
Os exames preventivos são essenciais para que as mulheres possam diagnosticar precocemente lesões ou alterações útero, como o papilomavírus humano (HPV) – maior causador do câncer de colo, e assim possam ampliar as possibilidades de cura. Acontece que, apesar da importância dos exames anuais, a pandemia da covid-19 afastou as mulheres dos consultórios e dos cuidados com a saúde, o que tem preocupado especialistas.
Levantamento realizado pelo RD aponta que em cinco cidades do ABC, o número de mulheres que buscaram atendimento clínico para realizar exames preventivos baixou 36%, caiu de 47,2 mil para 30,4 mil, se comparado os mesmos períodos de 2021 e 2022. Para se ter ideia, São Bernardo, que chegou a atender 30,4 mil mulheres no ano passado, contabilizou 10,1 mil atendimentos até o momento, e segundo a Prefeitura, não há demanda reprimida para realização de exames nas unidades de saúde.
Cenário parecido foi registrado em Santo André, onde 10 mil pessoas foram atendidas no primeiro semestre de 2021, e neste ano cerca de 9.900 pessoas realizaram o exame do Papanicolau. Em nota, a Prefeitura reconhece que a pandemia impactou diretamente a procura pelo exame, conforme decreto estadual, o qual orientava a redução significativa de consultas e exames eletivos, para diminuir o contato entre as pessoas. Apesar disso, a cidade informa que não há fila de espera para o procedimento.
Diadema, Ribeirão Pires e São Caetano apresentaram alta na procura pelos exames ginecológicos, entre 2021 e 2022. Ao todo, foram 6.853 procedimentos realizados no ano passado e 10.382 este ano, alta de 51,4%. A cidade com maior procura para consultas no período foi Diadema, que passou de 1.591 atendimentos para 3.081, alta de 1.490. Ribeirão Pires teve mais 1.309 atendimentos, de 1.762 para 3.071 e São Caetano de 3.500 para 4.230.
Em todas as cidades, os exames ginecológicos de imagem (mamografia e ultrassom) são agendados via processos regulatórios, com prioridade para os casos conforme diagnóstico por solicitação médica.
Mauá e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento da reportagem.
Impacto da pandemia
Para o ginecologista Raphael Leão, do Hospital e Maternidade Christóvão da Gama, em Santo André, as consequências do impacto da pandemia na forma como as mulheres lidam com a saúde são “ruins” e serão sentidas a longo prazo. “Sentimos que, por conta da pandemia, os consultórios deram uma ‘esvaziada’ significativa. As mulheres ficaram com medo e, de uns meses para cá, começaram a retomar as consultas de rotina, mas algumas com saldos negativos nesse atraso”, diz.
O médico explica que, por conta da pandemia, algumas mulheres voltaram a buscar especialistas muito tempo depois do que o recomendado. “A recomendação é que exames preventivos, como papanicolau ultrassonografia transvaginal e mamas, sejam feitos de forma anual, mas algumas mulheres chegaram a atrasar dois ou três anos para realizar os procedimentos, e com isso muitas acabaram com diagnóstico tardio de doenças, como câncer de colo de útero ou endometriose”, salienta.
Recomendação
Por isso, a recomendação do ginecologista para que os exames não deixem de ser realizados, medida que também é reforçada pelo obstetra e ginecologista Luis Henrique Firmino da Silva, do Hospital Assunção, da Rede D’Or São Luiz. “É fundamental que os exames de rotina estejam em dia, já que a prevenção é a melhor forma de evitar que as doenças se agravem, além de aumentar em muito as chances de cura de uma possível doença já instalada quando descoberto precocemente”, afirma.
Um exemplo apontado pelo ginecologista é o câncer de mama que, se descoberto precocemente, tem chance de 90 a 95% na taxa de cura, sendo a mamografia um exame com capacidade de detecção de tumores iniciais medindo milímetros. “Vale lembrar que a indicação do exame pode variar de acordo com a idade e história familiar”, recorda o médico.
Importante ressaltar que alguns exames, a exemplo da mamografia, são solicitados para mulheres com 40 anos ou mais, e caso haja histórico familiar de 1 grau (mãe/irmã), com a doença, é solicitado a partir de 35 anos. “Já o exame do papanicolau deve acontecer assim que a mulher tem a primeira relação sexual”, recomenda Raphael Leão.
Com a vacinação da população, a procura das pacientes para realizar exames de rotina se tornou mais nítida, conforme explicam os ginecologistas. Apesar disso, há mulheres com medo de acessar clínicas e hospitais. “É importante lembrar que esses locais são os mais seguros para consultas médicas e realização de tais exames, uma vez que, além da vacinação, ainda é pedido o uso de máscara nesses ambientes”, alerta Silva.