Que a pandemia afetou a economia, todos sabem, mas para aqueles que já viviam em situação de extrema pobreza, o cenário piorou ainda mais. Para avaliar os impactos, especialmente nas comunidades, o Centro de Estudo de Saúde Coletiva (Cesco), ligado a Faculdade de Medicina ABC (FMABC), iniciou grande estudo no Morro da Kibon, em Santo André, e na última semana, foram divulgados os resultados parciais da pesquisa.
Em entrevista ao RDtv, o coordenador científico do projeto denominado como “Covid na Favela”, Eduardo Magalhães Rodrigues, que é também pesquisador do Cesco, comenta que das dez pesquisas que serão feitas ao longo de dois anos, essa foi a primeira a apresentar resultados. A resposta do estudo mostra que a maioria das pessoas pardas e pretas entrevistadas afirmam que a qualidade de vida piorou com a pandemia.
“Além disso, mais de 58% dos entrevistados, independente da raça, afirmam que houve piora na qualidade de suas vidas. Também foi analisado que 83,3% das pessoas pretas entrevistadas sofreram mais com a pandemia por viver nas favelas, 50% dos pardos afirmam a mesma coisa, assim como 50% dos brancos”, comenta o pesquisador.

A pesquisa focou, ainda, nos problemas enfrentados pela população das favelas durante a pandemia, como a dificuldade de realizar o distanciamento social. “75% dessas pessoas não conseguiram fazer distanciamento social mesmo dentro das residências, isto porque 66,7% das moradias têm mais de cinco pessoas vivendo nelas e, entre essa porcentagem, mais de 9% possuem mais de 10 pessoas morando na mesma casa”, expõe.
Em relação a vacinação contra a covid-19, apenas 16,7% dos entrevistados receberam as cinco doses do imunizante. “70% das pessoas que entraram na pesquisa receberam entre duas e três doses da vacina, e isso indica que as autoridades deveriam realizar uma política específica de imunização para que esta população que vive em favelas fosse imunizada com todas as doses” destaca.
Outro resultado significativo sobre a covid é que o principal meio de comunicação utilizado por aqueles que vivem nas favelas para receberem informações sobre a covid é a televisão, mas o WhatsApp também é utilizado. “É preocupante que as informações recebidas não fossem recebidas diretamente de um profissional da saúde. É ainda mais preocupante que uma rede social, como o WhatsApp, seja utilizado como fonte de notícias e, por isso, muitas notícias falsas foram propagadas”, diz.
Agenda 2030
Com o título ‘A Pandemia e o Pós-Pandemia da Covid-19 no alcance da Agenda 2030 em populações vulneráveis moradoras de núcleos de favela’, a pesquisa tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, governo federal.
“Além do Cesco/FMABC, fazem parte da iniciativa a Secretaria de Saúde de Santo André, a Universidade Federal do ABC, a Universidade de Linköping da Suécia, a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, a Fundação Getúlio Vargas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Organização Não-Governamental “Coletivo Nasa”, de Santo André”, explica.
O projeto ainda prevê a criação de uma comissão municipal das ODS’s (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) no município, além da produção de publicações como cartilhas e livros que traduzem os resultados científicos. Também serão oferecidas formações para profissionais da saúde de Santo André que atuam com atenção básica, saúde da família e agentes comunitários.