Ao longo das últimas décadas o ABC perdeu sua complexidade industrial para a produção e comercialização de produtos mais simples e com menor valor agregado. Essa é a constatação do segundo Boletim Econômico da Prefeitura de Santo André. Para explicar como foi realizado o estudo e quais os seus objetivos o economista e coordenador da pesquisa Sandro Renato Maskio e o superintendente da Unidade de Planejamento e Assuntos Estratégicos da prefeitura, José Police Neto participaram do RDTv desta quarta-feira (01/12) e foram entrevistados pelos jornalistas Carlos Carvalho e Leandro Amaral.
“Desafio do boletim é provocar o debate, colocar uma visão crítica trazer dados, a minha leitura não é a única a ser feita. Provocar esse debate é importante. A princípio o boletim deve ser bimestral e sempre tem uma matéria de capa”, explica Sandro Maskio.
E a matéria de capa deste boletim é justamente a perda da complexidade da indústria do ABC. De acordo com o estudo, além da redução do ritmo de crescimento econômico, com efeitos na renda per capita, no mercado de trabalho e na geração de oportunidades, as últimas cinco décadas foram marcadas pela perda de participação de setores mais complexos, aqueles com maior potencial de geração de riqueza e de oportunidades em médio e longo prazos. “Uma leitura importante é a perda de complexidade do setor produtivo brasileiro de 1.966 para cá quando se observa perda de complexidade tecnológica, perdeu-se peso na atividade econômica e isso se vê na região. Os números demonstram a realidade cruel e desafiadora para a nossa economia e para a região”, diz o economista.
Para Maskio a inflação, um problema mundial agravado com a pandemia da covid-19 é agravada pela crise hídrica que aumentou as contas de energia, além do custo do petróleo. “Se acompanharmos o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) desde 2.012 notamos que o preço dos insumos produtivos vem subindo mais e isso em geral é provocado pela China, pois o produtor vai procurar vender onde rende mais e a taxa de câmbio favorece a exportação, aí reduz a disponibilidade interna e os preços sobem. A inflação é ruim para o cidadão porque corrói a renda. Na minha avaliação estamos num contexto internacional mais complexo desde o choque o petróleo na década de 70, o aumento dos insumos de produção foi o grande choque da pandemia”, analisa.

Segundo Police Neto a prefeitura está elaborando a estrutura para a elaboração de boletins bimestrais há um ano e o objetivo é oferecer informações regionais de Santo André. “Com a informação precisa o empresário consegue calibrar o estoque do estabelecimento comercial, se o aquecimento da economia está forte aí ele sabe se vai ter consumo. Vai conseguir ver as tendências do que está acontecendo e a consequência disso para as rotinas do dia-a-dia. O Boletim será importante para a tomada de decisões públicas. “Estamos assistindo uma retomada lenta, a construção civil ao contrário vem com mais vigor. O que a gente quer é levar informação de qualidade para o agente público e para o agente privado, se o PIB tá crescendo ou reduzindo. Mostrando coisas simples para o dia-a-dia das pessoas”, disse o superintendente de Planejamento e Assuntos Estratégicos. “ O poder público não é gerador de economia, mas pode ser o mentor. Só um serviço que você presta mexe com toda uma avenida e é de fundamental importância nesse ciclo de retomada”, continua Neto.
“Queremos conversar mais com o ramo químico, pois a gente sabe que o petróleo sofrerá mais e severas restrições no setor automotivo, então adoraríamos a união do químico e o automotivo para desenvolvimento da mobilidade elétrica e isso faz a cidade diferenciada e a gente quer que o ABC todo faça. A gente tem uma região integrada a gente não tem divisas. Não fazia sentido, por exemplo, o prefeito de são Paulo não fazer parte do consórcio”, comentou o superintendente.
Arrecadação
O boletim levou considerou levantamentos sobre o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o ISS (Imposto Sobre Serviços). No ABC, nos primeiros oitos meses de 2021, a arrecadação de ICMS registrou alta de 32,58%, ante a variação acumulada de 35,9% no primeiro semestre. Esta redução foi observada em todos os municípios da região com exceção de São Caetano. Entre os municípios que apresentaram maior acréscimo de arrecadação entre janeiro e agosto estão Diadema (+46,6%) e Santo André (+46,2%). “São Caetano tem o impacto de uma indústria automotiva e é um município pequeno, já Diadema se industrializou mais e mais tardiamente, nos anos 70 e 80, isso marca muito esse diferencial de comportamento do ICMS. Santo André eu diria que dentre os municípios do ABC vizinhos é o que mais sofre da perda do setor produtivo, perde no segmento de eletrodomésticos, permanece no petroquímico e plásticos e passa a ter estrutura mais diversificada”, explicou Sandro Maskio.
Confira a íntegra do boletim: