Conforme o RD já havia adiantado, a falta de realização de um exame pericial de sanidade mental na ré Anaflavia Meneses Gonçalves, acabou motivando o adiamento, pela quarta vez, do júri dos cinco acusados de matar e carbonizar a família Gonçalves, crime de grande repercussão que aconteceu no dia 27 de janeiro de 2020 na casa da família em Santo André. No episódio foram mortos Romuyuki Veras Gonçalves, de 43 anos, Flaviana Martins Meneses Gonçalves, de 40, e o filho mais novo do casal, Juan Victor Gonçalves, de 15. As vítimas foram torturadas, mortas e tiveram seus corpos queimados dentro do carro da família, um Jeep Compass que foi abandonado na Estrada do Montanhão, em São Bernardo. O júri foi redesignado para dia 6 de março de 2023, quando o crime já terá completado mais de três anos.
Segundo a denúncia do Ministério Público, Anaflavia e sua companheira Carina Ramos de Abreu, contaram com a ajuda dos primos de Carina, Juliano de Oliveira Ramos Júnior e Jonathan Fagundes Ramos e do amigo deles, Guilherme Ramos da Silva. Os cinco são acusados de triplo homicídio qualificado, roubo e ocultação de cadáver.
Desapontada com o adiamento, Vera Lucia Chagas Conceição, mãe da vítima Flaviana, disse que a sensação é de desamparo. Ela esteve em todas as sessões de júri marcadas e mais uma vez volta sem ter nenhuma sensação de alívio. Mesmo assim ela não desiste de buscar pela justiça. “Em março eu vou estar lá no fórum de novo, eu não vou descansar. Vou passar mais um Natal e mais um Ano Novo sem minha família, para mim as festas e as comemorações acabaram, só terei um pouco de alívio quando eles forem condenados”, disse a artesã que quer que a neta e Anaflavia Meneses Gonçalves, pegue pena máxima, juntamente com os outros quatro acusados pelo crime.
Mesmo dois anos e dez meses depois do crime o sentimento de revolta continua igual para Vera. Na chegada dos presos ao fórum ela se aproximou dos dois veículos e gritava “monstra” na expectativa de que a neta a ouvisse. Ela também chamou os demais de assassinos. Os cinco réus desembarcaram das vans da polícia penal somente no interior da garagem subterrânea do fórum. “Eu consegui ver os cinco, gritei, mas eles não demonstraram nenhuma emoção, todos de cabeça baixa, agora não são mais valentes”, disse Vera, que atendeu o RD no metrô, já no trajeto de volta para sua casa em Extrema (MG). “Mais uma viagem para São Paulo, perdida”, lamentou.

Para o advogado que representa a família, Epaminondas Gomes de Farias, a situação não é das melhores, mas vai garantir que o júri seja realizado sem qualquer questionamento. “É triste, mas dos males o menor, pois queremos que o júri tenha segurança, para que não haja qualquer nulidade que possa resultar em soltura dos presos”, explicou.
Segundo Farias, mesmo com a falta do atestado de sanidade mental de Anaflavia tentou-se um acordo entre os advogados para o julgamento dos demais, mas também a defesa de Carina, também apresentou um atestado de saúde alegando incapacidade de estar presente. Uma perita, também arrolada como testemunha apresentou atestado médico e a defesa de Jonathan e Juliano não abriu mão do seu depoimento.

Para o advogado Leonardo José Gomes, que defende Anaflavia e Guilherme, o adiamento já era previsto, por conta do exame médico que sequer foi feito. “Nem o juiz soube me informar se o Imesc (Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo), já está processando o pedido. Tem casos em que chega a demorar um ano esse exame, claro que não queremos esperar tudo isso”, disse o defensor que informou que vai fazer uma petição no processo para cobrar urgência na realização do exame. “Não somos nós (advogados de defesa) que estamos causando os adiamentos, é o Imesc que demora a fazer”, explica.
Alessandra Jirardi, defensora dos primos Jonathan e Juliano, disse ao RD que estava preparada para iniciar o júri nesta segunda-feira e ficou decepcionada e não aceitou que o julgamento fosse desmembrado. “O júri foi remarcado não só por pedido da defesa, mas da acusação também, pois o advogado da ré Carina pediu para adiar em virtude de atestado médico que foi juntado na calada da noite, nesta madrugada, não compareceu no julgamento; o exame de sanidade mental de Anaflavia ainda não foi concluído; testemunhas ausentes; a médica legista juntou um atestado esta semana dizendo que está afastada, e aí mais uma vez, infelizmente o adiamento. Eu vim preparada, acho ruim mas também não posso permitir que os meus constituintes sejam julgados separados dos demais. É uma causa complexa, que envolve cinco réus e a defesa entende que o julgamento de todos em conjunto é necessário, essencial para fazer justiça e para que o conselho de sentença decida de forma isonômica julgando todos juntos”, analisou.

“Na qualidade de advogada de defesa de Juliano e do Jonathan o adiamento, porque a gente também cansa. Toda vez que marca um plenário são dias e dias de preparação pois é um caso complexo, são milhares de página, a gente tem que rever todas a produção de provas, os laudos, as perícias técnicas, e eu fiquei uma semana inteira me debruçando nesse caso, me preparando para o julgamento”, disse Alessandra Jirardi. A defensora disse que durante a reunião entre o juiz, a promotoria e todos os advogados do caso foi cogitada a possibilidade de julgar apenas o réu Guilherme Ramos, mas por unanimidade essa possibilidade não foi aceita. “Não adianta querer julgar um sozinho hoje só para mostrar para a sociedade que está fazendo alguma coisa. Para um julgamento justo e adequado, todos devem ser julgados juntos”, concluiu.
Colaborou Leandro Amaral