O último dia 13 de julho marcou o Dia Mundial do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que acomete uma parcela estimada entre 5% e 8% da população mundial. Dados de 2022 atribuídos à Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) dão conta de que mais de 5% das crianças no Brasil apresentam TDAH.
A neuropsicóloga Alessandra Caturani Wajnsztejn, coordenadora do Núcleo Especializado em Aprendizagem do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), faz coro com a maioria de especialistas que creditam essas estimativas de crescimento ao maior volume de informação sobre o transtorno, o que leva a mais diagnósticos.
Alessandra explica que o TDAH é um transtorno do neuro desenvolvimento que tem como características principais a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade. Avisa que o diagnóstico tardio do TDAH dificulta a intervenção para a melhora do quadro e da qualidade de vida do paciente.

Segundo Alessandra em geral os meninos são mais acometidos pelos transtornos do neuro desenvolvimento, na proporção de 3 a cada 1. E no caso do TDAH não é diferente. “O quadro do TDAH está mais manifesto no sexo masculino e a prevalência de meninos é bastante significativa.” afirma a especialista, com base nas evidências vivenciadas nos ambulatórios e na avaliação interdisciplinar de pacientes realizada há 20 anos na Faculdade de Medicina do ABC.
Alessandra alerta para a importância do diagnóstico precoce, da conscientização das famílias e educadores quanto aos sintomas e sinais do TDAH e chama a atenção para a predominância da desatenção como sintoma mais verificado entre crianças do sexo feminino diagnosticadas com o transtorno.
Papel da escola
Respaldada pela lei federal 14.254/21 que institui o acompanhamento integral para educandos com dislexia, (TDAH) e outros transtornos de aprendizagem, a neuropsicóloga defende que a escola tem papel fundamental nas adaptações e nas flexibilizações para os alunos. “A escola precisa oferecer possibilidades e estratégias para aumentar a qualidade de vida e promover autoestima porque isso é bastante preocupante no TDAH”, afirma.
Alessandra destaca que na idade escolar o impacto do TDAH é muito visível no relacionamento interpessoal, principalmente quando há hiperatividade, desatenção e impulsividade, que podem ocorrer de forma separada, mas geralmente o quadro é um combinado: “É muito comum esses alunos serem excluídos pelos próprios colegas, porque eles furam muito a fila, não esperam a vez, interrompem o professor em momentos não adequados, não copiam a lição toda, entregam provas com muita velocidade porque querem terminar o mais rápido possível, e acabam tendo muitos problemas de disciplina eles causam muitas dificuldades de convivência escolar”, relata.
TDAH tem cura? De acordo com Alessandra o transtorno pode ter uma amenização significativa quando se concilia fatores como a abordagem medicamentosa se necessário, terapias de apoio e todo o apoio familiar. “O que a gente vê no decorrer dos anos de reavaliação de pacientes com mais idade é que quem seguiu o tratamento conseguiu reduzir bastante o quadro, desde que não hajam outros transtornos associados. Quando eles existem a melhora oscila, é mais flutuante” , diz. Alessandra destaca ainda a importância das políticas públicas na conscientização sobre o TDAH e seus efeitos deletérios para as pessoas sem tratamento e que conscientizar sobre os sinais e sintomas é de fato propor uma possibilidade de uma vida melhor para os indivíduos afetados.
Ambulatório, avaliações e atendimento na FMABC – As crianças crescem. E alguns casos tratados desde a infância tem uma melhora significativa. Não é por outro motivo que a infraestrutura da FMABC oferece acompanhamento na neurologia infantil, com apoio a comorbidades do TDAH, como ansiedade, transtorno de sono, dislexia, entre outros fatores.
Entre os cerca de onze ambulatórios da faculdade e um deles é de transição e acompanha os pacientes que deixam a adolescência e começam a vida adulta. “O TDAH adulto não tratado tende a ter mais multas de trânsito, acaba se envolvendo em mais situações de conflito, e mais dificuldade de relacionamento conjugal e profissional, cuidar deles ao longo da vida é fundamental” assinala Alessandra.
Alessandra avisa que quanto mais tardio o diagnóstico mais sintomas internalizantes e externalizantes como a ansiedade e a depressão aderem à situação não tratada, disparando outros gatilhos, como o uso de substâncias indesejadas, conflitos inúmeros e até dificuldade de traçar objetivos. A ansiedade também faz parte do quadro do TDAH, assim como TOD (Transtorno Opositor Desafiador). O TDAH é um quadro que geralmente não vem sozinho.
Que tipo de profissional procurar
Quando criança e adolescente a orientação da especialista é buscar um neuro pediatra, ou psiquiatra infantil. Na idade adulta, o neurologista ou psiquiatra. Na FMABC todos os profissionais estão juntos para uma avaliação completa e contínua. “O diagnóstico tem que ser muito preciso e minucioso” ressalta Alessandra.
O papel da família
Não parar para ler um livro ou para estudar não é necessariamente um TDAH. A família deve estar atenta aos hábitos familiares, à própria higiene de sono, porque é fundamental dormir bem e comer bem para controlar os gatilhos dos sinais e sintomas do TDAH. Quando a criança não se interessa por nada da escola é muito importante investigar a desatenção, descobrir o que ela tem feito além da escola. Já pensou que os eletrônicos podem afastar os pequenos e adolescentes da leitura?
A diferença entre o “normal” e o transtorno – De acordo com Alessandra a neuro diversidade mora na casa de cada um de nós. Ela avalia, entretanto, que no momento em que um sinal ou sintoma impacta a funcionalidade do indivíduo, já se tornam um transtorno, daí o nome Transtorno de Déficit de Atenção. “É quando impacta de fato, eu também esqueço as coisas, mas não em uma frequência e intensidade que impacta a minha vida, temos que perceber o quanto aquilo está produzindo prejuízo”, finaliza.