
Sob risco de novas tragédias em decorrência das fortes chuvas, Mauá decreta, nesta quarta-feira (22/2), estado de emergência devido à possibilidade de deslizamentos em áreas de risco. O alerta ocorre um dia após a morte de uma mulher devido a desmoronamento no Jardim Zaíra. Em 2011, cinco pessoas perderam a vida no Morro do Macuco, na mesma região, enquanto aproximadamente 500 moradores ficaram desabrigados.
Mauá está em alerta após duas ocorrências na noite desta terça-feira (21), com a morte de uma moradora, entre 50 e 60 anos, na rua Júlio Antônio Conde. A vítima chegou sem vida ao Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, ao mesmo tempo que o marido foi liberado ao recusar atendimento. Também pelo Zaíra, outra casa desabou e um homem, de 43 anos, foi resgatado e recebeu alta ao meio-dia desta quarta-feira.
Após os deslizamentos, o prefeito Marcelo Oliveira (PT) recebeu na mesma noite o telefonema do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que assegurou uma vez Mauá decretando a situação de emergência, o Estado daria todo o suporte ao governo municipal. Em seguida, o chefe do Executivo atendeu ao ministro de Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, que também lhe garantiu auxílio da União.
Para que Mauá receba ajuda, é preciso decretar estado de emergência e em seguida ter a situação homologada pelos governos estadual e federal. Dessa forma, o município fica apto a contar com recursos financeiros do Estado e da União de forma facilitada, o que já ocorre em cidades do litoral norte, como Bertioga, Ilhabela, Caraguatatuba e São Sebastião, além do Guarujá (litoral sul). Outros municípios pelo interior paulista estão em situações similares.
A Prefeitura de Mauá ainda calcula o número exato de famílias em situação de risco pela cidade, porém, já tem olhares mais focados pelo Jardim Zaíra e Jardim Cerqueira Leite. O pesadelo por novos deslizamentos assombra os moradores a cada verão, que coincide com os períodos de fortes chuvas. O município apresenta, historicamente, expansão urbana intensa e desordenada em áreas de vegetação e íngremes.
Por meio de nota, o governo municipal informa que, até momento, já choveu 140% a mais do que o previsto, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e pela Defesa Civil do Estado de São Paulo. O esperado para fevereiro era 284mm, porém, até agora, o índice de precipitação pluviométrico chegou a 685mm.
A administração municipal também visa acelerar o processo de implantação de sirenes para alerta de chuvas em áreas de risco. Simultaneamente a isso, o Paço encaminhará, até esta quinta-feira (23/2), em caráter de urgência à Câmara dos Vereadores, o projeto de lei que aumenta o valor do auxílio emergencial financeiro para pessoas afetadas por desastres naturais. O benefício está fixado em R$ 300 e terá reajuste para R$ 500.
Falta de sono que se repete e obras paradas
Palco de uma das maiores tragédias com deslizamentos no ABC, a região do Jardim Zaíra vê o medo que vem do céu se repetir mais uma vez. Em janeiro de 2011, na gestão do ex-prefeito Oswaldo Dias (PT), famílias do Macuco foram obrigadas a conviver com as mortes de cinco pessoas e centenas de desabrigados. Já em 2002, mãe e filha perderam a vida na mesma localidade, também por deslizamentos.
O agravante do cenário é os constantes atrasos das obras de urbanização do Macuco, que serviriam para prevenir desastres. Segundo o “Painel de Obras Paralisadas” do TCU (Tribunal de Contas da União), o convênio assinado em 2013, ainda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT, 2011-2016), não saiu do papel. Dos R$ 79 milhões assinalados pela União via PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), apenas R$ 1,7 milhão foi aplicado, o que corresponde a 2,14% do montante.
Tragédia no litoral norte chega a 48 mortos
Até o fechamento desta matéria, o número de mortos após intensas chuvas pelo litoral norte chegou a 48 vítimas, dado que deve aumentar em decorrência das pessoas que ainda se encontram desaparecidas e soterradas. São 47 corpos encontrados em São Sebastião e um em Ubatuba. As equipes de resgate seguem pelas buscas por aproximadamente 40 pessoas ainda não localizadas após fortes deslizamentos.
Confira o conteúdo completo do decreto: