
As indústrias de móveis de São Bernardo, que já deram muita fama à cidade até o final dos anos 1990, lutam para fazer frente a outros polos em diferentes partes do País. Hoje a maioria dos móveis comercializados na rua Jurubatuba, que concentra as principais vitrines do setor, vem de fora. Apesar disso, a Prefeitura trabalha com o número de 59 indústrias do setor.
O número é da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) referente a 2021. Essas indústrias garantem emprego a 1.422 trabalhadores. A cidade tem também 197 lojas de móveis, que empregam 1.165 profissionais.
Para o presidente do Ciesp (Centro da Indústrias do Estado de São Paulo) regional de São Bernardo, Mauro Miaguti, há possibilidade de que a cidade invista neste setor com bons resultados, com a tradição e a posição que ainda tem no mercado. “Para isso é preciso inovar. Eu tenho batido muito na tecla de valorizar o patrimônio que nós temos, se reinventar. A minha proposta é trabalhar na transversal, investir na criação de um centro de design, que iria servir praticamente todos os segmentos, dessa forma podemos atrair empresas. O design está no carro, no móvel, no vidro de perfume, na embalagem e nas peças de publicidade”, comenta.
Protagonismo
Para Miaguti, o setor moveleiro tem recuperação e pode voltar a ter o mesmo protagonismo do passado. “É preciso uma política industrial mais agressiva; a isenção de impostos faz parte disso, mas não é o único fator, é preciso ter também uma mão de obra qualificada.
A indústria de móveis surgiu no ABC com a imigração italiana no século 19, com os primeiros profissionais habilitados a trabalhar com madeira. Se a região é considerada o berço do sindicalismo no País, e sempre há referência aos metalúrgicos, porém o primeiro sindicato de trabalhadores fundado na região foi o Sindicato dos Marceneiros, Carpinteiros e Classes Anexas de São Bernardo. Hoje o sindicato abrange uma fatia maior de trabalhadores, o Sintracom (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e do Mobiliário de São Bernardo e Diadema).
Para o presidente do Sintracom, Claudio Bernardo, o Claudinho, falta uma cooperação entre o poder público, as empresas, as universidades e os trabalhadores para a criação de processos inovadores de produção, que possam fazer o produto da cidade voltar a ser competitivo. Afirma que hoje o empresário prefere trazer os móveis de fora, muitos do que vende na Jurubatuba em de Ubá (MG) e de outros polos produtores do sul do País, mesmo com o custo da logística ainda chega aqui mais barato. “Então, é preciso, primeiramente, o poder público reduzir a carga de impostos e o sindicato patronal se organizar para modernizar a produção. É uma parceria tripartite que, se envolver também as universidades, pode elevar a qualificação profissional”, analisa.
Apesar do cenário, na opinião de Claudinho, as indústrias moveleiras não vão desaparecer de São Bernardo. “Eu avalio que o que tinha de ser fragilizado ao longo dos últimos anos já foi, a tendência das empresas que temos agora é continuar, sobretudo com a ajuda do poder público”, completa o sindicalista.
O RD não conseguiu contato com a direção do Simabc (Sindicato da Indústria Moveleira do ABC).