
A Clínica Play Odonto, em São Bernardo, tem sido apontada de enganar consumidores, especialmente idosos, que acessam o serviço. De acordo com os denunciantes, no momento da avaliação gratuita, são oferecidos procedimentos desnecessários. Essa não é a primeira clínica que enfrenta problemas como este na região. Em outubro do ano passado, uma quadrilha também foi investigada por aplicar o “golpe do dentista”, confira aqui.
Ao RD, uma das vítimas comenta que após a avaliação, em geral, os pacientes são encaminhados para o balcão de atendimento, onde são solicitados documentos pessoais e assinatura de documento que mais parece uma ficha de atendimento. “Acontece que muitos não percebem que essa ficha, na verdade, é um contrato que autoriza procedimentos e financiamentos em nome do paciente”, comenta uma mulher que prefere não se identificar.
A reclamante, que é nora de um paciente de 76 anos, comenta que, principalmente, os idosos se tornam alvo da clínica. “No documento que meu sogro assinou constava um tratamento no valor de R$ 5 mil e um financiamento de 12x de R$ 641, o que totalizava R$ 7.550, mas ele sequer sabia que tinha assinado para isso”, comenta ao citar que, já no outro dia, buscou a clínica para resolver a questão. “E ainda fui mal atendida por funcionários que se recusaram cancelar o contrato”, afirma.
Segundo a denunciante, o documento assinado pelos pacientes sequer contam algum tipo de carimbo ou número do CRO (Conselho Regional de Odontologia) do profissional que atende a população. “Achei estranho principalmente por conta disso. Como que assinam um documento sem dados do profissional?”, questiona.
Em outro caso, uma jovem que também prefere se manter no anonimato, comenta que o pai, de 75 anos, com problemas na visão, também foi induzido, sem mencionar ao paciente sobre o financiamento, a assinar um documento de parcelamento de uma prótese dentária, no valor de R$ 4.269, com opção de parcelamento em até 10 vezes. A filha registrou um boletim de ocorrência contra a clínica e efetuou denúncia no Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).
Ainda no mesmo dia, a jovem retornou ao local para cancelar o contrato, mas diz ter sido ameaçada pelos seguranças. “Fiquei duas horas sentada tentando cancelar o financiamento, eles tentaram me por para fora, então fiz uma chamada de vídeo com meu marido, que é da GCM (Guarda Civil Municipal). Quando tentei sair da clínica, eles me cercaram, me impedindo de sair do local e só consegui sair porque comecei a gritar”, relata. A reclamante conta, ainda, que há duas semanas o estabelecimento foi fechado, mas que depois foi reaberto para consultas.
O que diz a lei?
Carlos Eduardo Pereira, advogado do escritório BMDP Advogados, em Santo André, explica que em caso de golpe financeiro, o consumidor deve registar um boletim de ocorrência e comprovar o contrato assinado pela empresa. “É obrigação da empresa informar ao cliente tudo que está no documento para o cliente, caso contrário, o consumidor deve buscar seus direitos”, expõe o advogado.
Em caso de comprovação de movimentações financeiras em conta corrente, a empresa pode responder por crime de estelionato, pelo artigo 171, do Código Penal. No caso de crime contra idosos (acima de 60 anos), a pena será dobrada, conforme o 4° parágrafo do artigo 171. A partir da condenação do crime, com a comprovação, Carlos Eduardo explica que o cliente lesado pode entrar com ação civil para ressarcimento do valor. Os atores do crime podem sofrer a pena de um a quatro anos de prisão.
O RD entrou em contato com a Clínica Play Odonto e a Brasil Card sobre as acusações, mas não houve resposta até o fechamento da reportagem.