
Sepulturas escondidas no meio do mato, com lajes desabando; esses foram os apontamentos de pessoas que frequentam o cemitério Nossa Senhora do Carmo, também conhecido como Curuçá, no Parque das Nações, em Santo André. A prefeitura pretende terceirizar o serviço funerário, mas enquanto isso não acontece a administração garante que há serviços de manutenção. Outro alvo de reclamações é o cemitério de Ribeirão Pires, o único da cidade, onde há relato grave de crimes ocorrendo em seu interior, como o furto das placas de bronze dos jazigos.
Kátia Pacheco vai pelo menos uma vez ao mês ao cemitério Curuçá. Ela vai visitar o jazigo onde foi sepultado seu filho falecido há três anos. Ela conta que o cemitério sempre foi muito mal conservado e nada melhorou nos últimos anos. “A palavra é abandono, a gente tem que levar uma tesoura toda vez que vai lá para cortar o mato. A gente quer colocar flores, mas não dá de tão alto que o mato fica. Falamos com funcionários e eles dizem que não tem pessoal para cortar o mato. Além disso tem sepulturas abertas, com buracos. Os únicos funcionários que a gente vê por lá são os coveiros, quando tem algum sepultamento e só, mais ninguém”, reclama.
Kátia diz que, apesar do cemitério ser público, as famílias que tem ali enterrados seus entes queridos pagam taxas para tudo que precisarem. “A gente paga pela exumação, paga pela caixinha (para por os restos mortais após a exumação), a gente paga para por uma plaquinha que no meu caso foi de azulejo e é um absurdo de cara. Então não é de graça, é tudo pago e a gente vai lá para visitar a sepultura e não tem um mínimo de conforto, além da dor e da saudade a gente ainda tem que cortar o mato. Fora isso tem muita barata e até escorpião”, diz.
Privatização
Ao ser indagada sobre a manutenção do cemitério Curuçá, a prefeitura relatou que pretende privatizar o serviço funerário e que, enquanto isso não acontece há equipes para a manutenção. “A Prefeitura de Santo André destaca inicialmente que enviou para análise dos vereadores projeto de lei que permite a concessão do serviço funerário à iniciativa privada. O objetivo é garantir que o serviço tenha mais qualidade e seja completamente modernizado. A concessão garantirá a realização de investimentos, visando a melhoria dos serviços e o atendimento à população. Entre os benefícios previstos estão a requalificação, reforma e modernização dos cemitérios e a viabilização de um crematório público em Santo André”, diz o paço andreense.
Especificamente em relação ao Cemitério do Curuçá, a prefeitura informa que há manutenção. “O serviço de limpeza das áreas administrativas (velório e administração) é feito atualmente por funcionários do Serviço Funerário Municipal de Santo André (SFMSA) e a varrição do restante do cemitério (área aberta/livre) é executada pelo serviço de Frente Social de Trabalho. Ambos os locais são limpos diariamente pelos funcionários escalados no dia, e o serviço de roçagem é feito pelo setor de manutenção. Todos os trabalhos de limpeza e manutenção deste cemitério e dos outros três administrados pelo município estão em dia, conforme a programação. O cemitério Curuçá possui 22.579 jazigos temporários e 3.287 jazigos perpétuos”.
A prefeitura diz ainda que há obras previstas como a reforma dos telhados do prédio do velório e administração do Cemitério do Curuçá, com previsão de execução para o segundo semestre de 2023.
Furtos
A situação da Valéria Soares é ainda pior. O jazigo da família no Cemitério de Ribeirão Pires é particular e ela visita o local com regularidade. Além da falta de conservação, ela reclama da falta de segurança no local. As placas de bronze com os nomes das pessoas enterradas são frequentemente furtadas por criminosos. Sua família foi mais uma vítima. “Tenho vários familiares lá, entre eles minha mãe. No último sábado, fomos lá. Eu já vinha me deparando com total abandono, mas não tinha visto que estava dessa forma. A gente não vê equipes lá, é totalmente abandonado, a gente não vê nenhuma manutenção. As manutenções são feitas por particulares. O pior é a falta de segurança. Os funcionários me contaram que pessoas param uma Kombi do lado de fora, pulam o muro e roubam, então não tem segurança nenhuma. O prejuízo é só do cidadão. Agora vou ter que repor tudo que estava lá”, critica.
Valéria disse que quer fazer uma denúncia ao Ministério Público sobre o abandono do local onde seus familiares estão sepultados. “Nada ali é de graça, pagamos uma mensalidade, cobra para velar, para abrir túmulo, paga para velar, e os impostos são pagos para isso”, completa.
A prefeitura de Ribeirão Pires não se pronunciou sobre a situação do cemitério da cidade até o fechamento desta reportagem.