
Quase 80 horas após o temporal de sexta-feira (3/11) que derrubou mais de 250 árvores só no ABC, milhares de casas ainda estão sem energia, semáforos apagados e equipamentos públicos como escolas deixaram de funcionar. Segundo a concessionária de energia, Enel, na região metropolitana das 2,1 milhões de clientes afetados, 1,7 milhão já tiveram a energia reestabelecida, ou seja 400 mil ainda estão às escuras no terceiro dia após o temporal. A empresa diz que espera resolver todos os problemas até esta terça-feira (7).
Em toda a região caíram árvores, semáforos pararam de funcionar e muito deles continuavam sem funcionar nesta segunda-feira (06/11). Só os sinais que ficam sob a gestão da concessionária Next, no corredor de ônibus metropolitano, 20 semáforos estavam desligados. Segundo nota da empresa, as vias mais afetadas são as avenidas Pereira Barreto e Oratório. A Next diz que nestes locais, além dos semáforos a iluminação pública também está apagada.
Em São Caetano, a Prefeitura registrou a queda de 40 árvores, que resultaram na interdição de 16 vias da cidade, a prefeitura disse que removeria todas até as 12h desta segunda-feira (6). Dezoito escolas municipais não tiveram aulas neste segunda-feira, por conta da falta de energia e também por outros estragos por conta da ventania, 5.765 alunos ficaram sem aulas. Em oito os reparos já haviam sido concluídos até o meio-dia desta segunda-feira, outras cinco voltam a funcionar nesta terça (07/11). Por causa da falta de refrigeração uma tonelada de legumes, 700kg de carne e 100 kg de itens para lanche, foram descartados. Dez equipamentos de saúde estavam sem energia, sendo que exames e cirurgias serão reagendados.
Perda de vacinas
Prejuízos também em Diadema, onde a Prefeitura informa que houve perda de vacinas que ficaram nas geladeiras das UBSs durante o fim de semana. A falta de energia perdura em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) – São José (na Vila São José) e Maria Tereza (no Jardim Campanário). O atendimento à população conta com o apoio de Unidades próximas: as UBSs Piraporinha e Nova Conquista são referência para a UBS São José, já as UBSs Paineiras, ABC e Canhema são referências para a Unidade Maria Teresa. A Secretaria de Saúde realiza contagem das doses de vacinas perdidas e diz que as Unidades estão sendo reabastecidas, já que o município possui Central de Imunobiológicos com gerador de energia, o que minimiza o impacto das perdas.
Nenhuma escola em Diadema ficou sem aulas por falta de energia. Na cidade caíram 11 árvores, segundo o paço diademense nenhuma delas constava da relação emergencial da Secretaria de Meio Ambiente. A cidade informou que fez 2.681 podas no ano passado e não informou quantas fez este ano.
O RD notou pelo menos dois semáforos desligados na manhã desta segunda-feira, em Diadema, um na avenida Fábio Eduardo Ramos Esquivel, na altura do Corpo de Bombeiros, onde agentes de trânsito orientavam motoristas e outro na avenida Ruyce Ferraz Alvim, na Vila Nogueira, onde não haviam agentes. À noite, a Prefeitura disse que não havia mais problemas nos semáforos.
Em Ribeirão Pires, a Prefeitura informou a queda de cinco árvores. A cidade não relatou prejuízos com equipamentos públicos sem funcionar por falta de energia.
Bairros Campestre e Jardim
Em Santo André, houve queda de 168 árvores. Apesar disso nenhuma escola deixou de funcionar nesta segunda-feira. “Os bairros mais atingidos por quedas de árvores foram Campestre e Jardim, que seguem recebendo serviço de limpeza e recolhimento de galhos. Na tarde desta segunda-feira, 58 logradouros seguem sem energia elétrica. A Prefeitura de Santo André vem sistematicamente cobrando da Enel o pronto restabelecimento do serviço. Os bairros atingidos são Vila Bastos, Vila Floresta, Sacadura Cabral, Santa Maria, Campestre, Príncipe de Gales, Valparaíso, Parque das Nações, Parque Oratório, Novo Oratório, Vila Helena, Vila Pires, Vila Assunção, Parque Erasmo Assunção e Vila Curuçá”, diz nota do paço andreense.
Em São Bernardo sete escolas municipais ficaram sem energia na manhã desta segunda-feira (6/11). “As Emebs afetadas atenderam os alunos com iluminação natural, portanto, todas as 219 unidades de ensino municipais funcionaram normalmente nesta segunda-feira. A UBS do Jardim Represa também apresentou falta de energia pela manhã, o que inviabilizou temporariamente a realização de serviços como dispensação de medicamento e aplicação de vacinas por falta de sistema. O fornecimento foi reestabelecido às 12h.
