Um estudo realizado pelo professor Lúcio Flávio da Silva Freitas, do curso de Ciências Econômicas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e economista do grupo Euro17, mostra o crescimento forte do setor de crédito em 2021 e que isso deve se manter em 2022, o que ajuda a economia em pelo menos um ponto percentual. O levantamento integra a 21ª Carta do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo, Inovação e Conjuntura da USCS). Segundo Freitas, o mercado de crédito tem poder para incentivar a demanda e estimular a atividade econômica. Em 2021 a carteira total de crédito alcançou 54% do PIB (Produto Interno Bruto).
A nota técnica sustenta que a recuperação plena da crise imposta pela pandemia da covid-19 passa pelo setor de crédito. “Por exemplo, em 2020, o impulso do crédito, que é a variação das concessões líquidas em relação ao crescimento do PIB, foi positivo (4%) e o maior em duas décadas. No último trimestre daquele ano, a economia já crescia mais de 3% em relação ao trimestre anterior. Por si só, esse dado implicou um carregamento estatístico para o ano seguinte que já assegurava crescimento da atividade próximo a 4%, trazendo a economia para mais próxima do patamar pré-crise sanitária”, aponta o estudo.
O levantamento cita ainda que o Programa de Estímulo ao Crédito lançado no final de 2021 pode reforçar essa tendência de aumento do crédito. “Assumindo um cenário conservador para o PIB, com crescimento em torno de 0,3% e taxa básica de juros em 12,2%, conforme projeção do boletim Focus, o mercado de crédito deverá experimentar uma acomodação em 2022, com crescimento previsto de 2%”, aponta a nota técnica.
Em entrevista ao RD, Freitas conta que a inflação é a maior vilã nesse processo de recuperação econômica, mas não é a única, o desemprego e a falta de confiança são outros fatores. “Com o recente aumento dos combustíveis e dos alimentos se tem a inflação e o consumidor é diretamente atingido porque perde renda e confiança. Essa confiança se recupera com a recuperação da renda, que depende do país crescer e do desempenho do mercado de trabalho. Nos últimos dois trimestres a gente viu o desemprego diminuir um pouquinho, mas o estoque de desempregados continua muito alto. O emprego que cresceu é aquele informal e de menor renda. Quanto ao crescimento econômico de um modo geral, que traz o crescimento do PIB, que traz o crescimento do emprego e da renda, a gente precisa de mais estímulos que não virão da política monetária, porque a inflação está alta, então não virão dos juros mais baixos e também não da política fiscal, eles têm vindo da política de crédito. O governo viu que no ano passado funcionou bem o estímulo via crédito e dobrou a aposta, lançando um novo programa de crédito para as micro e pequenas empresas, aumentou a margem do crédito consignado, além de liberar recursos do fundo de garantia”, analisa o economista.

O professor da USCS diz que é possível esperar por uma melhora dessa sensação de confiança do consumidor ainda este ano, ainda que moderada. “Pode vir por duas razões, por esse estímulo ao crédito e por essa redução do desemprego. Além disso, no segundo semestre a gente estima que a inflação deva desacelerar e isso ajuda. Tem ainda o câmbio que está valorizando e isso pode significar alguma recuperação do poder de compra. A queda dos juros, por conta da guerra na Ucrânia deve ficar só para o ano que vem, depois do período eleitoral”.
Sobre a estimativa de crescimento de 2% do crédito para este ano, Freitas não vê como um índice ruim. “Ano passado o crédito teve um crescimento grande, primeiro pela restrição do ano anterior, quando surgiu a pandemia, e também por conta dos vários estímulos governamentais. Para um ano de acomodação, esse ano a economia não deve crescer nada exuberante, deve ser um crescimento pequeno, então não vejo como uma previsão ruim. É 2% em cima de uma base que cresceu muito no ano passado. Tudo vai depender da taxa de juros, que no ano passado estava ainda baixa”.
Por fim, Lúcio Flávio da Silva Freitas diz que o crescimento do setor de crédito deve ajudar na recuperação da economia em 2022. “Se crescesse mais ajudaria mais a economia e essa é a aposta do governo com os incentivos lançados. Mas não é um crescimento que vá fazer a economia crescer 2% ou 3%, mas quem sabe nos ajude a crescer perto de 1% no final do ano”, completa.