
Nesta sexta-feira, dia 25 de março, jovens e movimentos ativistas em defesa do meio ambiente se uniram ao redor do mundo em atos contra os efeitos da poluição do ar na natureza e na saúde das pessoas, durante a Greve Global pelo Clima. A iniciativa, organizada pelo movimento Fridays for Future (Sextas-feiras pelo Futuro, em tradução livre), tem como uma das representantes a ativista sueca Greta Thunberg. O ABC também se mobilizou pela causa e na tarde desta sexta-feira, movimentos ambientais, líderes políticos, movimentos de juventude, ativistas e sociedade civil protestaram em frente ao Polo Petroquímico, em Santo André.
Integrante do movimento ambiental Observatório Popular do Clima ABC, Everton Reichert Farias explica que, além de chamar atenção às questões que envolvem o Polo Petroquímico, como a emissão de gases poluentes, que causam danos tanto ao meio ambiente quanto à saúde da população, a mobilização também é uma cobrança ao poder público. “O mote é a luta contra os efeitos nocivos do Polo Petroquímico, assim como a exigência de medidas efetivas de combate a enchentes e deslizamentos na região”, explica Farias, estudante de relações internacionais na UFABC (Universidade Federal do ABC).
O Observatório, formado em fevereiro deste ano, reúne ativistas, estudantes, pesquisadores e ambientalistas da região, e a manifestação foi o primeiro ato da organização. Farias conta que a escolha do Polo Petroquímico para a ação deste ano se deu a partir do próprio movimento de moradores do entorno. “A ação foi pensada por um conjunto de organizações, coletivos e partidos da região e a escolha do local foi influenciada pela própria luta dos moradores, que já tem um longo histórico de articulação, na tentativa de exigir medidas contra a poluição que é emitida por esse conglomerado de empresas”, afirma.
Para o vereador da cidade, professor Ricardo Alvarez, que também participou da ação, a iniciativa é importante para trazer à tona o debate sobre os problemas ambientais causados pelo Polo Petroquímico. “Convocamos todo o ABC e São Paulo para participar dessa mobilização. A questão das mudanças climáticas é emergente e os danos causados pelo Polo já são conhecidos pela população que vive no entorno. As empresas têm de assumir as suas responsabilidades nas questões ambientais da região. Já passou da hora”, comenta.
Danos à saúde
A professora Cristina Vidal, gestora do curso de Farmácia da USCS (Universidade de São Caetano do Sul), defendeu, em 2016, seu doutorado em ciências, pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), com o tema ‘Efeitos da poluição ambiental nas doenças cardiovasculares e respiratórias’. Durante a pesquisa, feita por dois anos, Cristina analisou a poluição atmosférica de São Caetano, diariamente.
O objetivo era cruzar os dados da poluição do ar com os atendimentos de doenças respiratórias e cardiovasculares no pronto-socorro do Hospital Albert Sabin. “Percebemos que, nos dias em que os índices de poluição aumentavam, os atendimentos por doenças respiratórias também cresciam, nos sete dias subsequentes, no local”, explica. “Pudemos verificar a relação entre a poluição atmosférica e essas doenças”, conta.
Que a poluição do ar afeta o sistema respiratório é fato, mas muitas vezes não se associa doenças cardiovasculares à poluição atmosférica. “Ficamos expostos aos poluentes do ar e há uma deposição dos componentes, que causam um processo inflamatório a longo prazo, especialmente nos vasos sanguíneos”, afirma a farmacêutica, ao explicar que esse quadro leva ao surgimento de doenças, como hipertensão arterial e ateroesclerose, um endurecimento dos vasos sanguíneos, que favorece o depósito de gorduras e pode evoluir para infartos e AVC (acidente vascular cerebral).
Para a professora, o ABC deve discutir a poluição atmosférica, principalmente por conta das indústrias, da alta quantidade de veículos nas cidades e de áreas urbanizadas e com pouca vegetação, como é o caso de São Caetano, que tem poucas praças e parques. “Os gases emitidos pelo Polo Petroquímico atingem toda a região, não somente os moradores do entorno. O ideal seria que, pessoas com doenças respiratórias não habitassem próximos a locais como o Polo Petroquímico, para evitar agravamento do quadro”, afirma Cristina. “Toda população do ABC acaba exposta por essa poluição, por isso a importância desse tipo de ação (Greve Global), que pode gerar mais estudos sobre o tema na região e abrir espaço para o debate”, completa.
Posicionamento das empresas
Por meio de nota, o Cofip (Comitê de Fomento Industrial do Polo Petroquímico) informa que a manifestação é um espaço livre para a concretização da democracia participativa, valor defendido pelas associadas. Afirma ainda que possui conhecimento sobre as demandas da comunidade e que está aberto para receber os representantes de organizações ambientas, bem como moradores que desejem conhecer as instalações das indústrias que integram o Polo Petroquímico. “Temos como crença que o equilíbrio ambiental, a responsabilidade social e a efetividade econômica são fundamentais para a criação de valor. Por isso, ressaltamos que o nosso propósito é gerar sinergia entre as indústrias, o poder público e a comunidade e ser o interlocutor do setor industrial com seus principais públicos de interesse”, escreve.
O Cofip é formado por 16 empresas que, nos últimos dois anos, investiram mais de R$ 1,5 bilhão na modernização e melhora dos controles ambientais e de segurança. “Essa é uma das áreas prioritárias para as empresas associadas e é a que mais tem recebido investimentos, superando inclusive os recursos destinados ao aumento de produção das indústrias”, continua a nota. Segundo o Cofip, as empresas têm priorizado a sustentabilidade e um exemplo é implantação de projeto que propiciará a redução no consumo de energia, em aproximadamente 8%, e reduzirá a emissão de gases de efeito estufa. É estimado o investimento de cerca de R$ 600 milhões neste projeto.