
Levantamento feito pelas prefeituras do ABC, sobre a fila de espera para realização de diagnóstico de imagem pela população, aponta que ultrassom, mamografia, endoscopia e colonoscopia são os tipos de exame com maior demanda e tempo para atendimento nos postos. A colonoscopia, recomendada para pacientes com mais de 50 anos e com suspeita de lesões no intestino que podem evoluir para câncer colorretal, a demora pode chegar a quatro anos. É o caso de Ribeirão Pires.
Segundo a Prefeitura, o exame de colonoscopia é o segundo com maior demanda, após a mamografia, que tem 730 pacientes na fila e a espera é de até 75 dias. Para colonoscopia sem sedação são 92 pedidos, e com sedação há 148 pacientes na fila. “Devido a não oferta de vagas do governo do Estado, o tempo de espera para colonoscopia com sedação é de aproximadamente quatro anos. Com a pouca oferta de vagas, a colonoscopia sem sedação tem espera de 6 meses, aproximadamente”, explica em nota. Ribeirão Pires depende exclusivamente do Estado para realização do exame.
Problema é antigo
Para a médica sanitarista e professora titular da disciplina de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Vânia Barbosa do Nascimento, é preciso aumentar a oferta de exames, principalmente os de imagem, mas também é necessária uma ação para organizar a fila de espera, para isso é preciso analisar caso a caso. Segundo a médica, ex-secretária de Saúde de Santo André, isso não aconteceu por conta da pandemia, o problema já é velho conhecido das redes públicas municipais, porém a chegada da pandemia agravou ainda mais a situação.
Vania afirma que esses exames atrasam bastante e são poucos os serviços, um problema crônico que não é de agora. “É de anos”, comenta Vânia, ao defender que os pedidos devam ser reavaliados para que a fila não se torne interminável. “São pedidos sem muito critério e sem classificação de risco. Há pedidos desnecessários, como por exemplo uma situação em que o médico faz um pedido, demora dois meses e ele pede de novo, isso só aumenta a fila. Por isso é preciso que sejam feitas ações, primeiro para aumentar a oferta de exames e depois para qualificar os profissionais e estabelecer uma regulação destas solicitações”, comenta.
A sanitarista diz que é preciso fazer um inventário desta fila de espera e separar os casos em que o exame é realmente necessário e, dentre esses, elencar de acordo com a urgência. Afirma que o SUS (Sistema Único de Saúde) precisa se preparar para isso, se expandir, porque a população aumenta e envelhece e, com isso, há mais demanda por exames. “Mas por outro lado, é preciso também uma mudança no teto de gastos, uma mudança na legislação, ele tem que ser revisto, pois os municípios estão no seu limite financeiro e já gastam mais de 20% do orçamento com a saúde”, ressalta.
Bola de neve
Enquanto foi secretária em Santo André, Vania diz que colocou em prática essa análise, caso a caso, da fila de espera por exames. A demanda era grande e, então, colocaram uma central telefônica para se comunicar com os pacientes. “Encontramos casos em que não tinha mais os sintomas, que melhoraram, outros que não foram encontrados e limpamos a fila, separamos os de urgência. Detectamos que só 20% dos pedidos eram urgentes, por isso tem que ter uma gestão dessa fila de espera e as equipes de saúde da família são aliadas importantes. Na época conseguimos zerar a fila de espera, que era uma bola de neve”, conta.
Quanto ao exame de colonoscopia, que tem fila de espera de 4 anos em Ribeirão Pires, a médica admite que este é um dos exames que mais tem espera e também que é difícil, dizer para um paciente, que tinha um pedido urgente, que agora esse procedimento não é mais necessário. “O ideal é encaminhar para o médico reavaliar ou pedir uma segunda opinião”, sugere.
Estado
O governo do Estado não informa de quanto tempo é a fila de espera para a realização de exames de colonoscopia e outros que foram indagados pelo RD, apenas relata que houve redução na fila de espera. “Para garantir o atendimento a todos os pacientes que aguardam exames ambulatoriais, o governo retomou o programa Corujão da Saúde. Nos últimos 7 meses, a Grande São Paulo registrou redução de 58% dos exames de colonoscopia e 83,5 % dos exames de endoscopia. Além de manter seus próprios equipamentos, o Estado auxilia no atendimento dos munícipes por meio da Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), sistema que permite às prefeituras agendar exames para os cidadãos, em serviços de referência”, informa em nota.
Cidades
A espera por exames, principalmente de imagem é comum em todas as cidades. Em Diadema, a maior demanda é por radiografias e ultrassonografias. A Prefeitura não estima o tempo médio de espera, apenas diz que depende do quadro clínico do paciente e a capacidade de ampliação da oferta de acordo com o cenário epidemiológico da covid-19. “O município tem adotado diversas estratégias para a gestão da fila de espera e otimização dos recursos diagnósticos, como atendimento às demandas prioritárias e solicitações sistemáticas à Secretaria Estadual de Saúde para ampliação das cotas ofertadas nos serviços referenciados. Além disto, os técnicos promovem revisão constante das filas de espera e da classificação de risco de acordo com o tempo decorrido da espera”, informa.
Em Rio Grande da Serra, os três exames mais procurados são ultrassom transvaginal, ultrassom de abdômen e endoscopia. “O município não oferece estes exames, que são encaminhados via Cross. A Prefeitura estuda nova ação junto ao governo do Estado para dar conta da demanda maior por exames”, responde.
Pandemia
São Bernardo informa que a demanda por exames aumentou por conta do esforço para conter a pandemia. Muitos serviços eletivos de saúde tiveram de ser suspensos para se concentrar no combate ao coronavírus. Os três exames mais solicitados e com maior tempo de espera na rede são prova de função pulmonar, ultrassonografia e densitometria óssea. O município trabalha com 100% de ocupação da capacidade ofertada na rede municipal e estadual para atender toda a demanda. A Prefeitura não informa o tempo de espera para os exames.
Da mesma forma São Caetano reduziu a realização dos exames para focar no combate à pandemia. Os três exames com maior fila de espera na cidade são os de colonoscopia, ultrassonografia transvaginal e ecocardiograma, com tempo médio de dois a três meses. “Para reduzir esse tempo de espera, a Secretaria de Saúde estuda ações para ampliar a capacidade de atendimento”, resumiu a nota.
As prefeituras de Santo André e Mauá não responderam aos questionamentos do RD.