ABC - segunda-feira , 21 de abril de 2025

Alta de casos e morte de criança por meningite alertam setores de saúde

Alunos que estudavam na mesma sala do menino que faleceu de meningite receberam um antibiótico específico. (Foto: Google)

Nesta quarta-feira (15/11) completa uma semana da morte de um aluno da Escola Municipal Anita Catarina Malfatti, em Diadema. A morte foi causada por meningite bacteriana, a forma mais grave da doença. As prefeituras da região estão em alerta diante do aumento do número número de casos no último ano. No caso de M, de apenas 10 anos, a prefeitura diademense ministrou medicamento antibiótico para todos os alunos da sala de aula em que a criança estudava, além de familiares e pessoas que tiveram contato com ele.

Ao RD, a mãe de M., Renata Hidalgo Alcântara de Souza, contou que o filho estava bem de saúde até apresentar febre na terça-feira (07/11). “Eu mediquei e pela manhã ele ainda estava com febre e dor e mediquei novamente, mas levamos para o Pronto Atendimento, porque ele tinha umas manchas pelo corpo. De tarde essas manchas já estavam por todo o corpo. Das 15 horas até as 18h30 ele piorou muito, levaram meu filho para a UTI e ele ficou sedado e eu não o vi mais”, relatou. O menino depois do primeiro atendimento, foi transferido de Diadema para outro hospital em Guarulhos, onde faleceu.

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Apesar de destacar que seu filho foi bem atendido pela equipe médica, a mãe relata que soube de outros casos e que a prefeitura não tem divulgado. “Está virando um surto e isso não está sendo divulgado e eu acho que deveria ser. Outra coisa é que meu filho tinha a caderneta de vacinação em dia, mas a vacina contra a meningite bacteriana não faz parte do calendário, o Estado não dá, o que eu acho outro absurdo”, diz a mãe que tem outros dois filhos, gêmeos de seis anos. “Eu fui atrás e achei a vacina para meningite B por R$ 570 e a ACWY por R$ 400. Com os reforços vai sair R$ 1,5 mil por criança. Se eu soubesse tinha feito tudo para salvar meu filho, tirava de onde não tinha para dar a vacina nele”, disse.

Em nota, a prefeitura de Diadema diz que a confirmação de que a morte de M., foi por meningite veio nesta segunda-feira (13/11) e com ela foi feita uma estratégia de bloqueio com a proteção dos contactantes com quimioprofilaxia indicada para esses casos. “O laudo de análise laboratorial, emitido pelo Instituto Adolfo Lutz, ficou pronto no final desta segunda-feira (13/11) e confirmou a presença da bactéria. De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, foi realizada, nesta terça-feira (14/11), quimioprofilaxia nos estudantes da mesma sala de aula. Além disso, a SMS (Secretaria Municipal da Saúde) solicitou que fossem apresentadas as carteiras de vacinação, para verificar se há atraso no esquema vacinal e, nesse caso, para atualização. Nesta terça-feira (14/11), já foram verificadas dos alunos que levaram o documento e os demais deverão comparecer na UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima. A quimioprofilaxia já foi realizada em parentes próximos, durante a internação da criança”, detalhou a administração.

A prefeitura diz que as aulas serão mantidas e que o protocolo não exige desinfecção da escola. “O meningococo, que causa a Meningite Meningocócica, não sobrevive no ar ou nos objetos. Portanto não se recomenda fechar escolas ou creches, quando ocorre um caso de meningite entre os alunos. Também não é necessária a lavagem de ambientes ou queimar objetos de uso do doente, bastando a limpeza habitual. A vacina está disponível na rede municipal e a SMS reforça a necessidade de os responsáveis levarem crianças e jovens, dentro do prazo do calendário oficial, para receber as doses. Saiba quais são as vacinas disponíveis e para qual público em https://portal.diadema.sp.gov.br/vacinas/”.

Crescimento

O número de casos de meningite está aumentando consideravelmente em todas as cidades. Em Diadema, por exemplo, de janeiro a setembro do ano passado foram registrados 33 casos, neste ano, considerando o mesmo período foram 55, aumento de 66,7%. Os dados do mês de outubro ainda não estão fechados.
Em São Caetano de janeiro a outubro do ano passado foram registrados 24 casos de meningite considerando todos os tipos da doença. Neste ano, até essa terça-feira (14/11) foram 72 casos, uma alta de 200%. Segundo a prefeitura não foram registradas mortes nos dois períodos e a cobertura para a vacina Meningocócica C é de 73,7%.

Em Santo André foram 163 casos neste ano até outubro, contra 144 no mesmo período de 2022, alta de 13,2%. A prefeitura andreense informou que a cobertura para a vacina Meningo C para crianças menores de um ano é de 66% e de 63% para maiores desta idade. “O município de Santo André disponibiliza a vacina Meningo C a todos os públicos elegíveis nas 33 unidades, de segunda a sexta. Iniciamos em 30/9/23 a Campanha de Multivacinação e manteremos até 24/11/23”, diz o informe da administração municipal.

Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e São Bernardo não responderam.

Infectologista diz que mudanças climáticas também interferem no número de casos

Para a infectologista Elaine Matsuda, mesmo com apenas a Menigo C integrando o calendário vacinal, grande parte da população estaria protegida, já que esse meningococo mais prevalente. Ela explicou também como a doença avança e como identificar os sintomas. Para ela as mudanças climáticas, o calor ou o frio fora de época também influenciam a ocorrência de doenças.

No caso da meningite ela é mais frequente no inverno. Mas está mais frequente neste ano que tem registrado temperaturas mais altas. “A meningite bacteriana pode ser grave, inclusive com sequelas principalmente quando acomete bebês muito pequenos. Nessa época do ano ela não muito frequente, é o inverno que se apresenta mais, mas a gente sabe também que as doenças estão meio desorientadas com as mudanças climáticas”, explica.

Elaine explica que os casos com maior gravidade ocorrem em pacientes imunodeprimidos, os idosos e as crianças muito pequenas, por alguns usos de medicamentos e até com outras doenças. “No caso das crianças são as deficiências congênitas e imunológicas e nos adultos a infecção pelo HIV. Crianças com hidrocefalia que tem um dreno, têm um aumento da chance de ter meningite bacteriana”.

Identificar

A identificação de um quadro de meningite começa pela tríade clássica: dor de cabeça, febre e vômitos. “Em casos mais graves o pescoço fica rígido, por isso que o médico quando examina ele tenta curvar a cabeça em direção ao tronco. Pela irritação da meninge o pescoço fica duro”, explica.

Mas nem sempre essa tríade clássica ocorre, por exemplo, em bebês muito pequenos pode não ter febre, nem vômito. “Só uma letargia, uma moleza do bebê já é indicativo para fazer uma punção liquorgica. O que chama a atenção, nos casos mais graves, além da dor de cabeça vai ter essa letargia, essa sonolência. Se a criança está sem febre tem que acordar e ficar esperta, se corta a febre com antitérmico e a criança continua quietinha é sinal de alerta”, orienta a especialista.

Além da vacina Meningo C que é dada nos postos de saúde, em clínicas particulares tem a ACWY. A que o SUS oferece, segundo Elaine Matsuda é mesmo a mais indicada porque esse é o tipo de menigococo mais prevalente. “Se as pessoas tomassem as vacinas dentro do calendário já teríamos uma situação mais controlada. Tem muita gente com vacina em atraso e essa é uma das questões”, completa.

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