
Cerca de 8 mil pessoas vivem no ABC com diagnóstico de HIV e fazendo tratamento, sem contar os números de Santo André e Rio Grande da Serra. Dados do Ministério da Saúde dão conta que o número de infectados entre os mais jovens tem aumentado; nos dez anos entre 2011 e 2021, 52 mil jovens com HIV entre 15 e 24 anos de idade evoluíram para a a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Na região há pelo menos 1,4 mil infectados nesta faixa de idade, ou seja 18,25%. Há campanhas e distribuição de preservativos além da dispensação de medicamentos, porém ainda há, segundo especialista, falta de informação e preconceito sobre a doença.
Nos municípios e também no governo do Estado há medicamentos e ações de prevenção e distribuição de preservativos. São Bernardo informou que estão em tratamento atualmente 3.400 pessoas, destas 994 são menores de 24 anos. Em Diadema são 1.740 infectados e 92 deles são jovens com menos de 24 anos. Nesta faixa etária estão 10 pacientes de Ribeirão Pires, de um total de 380 pacientes atendidos. Em São Caetano, de um total de 993 casos, 211, têm menos de 24. Em Mauá são 1.096 pacientes cadastrados no sistema municipal de saúde e a cidade não informou os casos por faixa de idade. Santo André não informou o número total, mas disse que 94 jovens estão em tratamento.
Todos os municípios informaram que fazem campanhas de prevenção, fornecem os medicamentos e não há falta de itens para o tratamento. (Veja, no final desta reportagem onde buscar informações e atendimento)
Apesar dos tratamentos garantirem qualidade de vida aos pacientes a Aids ainda faz milhares de vítimas todos os anos. Somente em 2021, mais de 11 mil óbitos foram registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) em decorrência do agravo, com uma taxa de mortalidade padronizada de 4,2 óbitos por 100 mil habitantes, informa o Ministério da Saúde. A pasta federal considera que a infecção pelo HIV no Brasil está controlada, porém em patamares elevados. Só no Estado de São Paulo, segundo Secretaria Estadual de Saúde, 190 mil pacientes estão em tratamento.
A Secretaria de Estado da Saúde informa que a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) está disponível desde 2018 e, desde então, o número de cadastrados aumentou 385,5%. “Em 2018, 3.565 pessoas foram cadastradas e, nos anos seguintes, o número passou para 5.329 em 2019; 6.466 em 2020; 10.807 em 2021; 14.169 em 2022; e 17.310 em 2023, até o mês de outubro. Em relação aos novos casos, desde 2016, em indivíduos com 13 anos ou mais, a taxa de notificação vem caindo em todo o estado. Em 2016, 9.780 casos foram notificados, entre homens e mulheres e, neste ano, 2.116 casos foram notificados no primeiro semestre. Comparado com 2022, há uma redução de 28,3% dos casos notificados, quando 7.012 foram identificados no Estado de São Paulo. Nos anos anteriores foram notificados: 7.111 em 2021; 6.897 em 2020; 8.253 em 2019; 9.086 em 2018; e 9.548 em 2017”, informa a pasta estadual, em nota.
Neste mês de dezembro, o Estado, por meio do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS, realiza a 16ª edição da Campanha Estadual de Testagem do HIV e Sífilis, com a participação de 641 municípios. A meta é realizar cerca de 400 mil exames, abrangendo testes rápidos e convencionais para HIV e sífilis.
Informação
Para a infectologista Elaine Matsuda, falta muita informação, principalmente aos jovens que não viveram o período em que a Aids estava em todos os noticiários fazendo muitas vítimas entre elas pessoas conhecidas nacionalmente. “Falta muita informação, que tem que começar desde a escola e o que a gente vê é que as pessoas estão iniciando a vida sexual mais cedo, então se a gente for esperar os 18 anos para falar de sexo seguro e prevenção de gravidez, vamos continuar vendo pessoas ainda crianças com 15 ou 16 anos com HIV, siflis e gestantes. Eu vejo uma desinformação total, não apenas para os jovens, mas até para os profissionais da saúde. A melhor maneira de frear o avanço da doença é testar. Hoje o jovem vai numa consulta e pede-se hemograma, glicemia e colesterol, mas não se pede a sorologia de HIV, siflis e hepatite, por exemplo. Então e perde muita oportunidade de se diagnosticar precocemente e com isso tirar essa pessoa da linha de transmissão”, avalia.

Outras doenças podem aparecer associadas a Aids, por conta do envelhecimento do corpo que se desgasta enquanto combate o vírus. “Claro que hoje a Aids é uma doença crônica, controlável, por outro lado quando a pessoa trata e fica bem, deixa de ser uma doença que traz grande temor, por isso a pessoa tem resistência em ter um diagnóstico”, continua a infectologista. “O indivíduo que tem a infecção crônica por HIV ele está o tempo todo tentando se defender do vírus, fica mais inflamado. Essa inflamação faz o corpo envelhecer mais rápido e aumentam as chances de ter infarto, derrame, fraturas resultantes de osteoporose ou quadro demencial. Quanto mais cedo ele tratar, se aumenta a chance de diminuir a inflamação e diminuir o risco destes eventos. A infecção promove o adoecimento por outras doenças crônicas do envelhecimento inclusive o câncer também”, orienta Elaine Matsuda.
