
*Por: Raquel Gallinati
Ao longo da trajetória de vida, em torno de 80% das mulheres no mundo enfrentam a dolorosa realidade da violência física ou sexual causada por parceiros ou, ainda, a violência sexual cometida por não parceiros, conforme estatísticas da ONU (Organização das Nações Unidas).
A magnitude da causa que ecoa no dia 25 de novembro transcende a experiência singular da mulher violentada, mutilada ou assassinada. Este movimento se ergue em defesa de todas as mulheres que, diariamente, enfrentam humilhações, de maneira velada ou explícita, atestando que a violência não se limita ao espectro das agressões físicas.
Em um ato de reconhecimento, a Assembleia Geral da ONU, em 1999, consagrou o 25 de novembro como o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, em homenagem às “Mariposas” – as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa – um exemplo emblemático e trágico de como a violência de gênero persiste e causa impacto ao redor do mundo.
Em 1960, essas corajosas mulheres desafiaram o ditador Rafael Leônidas Trujillo, na República Dominicana e, por isso, pagaram com suas próprias vidas. O brutal assassinato das irmãs, marcado por estrangulamento e ossos quebrados, ecoou globalmente e provocou indignação e comoção profunda.
A história das Mariposas se tornou símbolo de resistência e luta contra a opressão das mulheres. As três eram ativistas políticas e defensoras dos direitos humanos, que ousaram enfrentar um regime ditatorial e suas políticas repressivas. Seu legado atravessou fronteiras geográficas e inspirou gerações de mulheres a se levantarem contra a violência de gênero e a busca por igualdade e justiça.
Apesar dos avanços na conscientização e das lutas por direitos e igualdade, a violência de gênero continua a assombrar a sociedade.
É necessário um esforço coletivo para combater essa violência e criar um mundo onde todas as mulheres possam viver com segurança e dignidade. Isso inclui o fortalecimento das leis de proteção às mulheres, a promoção de educação e conscientização sobre a igualdade de gênero, a criação de redes de apoio para mulheres vítimas de violência e a desconstrução dos estereótipos de gênero que perpetuam a cultura da violência.
O trágico destino das Mariposas ressoa como um chamado à ação, recordando-nos do trabalho contínuo necessário para evitar a repetição de sua história. Romper com os ciclos de violência e opressão torna-se imperativo, impulsiona a construção de uma sociedade que genuinamente valorize e respeite todas as mulheres.
É imperativo implementar ações afirmativas e efetivas, desmantelar as estruturas sociais desiguais que perpetuam essa dolorosa realidade, para que, finalmente, alcancemos uma transformação significativa e duradoura.
*Raquel Gallinati é delegada de Polícia; pós-graduada em Ciências Penais, em Direito de Polícia Judiciária e em Processo Penal; mestre em Filosofia; diretora da Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) do Brasil