
O ensino médio é um dos principais pilares da educação no Brasil e tem como objetivo formar cidadãos críticos, reflexivos e capazes de lidar com as complexidades da vida em sociedade. No entanto, dados preocupantes apontam para uma realidade desafiadora no ABC: apesar do crescimento populacional, o número de alunos com acesso a essa etapa do ensino tem se mantido praticamente o mesmo nos últimos 20 anos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as sete cidades do ABC paulista contam atualmente com cerca de 2,7 milhões de habitantes. No entanto, o número de alunos matriculados no ensino médio na região caiu de 120.740 mil matrículas em 2015 para 100.920 em 2021. Para análise, foram considerados os municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, sem considerar alunos provenientes do ensino técnico integrado.
Porém, quando analisamos os números do Brasil, apenas 1,9 milhão dos 8 milhões de alunos com acesso ao EM em todo o País concluíram a formação. Ou seja, como o INEP não disponibiliza o número de concluintes do ensino médio por região, não há como fixar o número exato, mas certamente é bem inferior ao volume de matriculados.
Esses números apontam para dois problemas principais: a dificuldade que boa parte da população tem para concluir o EM e a evasão escolar. A falta de um diploma do ensino médio pode restringir significativamente as oportunidades e perspectivas das pessoas no futuro próximo, pensando em um mercado cada vez mais exigente em termos de qualificação profissional. Por outro lado, a evasão escolar pode estar relacionada à dificuldade que muitos enfrentam em acessar e concluir o EM, seja por terem de trabalhar para sustentar a família ou por outras razões relacionadas à sobrevivência.
Políticas públicas de qualificação
Esses desafios são ainda mais preocupantes se pensarmos no potencial intelectual e de pesquisa do ABC, que conta com importantes universidades e um parque industrial ávido por profissionais capacitados. Para enfrentar esses desafios, é necessário investir em políticas públicas que promovam a democratização do acesso ao ensino médio, reduzam a evasão escolar e incentivem a formação de profissionais qualificados para atender às demandas do mercado.
A discussão do novo ensino médio é ponto importante para reverter esse cenário, porém essa discussão precisa ouvir quem de fato está vivenciando os desafios do ensino público, que é o mais impactado por esses desafios, e também representantes do ensino privado. Além disso, é preciso investir na formação de professores e na melhoria da infraestrutura das escolas, garantindo condições adequadas para o aprendizado dos alunos.
Outra medida importante é a criação de programas de bolsas de estudo e incentivos para jovens que precisam conciliar estudo e trabalho, garantindo que possam concluir o ensino médio e se capacitar para o mercado de trabalho.
É fundamental reconhecer os desafios que o EM apresenta no ABC e investir em políticas públicas que possam garantir o acesso e a conclusão da formação escolar. Somente assim será possível promover a formação de cidadãos capazes de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo e contribuir para o desenvolvimento social e econômico da região.
Marcio Oliverio, reitor da Universidade Metodista de São Paulo