
Após as falas sobre as mulheres ucranianas que estão fugindo da guerra imposta pelo governo russo, o deputado estadual Arthur do Val (Podemos), conhecido como “Mamãe Falei”, virou alvo de diversas críticas de colegas. Ao longo dessa segunda-feira (07/03) foram protocolados 12 pedidos de cassação no Conselho de Ética e Decoro. Parlamentares com base no ABC se dividiram entre discursos e notas criticando o legislador, e a assinatura das ações para que o youtuber perca o seu mandato.
Luiz Fernando Teixeira e Teonílio Barba (ambos do PT) assinaram um dos primeiros pedidos feitos em conjunto por parlamentares de cinco partidos (PSDB, PL, PCdoB, PSOL e PT). Além disso, Teixeira também protocolou um pedido individual com o mesmo objetivo. Os petistas utilizaram as redes sociais para repudiar Arthur e ao mesmo tempo apontar problemas que ocorreram em outros momentos da Legislatura.
““Estou entrando com pedido de cassação de mandato do deputado estadual Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei. É inconcebível as repugnantes falas sexistas, tratando mulheres como objetos e sem nenhum respeito. O mais triste é que um ser desse foi eleito com quantidade importante de votos em 2018, na onda do bolsonarismo. É inconcebível que a Assembleia Legislativa de São Paulo, um dos maiores legislativos das Américas, tenha alguém desse nível. E não é de agora. Antes mesmo de tomar posse ele vem aterrorizando e desrespeitando outros deputados, pessoas e organizações sérias”, disse Luiz Fernando.
“Nesses três anos em que divido o parlamento com o deputado Arthur do Val foram inúmeras as falas de desrespeito proferidas por ele. Em uma dessas situações, ele ofendeu trabalhadores e trabalhadoras com palavras de baixo calão, situação que ganhou bastante repercussão porque eu e um grupo de deputados nos indignamos com tamanho desrespeito e quase saímos no braço com o deputado youtuber. Fato é que o deputado não sofreu nenhuma medida disciplinar por parte da Assembleia Legislativa de São Paulo no caso da ofensa aos trabalhadores. É inadmissível que no mês das mulheres, um deputado ganhe repercussão internacional por ofender mulheres em situação de extrema vulnerabilidade em decorrência da guerra”, escreveu Barba.
Durante a sessão plenária desta segunda-feira, Coronel Nishikawa (União Brasil) e outros parlamentares usaram a tribuna para repudiar Arthur. “Ele é um crítico até dos colegas, chama o colega de vagabundo. Então está colhendo aquilo que plantou. Ele sempre foi dessa forma, todos conhecem o procedimento dele. Portanto esse é o primeiro pronunciamento para que se apure da melhor forma possível, que seja punido exemplarmente. Eu acho que envergonha o nosso Parlamento e não é isso que nós queremos para o nosso Parlamento. Eu me senti envergonhado quando eu assisti ao vídeo na divisa da Ucrânia, em um país que está beligerante (que está em guerra), em um país em que todos estão fugindo para não sofrer as consequências da guerra”, falou o deputado.
“Quero expressar a minha indignação com os áudios que se referem às mulheres ucranianas. É inadmissível esse tipo de postura machista e sexista. Ainda mais vindas de um deputado estadual, como o deputado Arthur do Val. A Ucrânia está enfrentando um momento muito difícil e as mulheres merecem respeito”, disse Carla Morando (PSDB) em nota na última sexta-feira (04/03).
“É de conhecimento público as declarações do deputado estadual Arthur do Val, que foram divulgadas no dia de hoje. Tais declarações são, além de desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro país, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra. Manifesto meu repúdio a tal atitude, e aguardo as medidas cabíveis por parte da Justiça. E relembro que essa postura é contrária a tudo que eu, como líder do Podemos na Assembleia Legislativa de São Paulo e toda a bancada defendemos”, escreveu Márcio da Farmácia. O Podemos abriu uma investigação interna para definir o destino de seu ex-candidato ao Governo do Estado, inclusive com a possibilidade de expulsão.
“Nesse momento a Alesp tem que fazer o que já fez em outros momentos e com outros deputados, não pode fugir a sua responsabilidade e ter uma punição drástica no caso do deputado Arthur. Ele foi muito infeliz na sua colocação, em um momento muito difícil para as pessoas que estão na Ucrânia, na região do entorno, sofrendo com uma guerra. Nós como brasileiros nunca imaginamos passar por um momento de guerra como esse. E um deputado se propor a viajar até lá para ajudar as pessoas e fazer o que ele fez é muito grave. Tenho certeza de que a Assembleia será extremamente útil em dar uma ação punitiva ao que ele fez”, disse Thiago Auricchio (PL) no último final de semana.
Vereadores
O ABC conta com dois vereadores que são parte do MBL (Movimento Brasil Livre), mesmo grupo em que faz parte Arthur do Val (que declarou que se afastou do grupo com a repercussão). O são-bernardense Glauco Braido (PSD), em nota, afirma que é grato pelo deputado ter ajudado em sua eleição, mas que considerava que Arthur “errou feio” ao falar sobre as ucranianas.
“Desde já, deixo claro que o ocorrido não reflete os meus valores pessoais e políticos, aproveitando o ensejo para me solidarizar com todas as mulheres, pelas quais nutro profundo respeito e admiração”, escreveu.
O andreense Marcio Colombo (PSDB) ressaltou que o deputado estadual reconheceu o erro e pediu desculpas, mas considera que o fato “não pode ser esquecido, tampouco deixado de lado”, porém, fez elogios a Arthur afirmando que o parlamentar “vem orgulhando seus eleitores e admiradores pelo irretocável desempenho político”. Na sequência ressaltou que o legislador tem que ter humildade para aguentar as consequências de seus atos, e aprender a respeitar as mulheres.