A falta de energia atingiu diversos bairros de São Bernardo como Jardim Represa, Vila Euclides, Pauliceia, Santa Terezinha, Nova Petrópolis, Centro, Rudge Ramos, Taboão, DER, Ferrazópolis, entre outros. A queda de energia também afetou semáforos da cidade, prejudicando o trânsito em diversos bairros. A prefeitura contabilizou a queda de 27 árvores. Uma das regiões mais afetadas foi a da Avenida Kennedy. Bares e os demais comércios nem abriram o domingo (05/11), todos os cruzamentos foram fechados porque os semáforos não funcionavam. Segundo a prefeitura nesta segunda-feira todos os sinais de trânsito já estavam funcionando.
As prefeituras de Mauá e Rio Grande da Serra não se posicionaram.
Para engenheiro ambiental a culpa é da falta de planejamento
O maior problema para a rede elétrica foi a queda de árvores sobre a rede elétrica. Além de interromperem o fornecimento as dezenas de árvores que caíram danificaram casas, veículos e fecharam ruas. A culpa, no entanto, não e delas, e sim da falta de planejamento do poder público e da concessionária de energia, na opinião do mestre em tecnologia ambiental pelo IPT-USP (Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo) e professor do curso de gestão ambiental e de pós-graduação em Biologia e Engenharia da Fundação Santo André, João Carlos Mucciacito. Para o engenheiro, tanto as prefeituras têm culpa por não cuidarem e planejarem o plantio de árvores como a Enel que não se precaveu.

O professor diz que as árvores estão muito doentes. Primeiro que a maioria delas não é adequada para áreas urbanas, porque são exemplares arbóreos que precisam de raízes muito profundas, para piorar ela são cimentadas na base e ficam vulneráveis a fungos e outros parasitas. “Esses fenômenos climáticos fazem parte da natureza, o El Niño é assim mesmo, essas são tragédias anunciadas e que demonstram que não estamos preparados para isso. As árvores são semelhantes aos seres humanos, se estamos saudáveis vamos resistir melhor às doenças. A árvore também vai resistir melhor às pragas e as intempéries se tiver saúde, se não está saudável fica mais suscetível a doenças”, diz.
As árvores ficam não conseguem combater pragas e doenças que a enfraquecem porque não têm espaço para as raízes, não são espécies que toleram a poluição, daí não resistem. Para Mucciacito as podas feitas para garantir a passagem dos fios de energia agravam ainda mais o desequilíbrio “Eu diria que elas estão doentes por uma somatória de fatores, o fato de terem pouco espaço para as raízes e também as podas drásticas. Com o sufocamento das raízes ela não consegue trocar nutrientes e a raiz fica subdesenvolvida, já a copa cresce, mas sem o alicerce que é a raiz, aí qualquer vento de 20 km/h pode derrubá-la”, afirma.
Para o engenheiro ambiental, a situação de falta de energia não pode ser atribuída às árvores, mas à falta de investimento. “Fiação aérea é coisa do século passado. Se pode enterrar a fiação no bairro dos Jardins e na rua Oscar Freire, bairros elegantes da Capital, dá para fazer no restante das cidades. Na minha opinião é falta de vontade política, porque se tivesse feito, a população não estava na situação em que está agora. Outra coisa que eu aponto como um problema é a privatização de serviços essenciais, desde que a distribuição de energia foi terceirizada que só se reduzem as equipes de manuteção. Por isso estamos nesse caos porque não houve investimento”, afirma.
O professor da FSA também critica o fato de as cidades não terem um diagnóstico das suas árvores. “Não se tem um estudo nem aproximado do número de árvores que a cidade tem, nem das que estão doentes. O pior é que as árvores que caem não são repostas. Não se dá importância à parte botânica como se dá a outras áreas da gestão pública, é preciso ter vontade política”, completa.
Enel
Em nota a Enel diz que espera resolver todos os problemas causados pelo vendaval até essa terça-feira (07/11). “A Enel informa que restabeleceu a energia para 83% dos clientes que tiveram o fornecimento impactado após o vendaval da última sexta-feira. Até o momento, cerca de 1,7 milhão de clientes tiveram o serviço normalizado, de um total de 2,1 milhões afetados na última sexta-feira. O vendaval que atingiu a área de concessão no dia 3 de novembro foi o mais forte dos últimos anos e provocou danos severos na rede de distribuição. Os profissionais da companhia seguem trabalhando 24 horas para normalizar o fornecimento para quase a totalidade dos clientes até esta terça-feira (07/11). Devido à complexidade do trabalho para reconstrução da rede atingida por queda de árvores de grande porte e galhos, a recuperação ocorre de forma gradual. Em atuação conjunta com Corpo de Bombeiros, prefeitura e outras autoridades, a companhia tem priorizado os casos mais críticos, como serviços essenciais. A Enel São Paulo seguirá com a mobilização total dos profissionais e reforço em várias frentes, como call center e operação de campo. A companhia orienta que os clientes acessem os canais digitais da companhia para abrir chamado de falta de luz, por meio do app Enel São Paulo e agência virtual do site www.enel.com.br”.