
Levantamento feito pelo OSP (Observatório Social do Petróleo), com base nos números de julho divulgados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), mostra que aquele mês foi o pior dos últimos 11 anos em consumo de gás de cozinha. No acumulado dos primeiros sete meses do ano a queda da venda de botijões de 13kg de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) já chegava a 10,9% no país. Na região Sudeste, a queda foi maior, de 13,71%. O motivo, segundo o observatório, é o preço do produto e a redução da renda das famílias, sobretudo as que estão em maior vulnerabilidade, sendo que muitas delas desistiram do fogão à gás e partiram para o uso da lenha para cozinhar.
Para o economista do OSP e do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais), Eric Gil Dantas, para a parcela mais pobre da população o impacto da inflação dos alimentos é muito mais forte. “No meio deste ano o preço do botijão chegou ao patamar mais alto, perto de R$ 115 e isso, aliado à perda de renda, faz com que o consumo de gás de cozinha diminua e já há até dados que mostram o aumento do consumo de lenha”, analisa.
Para Dantas, nem o programa federal Auxílio Gás e o programa de doação de botijões feito pela Petrobras, conseguiram contornar o problema. “A doação e o auxílio que garantiu até julho um botijão a cada dois meses não resolveram, dado o tamanho do abismo do empobrecimento das famílias. Há seis anos o botijão custava a metade do preço. Desde 2019 o preço dos alimentos subiu 50% e o gás 40% então cozinhar ficou muito mais caro”, contabiliza. Segundo o economista não são apenas os que vivem com um salário mínimo que sofrem, até mesmo quem ganha hoje R$ 2 mil tem dificuldades. “Uma cesta básica de alimentos passa dos R$ 700, e as pessoas precisam custear as outras contas da casa, então o preço do gás deixou de ser apenas um problema dos mais pobres”.
Na média, segundo o OSP, o botijão de gás chegou a custar R$ 110. No ABC o botijão está custando em média de R$ 100 para retirada no depósito.
Se as ações governamentais não conseguem atingir a todos que precisam de ajuda para ter gás em casa, as instituições entraram também na rede de auxílio. A Cufa (Central Única das Favelas) de São Bernardo é uma delas, a entidade vai entregar no domingo (11/12) mais 250 botijões fruto de parceria com uma distribuidora. A entrega vai acontecer no Campo do Jardim das Orquídeas e com ela a central vai contabilizar a doação de três mil botijões somente esse ano na cidade.
Segundo Marcos Miranda, líder da Cufa na cidade, o custo do gás prejudica centenas de famílias e nas comunidades atendidas pela central, há muitas casas em que a lenha já substituiu o fogão à gás. “Muita gente não compra porque não tem o dinheiro. Hoje o botijão custa 10% de um salário mínimo então quem vive com essa renda não tem como comprar. Na favela tem lugar em que um botijão é compartilhado por duas ou até três famílias. E quem não tem mesmo recorre ao fogão à lenha e tem gente se queimando ao cozinhar com álcool também”.
Na região do Parque Imigrantes, a integrante da Cufa, Eula Moreira Alves, atende uma família que foi recentemente inscrita no programa de doação de botijões de gás porque, ao ficar sem condições financeiras passou a usar o fogão a lenha. “A dona Isabel e o marido passam por dificuldades, estão sem emprego, são idosos e ele tem problemas de saúde então nós inscrevemos a família. Eles já tinham um fogão à lenha, usado esporadicamente porque era meio que um costume deles, mas sempre tiveram o fogão à gás, só que na pandemia passaram a usar só a lenha porque não tinham outra opção”, explica. A família recebe um botijão a cada 50 dias, a dona Isabel está na terceira quota. Só nas áreas atendidas por Eula, que envolvem além do Parque Imigrantes as comunidades Zé do Buraco e Jardim Represa, 19 famílias são cadastradas para receber o gás através do programa da Cufa.