
Ao longo da infância, é comum os pais marcarem visitas regulares dos filhos em oftalmologistas, para checar se a visão das crianças está comprometida. Com o aumento do uso de telas, a necessidade de acompanhamento é mais evidente. Porém, no caminho oposto, raramente a visita ao otorrinolaringologista ou ao fonoaudiólogo entra na rotina. Com isso, deixa de lado outros aspectos da saúde, como a audição.
Porém, estudos relacionados à perda auditiva infantil apontam que esse cuidado deve ser mais recorrente na saúde das crianças. Segundo as estatísticas, 62 milhões de pessoas com menos de 15 anos têm perda auditiva permanente.
Maria Branco, fonoaudióloga, diz que existem diferentes causas para a perda da audição em crianças. Pode ser congênita, ter relação com a gestação ou hereditariedade, até mesmo pós-meningite bacteriana, e em decorrência de otites de repetição.
Maria recomenda fazer visitas periódicas a especialistas e solicitar exames adequados, como a audiometria. “Esse exame é indolor e não-invasivo e, por isso, um dos principais para começarmos a investigar a audição. Após uma primeira audiometria já conseguimos identificar se existe algum problema com a audição do paciente”, completa. Entenda por que a audiometria é fundamental para crianças:
Detecta possíveis perdas auditivas cedo
O exame é feito em uma cabine acústica. O paciente recebe instruções do fonoaudiólogo, que pede para levantar a mão ou apertar botão sempre que ouvir um som. O objetivo é buscar o menor som que o indivíduo consegue escutar em diversas frequências. Dessa forma consegue saber se a audição está dentro da faixa de normalidade ou fora.
Para as crianças, o processo deve ser diferente, pois nem sempre conseguem responder de forma adequada. Por isso, são utilizadas outras técnicas, como audiometria com reforço visual, em que o fonoaudiólogo promove sons e estímulos visuais e analisa as reações das crianças. Nesta faixa etária há outros exames que compõem uma avaliação mais objetiva, realizada por meio de exames eletrofisiológicos e que não independem de colaboração da criança, fundamentais para o diagnóstico adequado. O Peate (potenciais evocados auditivos de tronco encefálico e as Emissões Otoacústicas são exemplos de exames importantes nesta fase.
Ainda na maternidade, antes da alta hospitalar, o teste da orelhinha é realizado. É um exame rápido e indolor, importante para detectar problemas auditivos nos recém-nascidos. Desde de 2010 esta avaliação é obrigatória e gratuita nos hospitais e maternidades do Brasil. Se detectada uma falha, o bebê é encaminhado para outros exames que possibilitam o diagnóstico.
Com uma bateria de exames, é possível detectar a perda auditiva e, consequentemente, um possível tratamento e menos atraso no desenvolvimento da criança. “Quanto mais cedo a perda for detectada e a intervenção acontecer, melhor será o prognóstico para o desenvolvimento geral da criança. Ouvir bem nos primeiros anos de vida é fundamental para que a criança consiga se desenvolver”, diz.
Evita problemas comportamentais
Crianças tidas como distraídas podem, na verdade, estar com problemas auditivos, segundo a fonoaudióloga. A perda de audição pode dificultar que a criança compreenda mensagens simples, o que gera frustração e falta de concentração.
Alguns indicativos de que um médico deve ser procurado incluem falta de resposta quando a criança é chamada pelo nome, gritar ou falar muito alto e irritabilidade, não acordar com sons altos, baixo desenvolvimento escolar etc.
A audiometria pode investigar se esse comportamento está relacionado à perda auditiva, e ainda, contribuir para o entendimento da origem da deficiência.
Melhora o desempenho escolar
A perda auditiva também pode afetar o desempenho escolar das crianças. “Quando enfrentam problemas na escola ou começam a ter o desenvolvimento de fala ou de escrita comprometidos, a audição deve ser investigada, pois pode ser que detecte perda de algum grau. Mesmo que seja leve, pode provocar prejuízo no desenvolvimento escolar”, explica.
Impede transtornos de comunicação
A fala também é um indicativo de que a criança pode ter problemas auditivos. A partir dos sete meses, os bebês já devem apresentar os primeiros sinais de fala, imitando sons e tentando reproduzir palavras direcionadas a eles. A partir daí, até os seis anos, quando termina a primeira infância, a criança deve desenvolver sua habilidade de comunicação.
A perda auditiva pode interferir no desenvolvimento da linguagem, especialmente em crianças de até dois anos. A audiometria pode ajudar na detecção dessa perda, garante que o paciente conte com o tratamento adequado para desenvolver a fala.
Tipos de audiometria
A audiometria permite investigar o menor som que a pessoa escuta, portanto, mesmo que o paciente escute bem, mas não tenha a audição normal, é possível detectar. “Mesmo as perdas mínimas precisam de intervenção, portanto é necessário promover o estímulo para que essa criança não fique em privação auditiva”, afirma.
Existem dois tipos de audiometria: tonal e vocal. Entenda como funciona cada uma:
Tonal: identifica tons de diferentes frequências, começa por um mais forte e diminui, busca o menor som que o indivíduo escuta. Determina a audibilidade do paciente para diferentes frequências.
Vocal: investiga se o indivíduo consegue entender a fala ao usar uma lista de palavras que devem ser repetidas. Isso permite analisar a percepção de fala, que pode indicar comprometimento interno de recepção e percepção.