São Caetano – devem começar a ouvir neste mês representantes dos órgãos de proteção ao consumidor como Procon e Defensoria Pública e também da própria Enel. A CPI de Santo André, encaminhou oficio à companhia sugerindo três dadas para as oitivas, dias 18, 20 e 22. Segundo o presidente da CPI, vereador Renato Barros Santiago Filho, o Renatinho do Conselho (Avante), disse que a comissão ainda espera resposta sobre a data escolhida.
“Nosso trabalho está a todo vapor. Hoje conversei com vários moradores que estão reclamando do serviço de péssima qualidade, tenho uma senhora de 63 anos que teve que parcelar uma conta de R$ 1,8 mil. Tenho o caso de um morador que teve a energia cortada, estando com a conta paga”, relatou Renatinho.
Renatinho prega que a mobilização em relação aos problemas relacionados à Enel deve ser regional e sustenta que não apenas as cidades do ABC, mas os 24 municípios da área de concessão da Enel devam se unir para cobrar melhoria do serviço. Ele também se mobiliza para cobrar a Assembleia Legislativa para que instale também uma CPI para pressionar a concessionária por um melhor atendimento. Ele já colheu aproximadamente 5 mil assinaturas e pretende 50 mil adesões até fevereiro de 2022 para pressionar os deputados a também investigar a atuação da companhia.
O vereador Anderson Alves Simões, o Sargento Simões (Podemos), presidente da CEI (Comissão Especial de Inquérito) de Mauá, definiu com os demais membros que primeiro vai ouvir os representantes dos órgãos de defesa. “Primeiro a gente tem que saber onde estão os problemas e depois que tivermos tudo em mãos vamos chamar a Enel. Queremos ouvir também a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica)”, resumiu. O RD não conseguiu contato com os presidentes das comissões de Diadema, Eduardo Minas (Pros), e de São Caetano, César Oliva (PSD).