
Em junho, por ocasião do Dia dos Namorados, o RD relatou o drama de Luciano Camargo Silva, que queria passar a data na companhia da esposa em um dos motéis da região e acabou frustrado por não conseguir um estabelecimento com acessibilidade. Após um acidente, Silva ficou paraplégico e usa cadeira de rodas. O consumidor até encontrou um motel acessível, mas a suíte estava ocupada e ele acabou desistindo dos motéis e optou por um hotel. Desde a reportagem o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do ABC) se mobilizou para fazer um diagnóstico do segmento para buscar soluções para o problema.
O sindicato fez um alerta para a necessidade de cumprimento da lei federal 13.146/2015, a Lei da Acessibilidade, que diz que todos os estabelecimentos de uso público e coletivo devem ser acessíveis. O presidente do sindicato, Beto Moreira, esteve com o arquiteto e design de interiores Leonardo Santos, que se especializou nesta área. Para Moreira, é importante que os motéis atendam ao critério para que mais pessoas possam desfrutar de todas as comodidades oferecidas, independente da sua condição física. “E os empresários, inclusive, devem ampliar a oferta de suítes para atender esse público. As adequações são necessárias e exigem viabilidade técnica”, aponta.
Santos é um dos 14 autores do livro Acessibilidade, lançado em novembro último, e que trata deste tema. O arquiteto é morador de São Bernardo e acredita que, juntamente com o Sehal e com os poderes públicos, sejam realizados debates e seminários sobre o tema e que isso possa fazer do ABC um exemplo para outras regiões quanto à acessibilidade. “A primeira questão é a pedagógica, que é fazer o conceito da acessibilidade ser mais difundido. Muitas vezes o empresário constrói ou reforma usando um material caríssimo de acabamento, mas não destina nada para a acessibilidade, então podemos fazer esse meio de campo entre a norma e a adaptação”, aponta.
Além da lei federal, o decreto 9296, de 2018, dita normas para os estabelecimentos de hospedagem, sejam hotéis ou motéis. A regra diz que 5% das suítes devem atender às normas técnicas, que abrangem rampas, elevadores, largura de corredores e portas, instalação de barras de apoio, entre outros itens. Outros 5% devem ser de suítes consideras de desenho universal que também oferecem alguns destes itens. Os estabelecimentos são cobrados quando pedem a renovação dos alvarás.
A proprietária do motel Ilha de Capri, Carla Zaponi, diz que é favorável ao investimento necessário para tornar o estabelecimento acessível. O Ilha tem uma suíte que é exclusiva para portadores de deficiência. “A acessibilidade apareceu quando tivemos que fazer a renovação do alvará e disseram que tínhamos que ter uma suíte adaptada só para esse público, foi um desafio porque todos os quartos têm escada, não apenas para acessar a suíte, mas entre os ambientes também, então fizemos rampas e adaptamos a entrada, tiramos a hidro e deixamos o quarto especialmente para esse público”, diz a empresária.
O Ilha de Capri é um dos motéis mais tradicionais de São Bernardo e fica na região do Riacho Grande. São 54 suítes. O endereço é Estrada Martin Afonso de Souza, 149 – Vila Balneária- telefone: 4354-0144. A suíte acessível do Ilha de Capri já tem mais de quatro anos de funcionamento. Carla diz que o quarto não é muito procurado, mesmo assim ela destaca a importância de oferecer essa comodidade para o cliente. “Todos têm direito a ter acesso, a vida fez essas pessoas muito independentes e eles têm que ter o direito de acessar o motel sem precisar de ajuda. Mesmo assim nosso pessoal é treinado para ajudar no acesso”, diz a empresária, que também é dona do Aloha, outro motel no Riacho Grande que também tem uma suíte acessível. “Temos piscinas em todos os quartos e tivemos que tirar em um deles para as obras de acessibilidade que realizamos esse ano”, completa Carla Zaponi.
Nilson Aparecido Bianchi que dirige a parte financeira do Ramsés II, em São Bernardo, diz que foi um desafio adaptar um elevador para dar acesso a uma das suítes. “O custo é muito elevado e não tem profissional disponível no mercado, tivemos que procurar muito para encontrar uma alternativa para cumprir as exigências. Não é só colocar um elevador, que por si só já é caro, tem que fazer uma série de adaptações, principalmente no banheiro”, explica. “Para o proprietário – Diego Moreno Bianchi – isso não é uma opção, é uma obrigação nossa atender a todos os públicos. A proposta surgiu quando recebemos um cliente que é cadeirante e ele costuma fazer essas visitas nos estabelecimentos e verificar a acessibilidade. Ficamos constrangidos e resolvemos fazer, e o resultado foi brilhante, nossa suíte ficou muito boa”, diz o diretor financeiro.
O Ramsés faz reservas para essa suíte, que não fica dedicada somente para deficientes. Bianchi conta que é possível que outras suítes passem também a oferecer acessibilidade no Ramsés, possibilidade que vai sendo estudada conforme reformas forem necessárias. As reservas podem ser feitas pelo telefone 4391-4691. O motel fica na av. Lauro Gomes, 911 – Rudge Ramos.
Os empresários apontam o alto custo para as adequações e a dificuldade de encontrar profissionais especializados neste tipo de intervenção. Para o arquiteto Leonardo Santos, esses apontamentos são uma realidade. “Somos muitos arquitetos, mas pouquíssimos especializados em acessibilidade. Por isso essa aproximação com o Sehal pode ajudar a fazer essa ponte entre empresários e os profissionais. Já sobre o custo ele pode ser minimizado com linhas de crédito específicas para acessibilidade, inclusive com verba do governo. Os bancos oferecem diferentes modalidades de financiamento para essas obras”, orienta.
Para o arquiteto só com o envolvimento do setores privados e públicos, juntamente com sindicatos e o braço financeiro das linhas de crédito, será possível levar a acessibilidade a todos os estabelecimentos e locais públicos. “A iniciativa privada já sente essa necessidade e esse é um assunto de vanguarda. No passado os portadores de deficiência ficavam em casa, mas nos últimos anos, com a melhora da acessibilidade eles começaram a parecer e é preciso um trabalho feito a várias mãos para garantir acesso pleno deles a todos os espaços”, completa.