Os alunos do quarto semestre de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) realizaram, na disciplina de Mobilidade Urbana, um projeto baseado na real situação das ruas de Diadema. O estudo levou em consideração a integração de ciclofaixas com equipamentos públicos e com o sistema de transporte, além do espaço de circulação para os pedestres. O professor Luis Felipe Xavier, docente da disciplina, e o aluno do curso, Matheus Alvarenga Grotti, falaram ao RDTv desta terça-feira (20/12) sobre como foi a experiência e dos gargalos que encontraram.
Segundo o professor, o trabalho foi desenvolvido em cinco etapas, a primeira é o diagnóstico da área onde se levantou as ciclorrotas existentes – e se viu que é muito pequeno esse número em Diadema -, o transporte público e a localização de todos os equipamentos públicos. A partir desse mapeamento, perceberam que há várias lacunas, principalmente do lado norte da cidade que envolve os bairros de Eldorado e Inamar. “Fica uma fratura na cidade ocasionada pela Rodovia dos Imigrantes, então a gente percebe que é desproporcional a localização de políticas públicas e a mobilidade é um dos fatores que pode ajudar a corrigir essas distopias territoriais. Num segundo momento os alunos vão fazer um trabalho de estudo de casos nacionais e internacionais; no terceiro momento eles fazem uma proposição de unificar essa rota cicloviária, com o transporte público e os equipamentos públicos e na quarta etapa eles selecionam cinco trechos, cinco gargalos que encontraram”, explica Xavier sobre a estrutura do trabalho.
Cada grupo selecionou cinco trechos e fez um estudo aprofundado dos problemas. “Todos os grupos levantaram coisas interessantes para a gente fazer uma proposição e depois o objetivo final é fazer uma rua completa dentro de uma hierarquia de mobilidade onde o pedestre vem em primeiro lugar, depois o ciclista, transporte público, carga e o transporte individual vai estar lá na ponta. Tudo vislumbrando uma acessibilidade universal para a cidade”, diz Xavier.

Mateus Grotti falou sobre a visita que foi feita no bairro de Eldorado pelo seu grupo, ocasião em que foram feitas fotos no local. “O bairro tem calçada acessível, mas temos trechos em que a calçada se estreita a ponto de uma pessoa não conseguir andar por ela, tem menos de um metro e meio de passagem. As árvores não são tão bem distribuídas, há uma falta de verde na cidade, ainda mais no trecho perto da represa. Quanto à ciclofaixa a gente vê que só um bairro da cidade é provido enquanto que os demais bairros, que utilizam muito esse meio de transporte, não têm”, diz o estudante.
Grotti destacou ainda que o parque do bairro, o Parque Fernando Ramos da Silva, também conhecido como Parque Ecológico, não é servido por ciclovias ou ciclofaixas. Neste sentido o projeto desenvolvido pelos estudantes prevê uma ciclofaixa próxima à calçada e também uma faixa exclusiva para ônibus.
Segundo Xavier, que orientou todo o trabalho, a proposta visa compensar a faixa de rolamento retirada com outras opções de tráfego em ruas adjacentes. ”A gente trabalha com todos os modais, mas para privilegiar o pedestre, assim como o plano de mobilidade pressupõe. Aí tem uma grita, como aconteceu em São Paulo, de que em rua de comércio não poderia ter ciclovia, mas quando você diminui a velocidade das pessoas para passar na rua, o fluxo, o convívio e o acesso fica mais dinâmico e universal. Há dados estatísticos que mostram que quanto maior a quantidade de ciclovias, maior é o consumo no comércio. É uma mudança de cultura. Quando a gente liga os espaços da periferia aos de esporte, lazer e cultura, as pessoas da periferia chegam mais rápido no Centro e quem está no Centro vai conviver com outros territórios que desconhecia. Então você tem uma mistura de classes que reduz o estranhamento social. Quando a gente cria essas opções de deslocamento, a gente está falando de um tempo de vida do trabalhador que não está sendo sequestrado. Que ele pode investir em cultura, educação ou ficar com a família”, analisa o urbanista.
Tanto para o professor como para os alunos envolvidos, o projeto mudou a percepção sobre o território estudado. “É uma oportunidade de conhecer. Eu trabalhei em Diadema, então conheço bem, mas muitos colegas não, então eles puderam ter uma interação com uma cidade do ABC que eles não conheciam. Puderam ver que a realidade de uma cidade vizinha é muito parecida com a nossa e isso foi muito interessante e enriquecedor. Isso agrega muito para quem quer seguir a parte de urbanismo ou trabalhar com serviços públicos. Se começa a ter uma noção de como elaborar um projeto para uma cidade.
O estudo realizado em uma cidade muito adensada e que cresceu desordenadamente visou respeitar as vias que já existem, sem desapropriações. O trabalho apontou muitas dificuldades também. “A pessoa tem que atravessar a rua porque não tem como passar, é uma má utilização do espaço urbano. Às vezes tem um carro estacionado, tem uma banca, então você joga a pessoa na rua para ela ser atropelada. Há uma inversão de valores que as pessoas não percebem. Fica um local inóspito porque não é convidativo para as pessoas. O que fica para os alunos que participaram dessa ação é enxergar a política pública também como excelente opção de trabalho, seja na área privada ou no serviço público, para cuidar do próximo vislumbrando uma cidade mais igual”, completa o professor.