
Pais de alunos matriculados em escolas estaduais da região estão preocupados com o número de casos suspeitos e confirmados de covid-19 nas unidades escolares. Dentre as reclamações está a falta de informação sobre os casos e as medidas de segurança a serem adotadas pelas escolas, para conter a disseminação do vírus entre profissionais da rede estadual e estudantes. É o caso da moradora de São Caetano, Ana de Cássia Destro Gabrielli, que tem o filho matriculado na Etec Jorge Street, e reclama pela falta de orientações por parte da direção e de medidas de segurança.
Segundo Ana Cássia, seu filho de 16 anos, matriculado no terceiro ano de desenvolvimento de sistemas, pegou coronavírus na escola, junto a outros colegas. “Pelo o que ficamos sabendo foram 12 casos na sala dele. E também em outras salas dos cursos de mecatrônica, eletrônica e administração, tem professores doentes e afastados. Quem está de atestado está afastado, os professores continuam dando matéria. Mas na verdade, gostaríamos que a diretora fizesse uma higienização, uma boa limpeza na escola”, conta a moradora e relata que a diretoria da unidade informa que não possui funcionários suficientes para o serviço.
A mãe conta que soube dos casos na escola depois que o filho, vacinado com as duas doses contra a covid-19, começou a apresentar os primeiros sintomas da doença. “Foi na quinta-feira, no dia seguinte ele piorou, levamos ao médico e ele passou os remédios necessários e afastou. Depois que ele teve os sintomas soubemos que a escola está com muitos casos. A diretora simplesmente disse: vida que segue. Eu como mãe sinto medo pela saúde dos nossos filhos, dói ver um filho doente”, afirma Ana.
Em nota, o Centro Paula Souza informa que os estudantes e funcionários que testaram positivo para covid-19 na Etec Jorge Street, de São Caetano, estão afastados do cotidiano escolar até sua recuperação. “A direção da escola reforçou as recomendações do protocolo sanitário, como a proteção com máscara aos que quiserem continuar o uso, álcool em gel e medição de temperatura, assim como providenciou a higienização da unidade. As aulas ocorrem normalmente”, informa a nota.
A Prefeitura de São Caetano, por meio de nota, informa que a vigilância em saúde realiza o monitoramento dos casos de coronavírus na cidade, por meio de protocolo de medidas de segurança, elaborado em conjunto pelas secretarias de educação e saúde.
Outras cidades
Em um grupo no Facebook, que reúne moradores da região, pais e responsáveis relatam casos de covid-19 em outras unidades escolares do ABC. Uma moradora de São Bernardo, que preferiu não se identificar relata a preocupação com o número de casos na escola estadual Neusa Figueiredo Marçal, na Vila Assunção. “Consegui falar com a secretaria da escola e me informaram que há duas salas afastadas, porque há um aluno confirmado com covid e alguns professores estão com suspeita. Questionei se eles iam pedir uso de máscaras, mas eles dizem que não podem obrigar e que vão orientar os alunos sobre o uso, e se eu estiver insegura em enviar a minha filha a escola, devo conversar com a direção da unidade”, afirma a mãe.
A moradora relata que mesmo que a filha tenha tomado as duas doses da vacina, ainda teme pela doença. “Ela tem bronquite e faz uso de bombinha e eu faço uso de imunossupressores. Tenho receio e acho que não vou enviá-la para a escola amanhã. Vou conversar com a direção e entender a situação”, relata.
Em Diadema, outra mãe que também preferiu não se identificar, conta sobre a sensação de conviver com a doença. Na escola estadual Professora Antonieta Borges Alves, unidade em que a filha de 16 anos está matriculada no primeiro ano do ensino médio, a mãe recebeu a informação de que há quatro casos confirmados e a direção da escola orienta aos alunos o uso de máscara de proteção. “Estou tranquila. Confio em Deus e oriento a minha filha para que ela se proteja e use máscara, álcool em gel e lave as mãos frequentemente. Essa doença não vai acabar, então a gente tem que se cuidar”, afirma.
Um dos moradores relata na rede social a suspensão das aulas na Escola Estadual Pedro Cia, em Santo André. Segundo informações, a unidade suspendeu as atividades nesta quarta-feira (17), após a confirmação da doença entre alunos e professores. Um dos integrantes da página relatou a situação, nas redes sociais, e falou sobre a falta de cuidados entre os alunos, que resultou na contaminação. “Infelizmente, nós que estudamos lá vamos ‘arcar’ com a irresponsabilidade de outros alunos, já que o surto começou porque estavam compartilhando pirulito e um deles estava com covid, mas não sabia”, escreve a aluna, que reforça que muitos professores não descartaram o uso de máscaras e a escola mantinha os alertas sobre as medidas de segurança.
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) informa que as escolas da rede estadual, sob sua administração, seguem os protocolos sanitários, como higienização constante das mãos, higienização e ventilação dos ambientes, uso obrigatório da máscara no transporte escolar e opcional nos ambientes da escola, identificação e afastamento dos casos e monitoramento de seus contactantes. “Se houver caso de estudante ou professor suspeito (2 ou mais sintomas) ou confirmado para covid-19, este deve permanecer em isolamento por 7 dias. Se os sintomas persistirem, deve-se permanecer em isolamento até o 10º dia. Orienta-se também que na ocorrência de casos, estes sejam notificados à vigilância em saúde do município, que ao realizar orientações específicas, tais medidas são seguidas pela unidade de ensino”, informa a nota.
Em nota, a Prefeitura de Santo André informa que a vigilância em saúde monitora os surtos que ocorrem nas unidades escolares municipais semanalmente e recebe as notificações de surtos das escolas estaduais e privadas. As orientações seguem os protocolos sanitários estaduais referente às medidas de etiqueta respiratória, higiene das mãos e limpeza do ambiente. “Atualmente a vigilância acompanha um surto confirmado e dois em avaliação. Dois casos são em escolas estaduais e um escola privada. Diante desta situação são realizadas fiscalizações do cumprimento dos protocolos, investigação in loco e monitoramento epidemiológico dos dados municipais para intervenção oportuna”, continua a nota.
Após investigação epidemiológica são tomadas as medidas pertinentes ao caso desde o início dos sintomas, transmissibilidade e relação entre os casos. Se necessário, são suspensas as aulas presenciais, informa a administração.
O pneumologista Elie Fiss, professor titular da disciplina de pneumologia no Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), orienta que mesmo com a retomada das atividades presenciais e a liberação do uso de máscaras é importante que pais orientem as crianças a manter o uso de máscaras de proteção em locais fechados, como salas de aula. “No pátio ou locais mais amplos e ventilados, pode ter a liberação. Mas a máscara é um importante aliado na prevenção de diversas doenças como a covid-19 e a gripe, por exemplo”, explica Fiss.
A higienização das mãos com frequência, seja com água e sabão ou álcool em gel, também é medida importante para conter a disseminação do coronavírus. “Além de tudo isso, os pais devem lançar mão da maior arma, que é a vacina. Eles devem deixar os filhos com todas as doses atualizadas, tanto da vacina contra covid como a da gripe (influenza), que garante a proteção dos pequenos. A vacina é fundamental”, orienta.