
A Medical Health está em processo de demissões em massa e alega não ter dinheiro para pagar as rescisões trabalhistas. Quem já teve audiência foi surpreendido com a informação de que a empresa não tem como saldar as dívidas com os trabalhadores. O RD conversou com alguns demitidos nos últimos dois meses e disseram que não receberam sequer o décimo terceiro salário, em dezembro.
A situação se agravou no final do ano passado quando a Prefeitura de São Caetano decidiu trocar o plano de saúde dos servidores diante da enxurrada de problemas de atendimento por parte da Medical Health, que assumiu a saúde do funcionalismo local em 2020. Um ano depois já tinha sido multada em mais de R$ 2 milhões por descumprimento do contrato.
Em 2022, os problemas continuaram e a Prefeitura de São Caetano já afirmava que o contrato não seria renovado. A empresa foi substituída em dezembro último pela NotreDame Intermédica. A Prefeitura de Mauá também decidiu tirar a carteira de clientes dos seus servidores municipais da Medical.
“A situação está insustentável. Quem já teve audiência recebeu a resposta de que eles não têm dinheiro para pagar e fica por isso mesmo”, disse uma ex-funcionária, que preferiu não ser identificada. A ex-funcionária foi demitida depois de um ano e meio de trabalho e também não recebeu o 13° salário. “Em casa as contas estão atrasadas, estou usando o limite do cheque especial, tento me equilibrar, porque não recebi nada”, lamenta.
A técnica de farmácia, que pediu anonimato, trabalhou nove meses no ambulatório da Medical Health, em Mauá e foi demitida sem receber a rescisão e o 13° salário proporcional. A audiência está marcada para 6 de março. “Dá um sentimento de revolta, é um direito nosso e eles não querem pagar. Fui na Caixa e descobri que eles só depositaram o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) de um mês apenas, então não tinha nada para sacar. Eles não pagavam os laboratórios, que ficavam fechados, não pagavam os médicos. Tudo atrasado”, comenta.
Um funcionário da área de atendimento ao cliente, que atuava na sede da empresa em Santo André, disse que quando foi demitido no final de outubro do ano passado, já recebeu a sentença. “A própria funcionária do RH me disse que eu deveria entrar com um processo contra a empresa porque eles não pagariam nada. Recebi apenas os dias trabalhados, não recebi o 13°. Eles já orientam a procurar a justiça, pois isso é uma estratégia para ganharem tempo”, contou o funcionário que pediu para que seu nome não fosse divulgado.
Depois de um ano e três meses no batente como controlador de acesso, em diversos endereços da Medical Health em Mauá, São Caetano e Santo André, José (nome fictício) foi demitido no fim do ano passado. “Eu via tudo, principalmente os velhinhos que chegavam lá e ficavam sem suporte nenhum mesmo pagando caro pelo convênio. Um dia chegou um dos donos de um hospital, que veio para receber e o pessoal administrativo enrolando dizendo que não estavam. Era muito descaso com os próprios conveniados”, relata o ex-funcionário.
José sentiu na pele o descaso. Pai de um menino em tratamento de câncer, teve de recorrer ao SUS porque a Medical Health não cuidava do caso. “Fui demitido e, além disso, perdi o convênio que já não dava suporte para os conveniados. Tivemos muita dificuldade em realizar exames, consultas, cirurgias e internações, já que a Medical não pagava os hospitais, eles também não faziam os trabalhos. Meu filho chegou a ficar dois dias no corredor do hospital Santa Izildinha, em São Mateus. Foi a Medical que levou ele para lá. Tive de correr atrás e consegui interná-lo no Hospital Mário Covas (Santo André), onde ele recebe amparo digno. A Medical prejudicou muita gente; agem de má fé e não respeitam as vidas”, diz o pai, que ainda não tem audiência na Justiça do Trabalho para tratar da rescisão.
O SindSaúdeABC (Sindicato dos Empregados dos Estabelecimentos Privados de Saúde do ABC) considera a situação muito grave e faz um apelo para que os trabalhadores procurem a entidade. “Até o momento o sindicato não havia recebido denúncia de trabalhadores e por isso está verificando agora a situação junto à empresa. Assim que tivermos retorno informaremos”, resumiu o presidente da entidade Almir Mizito.
A Medical Health não se pronunciou sobre o assunto.