A especialista diz que, não é porque se tem medicamentos mais eficazes, que as pessoas podem se expor ao vírus sem proteção. “A realidade que a gente tem hoje é a de quem diagnostica precocemente e trata não vai morrer do HIV, mas eles podem ter outras limitações e complicações, tanto pelo uso crônico da medicação, tanto pela infecção crônica, por isso é que, por mais que a Aids tenha tratamento o ideal é não ter”, orienta.
Testagem
A médica diz que os tratamentos garantem a sobrevida do paciente, mas o tratamento deve começar cedo, daí a importância da testagem. “Se tratar direitinho e começar isso precocemente a sobrevida tem se mostrado igual a quem não tem HIV e em alguns casos até superior, principalmente no público masculino que não faz consultas médicas de prevenção e por conta a infecção acaba por fazer”.
As campanhas também são importantes para levar informação sobre a doença, mas a médica especialista acha que elas precisam avançar muito mais. “As campanhas são muito poucas, passamos por quatro anos de pandemia e resistência às vacinas, que agora tende a melhorar, mas o principal fator é as pessoas temerem receber um resultado positivo e o preconceito, que é o que mais mata na Aids. As pessoas não podem se assumir como portadoras do HIV porque são discriminadas”, diz Elaine Matsuda.
Família
É possível ter uma vida normal, mesmo com o HIV, ter parceiros sem que estes estejam expostos e filhos sem o vírus. “Se o vírus é indetectável é intransmissível. Se a pessoa trata e tem carga viral não detectável não precisa usar preservativo como prevenção ao HIV porque ele não transmite e pode haver uma gravidez normal. Uma mãe que tem HIV, se ela não fizer nada, nem tomar remédio, e amamentar, a chance do bebê nascer positivo é de cerca de 30%, ou seja, 70% Deus cuida. Se a mãe estiver indetectável, a chance diminui para 1%, fazendo uso do AZT (medicamento), não amamentar e o bebê tomar a profilaxia do HIV nas primeiras semanas de vida. É muito possível um casal com soros diferentes constituírem uma família”, completa a infectologista.
Informações e locais de atendimento no ABC:
Diadema: De 01 a 07 de dezembro, a Prefeitura promove a Campanha Fique Sabendo com orientação e estímulo à testagem para HIV e sífilis. Confira a programação em https://portal.diadema.sp.gov.br/dezembro-vermelho-em-diadema-tera-seminario-e-campanhas-de-testagem-e-pep-prep/. O teste rápido para detectar o vírus HIV também é feito em todas as UBS durante o ano. Já no CR, o exame é feito das 9h às 15h30.
Mauá: As testagens e o acompanhamento de pacientes com HIV são realizadas no Centro de Referência em Saúde (CRS) – ist hiv/aids e hepatites virais. O tratamento, dispensação de anti-retroviral (tarv), coleta de exames e consulta médica são realizados no mesmo local. O endereço é rua Santa Helena,19, Vila Magini, e funciona de segunda a sexta feira, das 08h às 16h.
Ribeirão Pires: A cidade conta com o Serviço de Atenção Especializada, situado na avenida Francisco Monteiro, 205, centro. A unidade atende de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. O SAE realiza durante todo o ano ações de conscientização, orientações e testagens na cidade. Além das campanhas mensais que conta com intensivo no serviço. Neste mês de dezembro está acontecendo a 16° Campanha Estadual Fique Sabendo, que incentiva a testagens de ISTs. A prefeitura oferece a testagem gratuita nas unidades de saúde e também no SAE. A distribuição de preservativos está disponível em todos os serviços da rede municipal de saúde.
Santo André: Pessoas que apresentarem sintomas de infecção recente podem procurar o CME – Infectologia, na Vila Vitória, que avaliará a realização de exames laboratoriais para diagnóstico precoce. O exame de carga viral é realizado pelo IAL nos casos de infecção recente e consegue detectar a infecção pelo HIV no período da janela imunológica. Desde o ano passado, o laboratório da saúde pública do município também dispõe de um aparelho para exame de carga viral rápida. O laboratório do município consegue liberar o resultado de carga viral em cerca de 1 hora para casos específicos como gestantes.
São Bernardo: O Serviço de Atenção Especializada (SAE) do Programa Municipal IST/HIV/HV faz orientação, prevenção e assistência para toda a população. Neste mês, por meio da campanha Dezembro Vermelho, a mobilização é ampliada, com palestras e cursos de capacitação para todos os colaboradores, bem como abordagens de conscientização e educação em próprios públicos de grande circulação de pessoas, inclusive os jovens, como o Parque da Juventude. Todas as unidades de Saúde dispõe de preservativos internos, externos e gel, gratuitos. A testagem pode ser realizada no SAE e nas UBS de segunda a sexta feira, sem agendamento.
São Caetano: Programa Saúde na Escola (PSE) desenvolvido em parceria com o CEPADI. Os profissionais do programa juntamente com profissionais da saúde das UBS realizam palestras/rodas de conversas voltadas para a prevenção de IST e gravidez precoce. Há livre demanda para a realização de testes rápidos de sífilis, HIV e hepatites B e C, tanto no CEPADI, quanto PS, UPA e UBSs.