
Hoje, o tempo médio de espera por um transplante de coração no Brasil chega a 18 meses, mesmo para aqueles casos de maior gravidade. Segundo a Central de Transplantes do Estado de São Paulo, até julho, 20,8 mil pacientes aguardavam por doação de órgãos, principalmente rim, córnea e fígado, com lista de espera de 16,2 mil, 3,7 mil e 462 pacientes, respectivamente. Especificamente para transplantes cardíacos, 180 pessoas aguardam a cirurgia.
Sobre o ABC, não há dados precisos de quantos pacientes estão na fila de espera para transplante de coração, mas o Estado confirma que há um longo processo até a realização do procedimento. Pacientes que necessitam de transplante de órgãos são inseridos no Cadastro Técnico do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, ou seja, na fila para o transplante na especialidade, e são chamados conforme a necessidade.
A fila é gerida por uma equipe técnica que avalia as prioridades de acordo com cada situação, sendo atualizada conforme evolução do quadro clínico. O chamamento em si depende de fatores, como disponibilização do órgão por meio do processo de doação, ordem cronológica, gravidade do caso e disponibilidade ou não de tratamentos alternativos, como prioridade aos casos de urgência em que há risco de morte.
De janeiro a julho de 2023, foram realizados 75 transplantes de coração no Estado. O número é maior do que o registrado no mesmo período em anos anteriores. Foram 64 procedimentos em 2018, 74 em 2019, 67 em 2020, 73 em 2021 e 73 no no passado.
Como se prevenir de problemas cardíacos
Ao RD, Carolina Casadei dos Santos, cardiologista do Centro Universitário FMABC e especialista em insuficiência cardíaca e transplante cardíaco, explica que manter um estilo de vida saudável, combater a obesidade e ter alimentação regrada são as principais recomendações para afastar problemas no coração. “Não fumar, não beber em excesso e ter doenças como o diabetes e hipertensão sob controle também são pontos fundamentais para evitar doenças no coração, como infarto e AVC (acidente vascular cerebral)”, diz.
Carolina afirma que doenças no coração podem começar ainda na infância, por isso é importante adotar os cuidados com a saúde o quanto antes. “É um cuidado que independente da idade, precisa existir. Temos visto cada vez mais crianças com obesidade, colesterol alto, diabetes, pré-disposições para doenças cardíacas”, relata ao frisar que uma das principais causas para a insuficiência cardíaca é a hipertensão não tratada e o infarto.
É importante estar atento a sintomas, como inchaço anormal nas pernas, falta de ar no meio da noite, cansaço ao extremo e dores fortes no coração. “Quanto antes o paciente buscar ajuda, mas certeiro e de qualidade será o tratamento específico que ele receberá”, reforça. Para isso, a cardiologista recomenda que haja um check up anual, a fim de evitar sustos e dores de cabeça.
Fila de espera
O paciente que recebe indicação para entrar na fila de espera para transplante cardíaco “compete vaga” não só com outros pacientes SUS, mas também de convênios médicos particulares. A fila é única.
A demora se dá em razão não só da quantidade de pacientes, mas dos critérios de avaliação que o doador é submetido. “Tipagem sanguínea, peso do paciente, painel de anticorpos, índice de rejeição, tudo isso é estudado antes do órgão de fato ser doado a alguém”, explica a cardiologista.
Nos casos mais graves, os pacientes são internados, recebem medicamento na veia e, em alguns casos, até têm assistência de dispositivos para que o coração continue batendo até a chegada do órgão. “O tempo de fila é variável, não adianta”, salienta. E após o o órgão é retirado do corpo, ainda é possível realizar a reimplantação no receptor em um período de 4 horas.
Doação
Conforme diretrizes do SUS (Sistema Único de Saúde), pessoas com diagnóstico de covid-19 com menos de 28 dias da regressão completa dos sintomas não podem ser doadores. A doação deve ser consentida e quem quiser ser doador não precisa mais incluir a informação no RG ou na CNH – basta comunicar a família sobre esse desejo. No caso dos falecidos, a autorização para doação deve ser dada por familiares com até o 2º grau de parentesco.
No Estado de São Paulo, há 10 Organizações de Procura de Órgãos (OPOs), que estão localizadas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Santa Casa de São Paulo, Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Hospital das Clínicas da Unicamp, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Hospital Universitário de São José do Rio Preto, Hospital das Clínicas de Botucatu, Santa Casa de Itu e Hospital das Clínicas de Marília. O papel da OPO é viabilizar doadores para o cadastro técnico de pacientes que estão à espera de um transplante.
A Central de Transplantes do Estado de São Paulo destaca que doar órgãos e tecidos é fundamental para ajudar a salvar vidas. Além disso, reforça a orientação de que haja diálogo entre as famílias sobre o desejo de ser ou não doador de órgãos, pois isso facilita a tomada de decisão.