
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recebeu uma denúncia do ex-assessor de gabinete Renato de Carvalho Rocha contra o vereador de Diadema Jefferson Marques de Souza Moreira, o Dequinha Potência (PSD). A acusação é de um suposto esquema de corrupção envolvendo liberação de CNHs (Carteira Nacional de Habilitação) e de rachadinha (repasse de salários de assessores para a conta do parlamentar). O legislador nega as acusações e ainda afirma que o ex-funcionário foi exonerado do cargo por andar armado na Câmara e por ameaçar colegas.
Rocha afirma que conhece o parlamentar há alguns anos, mas depois de um afastamento trabalharam juntos em uma ONG (Organização Não Governamental) denominada “Espaço Cidadão”, no bairro Taboão. Depois, assessorou o então candidato em sua campanha eleitoral, mas quis deixar claro que só trabalharia no processo de pedido de votos caso não houvesse ações corruptas em um cenário de vitória. Algo que teria mudado logo após a eleição.
“Ele (Dequinha) começou a chorar as pitangas dizendo que tinha gasto muito dinheiro, que iria precisar, que estava com dívida e que precisava de muita ajuda. Só que nas entrelinhas destas palavras estava escrito ‘se você não aceitar simplesmente está fora’ (sic)”, relatou Renato.
Segundo o sistema de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), oficialmente Dequinha Potência teve R$ 2,5 mil de investimento na campanha, verba que o próprio colocado doou, e gastou R$ 2.415,70. Nessa mesma época, o agora parlamentar foi alvo de um pedido de impugnação por utilizar os serviços prestados pelo Espaço Cidadão para fazer compra de votos, porém, a Justiça Eleitoral acabou negando que houvesse qualquer tipo de problema sobre o assunto.
Ao tomar posse, em janeiro de 2021, Renato foi empossado no cargo de assessor, recebendo um salário de pouco mais de R$ 8 mil. Porém, o denunciante aponta que tinha que devolver R$ 5 mil por mês. A princípio a devolução era feita para um assessor, que foi exonerado meses depois, por supostamente ter desviado R$ 100 mil do esquema, e depois para outra assessora. Foram nove meses até que Rocha resolveu parar com a situação e assim foi exonerado.
Tanto ao MP quanto para a reportagem, Renato divulgou uma série de áudios e vídeos que são usados como provas contra Dequinha. Em um dos relatos, o ainda assessor acusou o parlamentar de corrupção, pois estava “fazendo cambalacho de CNH, multas e etc. (sic)” e realizando o esquema de rachadinha.
Sobre o suposto “cambalacho”, o denunciante aponta que o vereador teria como principal ganho financeiro um esquema para liberação de carros com diversas multas, falsificação de exames toxicológicos e liberação de CNH, inclusive para pessoas analfabetas. Fotos de Dequinha entregando a carteira de motorista para um cidadão foram anexados nas provas entregues ao Ministério Público.
Renato de Carvalho Rocha afirmou que ficou por alguns meses pensando no que faria e após consultar pessoas próximas resolveu fazer a denúncia ao MP. O RD entrou em contato com o Ministério Público, mas a Procuradoria afirmou que não poderia informar nada sobre o caso, pois a investigação era feita em sigilo.
Dequinha Potência nega as acusações e rebate supostos problemas do ex-assessor
Procurado pela reportagem, Dequinha Potência afirmou que está “tranquilo” com a situação e que Renato “tem que provar o que falou, pois todo mundo fala, até papagaio fala”, e que até o momento não foi procurado pelo Ministério Público para falar de qualquer situação.
O parlamentar afirma que Renato foi exonerado do cargo, pois andava armado em seu gabinete. “Os assessores falavam que ele andava armado e depois eu vi uma arma dentro da minha gaveta e questionei sobre isso. Como uma pessoa sem porte ou posse de arma vai andar armado por aí? Por isso que eu exonerei”, disse o legislador que chegou a contar sobre um caso de tiros que Rocha teria dado para o alto em uma conversa com outros assessores. Apesar das situações relatadas, não houve qualquer tentativa de denúncia sobre as situações aos órgãos de segurança.
O vereador também aponta que o fato de Renato ser bacharel em Direito, mas sem a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também seria outro motivo para a exoneração.
Dequinha também negou que outros assessores também participem de esquemas de corrupção, nem mesmo o primeiro citado (que supostamente recebia os valores e repassava ao vereador) que segundo o legislador é ajudado até hoje, mesmo sem exercer cargo na Câmara de Diadema.
Também negou qualquer esquema voltado para liberação de CNH ou mesmo para falsificação de exames toxicológicos. Por fim, afirmou que teria uma série de testemunhas que poderiam confirmar ameaças e ações de Renato contra os colegas de gabinete e o próprio vereador, inclusive com a possibilidade de um dossiê com provas.