
O INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) disparou deste domingo (17/09) o alerta laranja sobre a onda de calor que afeta praticamente todo o país com algumas regiões com temperaturas de 40°C. No Estado a maior temperatura já registrada em um mês de setembro foi a de 37,1°C, em 1.943, e as previsões mostram que esse recorde pode ser quebrado entre quarta-feira (20/09) e domingo (24/09). Na esteira dos eventos climáticos extremos, especialistas em diferentes áreas consideram que a região precisa avançar rapidamente em ações de prevenção, pois vai sofrer não apenas com o calor fora de época como ter mais chuvas fortes e sofrer com enchentes mais intensas.
O meteorologista Carlos Raupp, conselheiro do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Estado de São Paulo) diz que o aquecimento global e a emissão de gases do efeito estufa já causa mudanças climáticas importantes. O chamado Acordo de Paris, definiu um limite para a variação térmica, de que a temperatura não deve ultrapassar a média acima de 1,5°C. Ele avalia que os estados e municípios devem se preparar para situações quanto à seca e quanto ao excesso de chuvas, este último principalmente por causar catástrofes como enchentes e deslizamentos de encostas.
“Vamos ter que nos adaptar a mudanças. E isso significa obras, os piscinões, por exemplo, são uma medida extrema, mas necessária, e não se são suficientes. Além de agir na mitigação dos efeitos também temos que nos adaptar para evitar situações desastrosas”, diz Raupp. O meteorologista diz que a Grande São Paulo vai se manter nesta onda de calor, pelo menos até quinta-feira (28/09) quando está prevista a chuva. “Quando estamos em uma de calor muito forte como essa, a primeira frente fria que consegue furar esse bloqueio traz chuva”, explica.
Para Raupp além dos alertas da Defesa Civil, as prefeituras podem se organizar para a realização de obras pontuais, como pequenos reservatórios ao longo dos rios e outras ações que podem contribuir para a redução da temperatura média e evitar que nos aproximemos do limite de 1,5°C acima da média. “O Crea faz convênios com diversas prefeituras e pode ajudar no planejamento de obras e fornecer auxílio técnico. É preciso fazer muito mais e pelo que temos visto as iniciativas locais têm sido mais efetivas, mas há muito que ser feito ainda”, completa.
Para o engenheiro civil do Centro de Pesquisas, Divisão de Ensaios e Análises, do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Leonardo Sanches Previti, as pessoas e principalmente o poder público devem se preocupar com os eventos climáticos extremos ocorrendo com mais regularidade e tomar decisões mais rápidas. “Ainda que os governos tenham investido muito, como na construção de piscinões e outras ações para prevenir as enchentes e para prevenir quedas de encostas, isso ainda não é o suficiente”, avalia.
Segundo o professor da Mauá, o ABC é uma região muito capilarizada por rios e córregos e essas áreas são propensas a inundações. “Na construção das cidades na Grande São Paulo se cometeram erros, verdadeiras aberrações, com a ocupação das áreas de várzea por ruas e avenidas, hoje o ideal seria substituir essas áreas construídas por outras com mais vegetação e maior capacidade de absorver água”, diz o engenheiro. Outra intervenção pública importante, segundo destaca Previti, é investir em novos modais de transporte, não apenas no rodoviário. “Historicamente no país não se investiu muito em hidrovias”, comenta.
No campo do conhecimento e na academia mudanças já são feitas para preparar os futuros profissionais engenheiros, para uma nova realidade frente às mudanças climáticas. Previti dia que já há mecanismos para modernizar o diploma do engenheiro e as universidades estão aberta a ouvir as demandas dos jovens que já estão mais atentos a isso.
Por outro lado o poder público é lento, segundo o engenheiro, na tomada de decisões. “A velocidade de implementação de mudanças e correções de rumo é muito menor do que a que precisamos para enfrentar essas mudanças no clima. Se definiu que o ideal seria que o clima no planeta não se alterasse mais do que 1,5°C, mas já há estudos que mostram que desde a revolução industrial a temperatura da Terra já subiu 1,2°C, ou seja, estamos muito perto do limite e isso significa que a Amazônia pode perder vegetação, o que vai reduzir o volume de chuvas como um todo e principalmente em São Paulo. Ainda há muito que fazer, como reduzir o uso dos combustíveis fósseis e reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa, mas quando a gente olha para o campo político a gente se frustra, porque a situação é urgente”, completa Leonardo Sanches Previti.
Em reportagem publicada pelo RD na última semana, Estado e prefeituras disseram que os piscinões e reservatórios menores da região estarão preparados para a temporada de chuvas. A região tem 27 reservatórios, sendo que 19 deles são responsabilidade estadual. O maior piscinão paulista está sendo construído na divisa entre São Caetano, São Bernardo e São Paulo, trata-se do Jaboticabal, que só deve ser entregue no segundo semestre de 2024.