
Com a pandemia houve o fortalecimento e o reconhecimento de profissionais ligados ao setor da saúde, como os da área da enfermagem (enfermeiros, técnicos e auxiliares). Dados do Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) mostram que no ABC, entre maio de 2019 e maio de 2022, foi registrado na região um crescimento de 33% no número de enfermeiros e enfermeiras inscritos no conselho e que atuam nas redes públicas e privadas de saúde. Ao todo, até maio deste ano, a região possui mais de 51,2 mil profissionais do setor; em 2019 eram cerca de 38,4 mil.
O presidente do Coren-SP, James Francisco dos Santos, observa que a pandemia trouxe valorização e reconhecimento profissional pela sociedade, mas ainda há muito o que lutar na categoria. “A nossa sociedade é medicolocêntrica, ou seja, voltada e focada no médico. Mas é preciso entender que sem a enfermagem não há saúde. Nós somos a única profissão que fica 24 horas trabalhando junto ao leito. É uma atuação fundamental”, afirma Santos, que ressalta que a pandemia uniu conselhos, sindicatos e profissionais em prol do fortalecimento da categoria. “Ainda temos muitas metas e assuntos para lutar”, diz.
Em todo País, com a pandemia e o aumento da procura por atendimento médico e internações, houve a necessidade de contratação de novos profissionais e, segundo o presidente do conselho, foi o que promoveu o aumento da enfermagem também no ABC. “O Coren tem feito monitoramento e fiscalização para acompanhar os serviços de saúde e verificar, neste momento que esperamos ser uma ‘pós-pandemia’ e os hospitais de campanha e atendimentos da covid-19 foram desmontados, se esses profissionais serão efetivados nos serviços ou terão contratos estendidos, visando suprir uma demanda de profissional disponível por leito. Algo que já vinha sendo solicitado antes da pandemia”, afirma Santos.
Em São Bernardo, a rede municipal de saúde conta atualmente com um pouco mais de 8,4 mil profissionais de enfermagem. Em nota, a Prefeitura informa que foram contratados 566 enfermeiros, técnicos e auxiliares, em regime CLT, entre março de 2020 e março de 2022.
Já em Diadema, a cidade conta atualmente com 316 enfermeiros, 44 auxiliares de enfermagem e 854 técnicos, que atuam na rede municipal de saúde, um total de 1.214 profissionais, cerca de 9% a mais que em 2019, período anterior à pandemia. Entre os ano de 2019 e 2022, a cidade contratou 103 enfermeiros e técnicos. Em nota, a Prefeitura informa que não foram realizadas demissões e aguarda a homologação de concurso público.
Em Ribeirão Pires, cerca de 280 profissionais de enfermagem integram a rede municipal de saúde. Para atuar na linha de frente no combate à covid-19, a cidade contratou 96 profissionais de saúde destinados ao Hospital de Campanha (não há dados específicos sobre enfermagem somente), que permaneceram por um ano e cinco meses na unidade. Em nota, a prefeitura informa que após o término do contrato, alguns profissionais participaram de processo seletivo organizado pela empresa Biogesp e, sendo aprovados, puderam continuar trabalhando na cidade.
O presidente do Coren-SP afirma que ainda há metas a cumprir com a categoria, como a luta pelo piso salarial, pela jornada de trabalho de 30h, pela sala de descanso e descompressão, entre outros. “Essas são as nossas prioridades no momento. A enfermagem sofreu muita pressão durante a pandemia, como a sobrecarga de trabalho, além da preocupação com a própria saúde e a da família diante de uma doença, até então, desconhecida”, explica Santos.
Segundo o gestor, durante a fase mais aguda da pandemia mais de 80% dos profissionais de enfermagem tinham medo de voltar para casa e contaminar os familiares. Além desse medo e da pressão no ambiente de trabalho, o conselho registrou que mais de 70% dos profissionais foram agredidos durante o horário de expediente. “Foi um período muito difícil, em que esses profissionais precisaram de apoio psicológico e ainda precisam. A sala de descompressão e descanso, já utilizada pelos médicos, é uma das nossas lutas, para que a enfermagem possa ter um local para se desligar um pouco do estresse do trabalho”, afirma Santos.
A sala de descompressão para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, garante o descanso de jornadas de trabalho prolongadas e exaustivas, ajuda o profissional a manter o foco e diminui a possibilidade de erros. “É uma lei de 2000 que ainda não foi implementada, por isso ainda não conseguimos obrigar que hospitais e serviços de saúde coloquem em prática. Mas pressionaremos o governo para que isso aconteça, aproveitando a exposição da categoria que ocorreu durante a pandemia”, aponta o presidente.
Zelar pela diminuição da chance de erros durante o plantão e garantir a saúde mental dos profissionais é a principal pauta. O Coren também defende a aprovação da jornada de trabalho de 30h semanais. “Hoje cada serviço determina o período de trabalho. Há profissionais que trabalham 30h, outros atuam em 40h e 44h. A Organização Mundial de Saúde já apontou que um profissional que trabalha 30h por semana tem uma melhora na saúde mental e no foco, o que diminui os erros cometidos durante o plantão”, afirma Santos.