ABC - segunda-feira , 1 de julho de 2024

Atlas mostra que cidades do ABC sobem no ranking de violência do Estado

Polícia isola área de crime na rua Filinto Muller, em São Bernardo onde ocorreu homicídio. Crime aconteceu em dezembro de 2022 e vitimou um professor de 66 anos. (Foto: Reprodução Redes Sociais)

O Atlas da Violência, elaborado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foi divulgado esta semana e mostra que a taxa de homicídios nas cidades do ABC com mais de 100 mil habitantes aumentou em três cidades; Mauá, São Caetano e Ribeirão Pires, se manteve em São Bernardo e caiu em Diadema e Santo André, se comparado com o levantamento anterior, divulgado em 2019. O levantamento aponta ainda que só Santo André caiu no ranking paulista das mais violentas, passado de 7° para 8° lugar, as outras cinco cidades subiram.

O Atlas deste ano foi realizado com base nos números de 2022 e o de 2019 considerou os crimes ocorridos em 2017. A metodologia permitiu acrescentar aos números oficiais de homicídios aquelas ocorrências cuja natureza das mortes não foi estabelecida no momento do registro, os chamados homicídios ocultos.

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Os números do ABC mostram que há sete anos, Santo André era o município da região na posição mais alta do ranking paulista, ocupando a sétima colocação, seguida por Mauá, na 18ª colocação estadual, depois Diadema (31ª no Estado), São Bernardo (49ª), Ribeirão Pires (59ª) e São Caetano (69ª).

Em 2022 a liderança no ABC passou para Mauá, que também subiu 12 posições no ranking paulista e agora é a sexta cidade com maior índice de homicídios por 100 mil habitantes de São Paulo. Santo André passou a segundo na região, caiu uma posição no Estado e agora é a oitava entre as cidades paulistas mais violentas. Diadema manteve a posição de terceiro lugar no ABC porém subiu 12 posições e dentre os municípios do Estado, ficando com a 19ª posição no índice de mortes violentas.

São Bernardo caiu da quarta para a quinta posição no ABC. O município que era o 49º lugar no Estado, segundo o Atlas de 2019, agora ocupa a 24ª posição, galgando 27 degraus no sentido das mais violentas. São Bernardo foi superado por São Caetano que subiu da sexta posição no levantamento anterior para a quinta colocação regional.

Ribeirão Pires, apesar de descer para a sexta posição no ABC, no Estado subiu 23 posições no ranking paulista, passando da 59ª colocação no ranking anterior para a 36ª. Rio Grande da Serra não entra no ranking porque tem população menor que 100 mil habitantes.

São Caetano sobe 45 posições com alta de 68% na taxa de homicídio

São Caetano foi a cidade que subiu mais degraus se considerados os municípios paulistas que figuram no Atlas da Violência entre 2017 e 2022. A cidade subiu 45 degraus no levantamento, saindo da 69ª posição para a 22ª no Estado.

A explicação para essa alta é a própria taxa de homicídios por 100 mil habitantes que subiu 68,3%. No Atlas da Violência de 2019 São Caetano tinha taxa de 7,9 homicídios para cada grupo de 100 mil pessoas, no levantamento deste ano, feito com base nos números de 2022, o índice passou para 13,3.

Os homicídios ocultos, contribuíram para a conta de São Caetano subir. A cidade teve no ano de 2022 apenas dois homicídios computados, que se somaram aos 20 ocultos, para formar a taxa de homicídio estimada da cidade. Essa diferença tão grande entre os registros e os ocultos só foi verificada em três cidades na pesquisa, além de São Caetano isso também foi verificado em Santo André, que teve 35 registros e 109 homicídios ocultos, e em Mauá, com 25 homicídios registrados e outros 59 ocultos. Nas demais cidades a diferença foi menor.

Analise

Para o especialista em segurança pública, pesquisador e ex-secretário nacional de Segurança, José Vicente da Silva, o ABC é uma das regiões em que as mortes violentas voltaram a subir e é preciso fazer uma análise do perfil destes crimes para entender as causas e agir na prevenção. Silva participou do grupo de pesquisadores do Instituto Fernand Braudel, que em 2000 pesquisaram os homicídios em Diadema, que na época sofria com altos índices de violência. Esse trabalho identificou que a maioria dos assassinatos aconteciam dentro ou perto de bares que funcionavam na periferia sem alvará e que os crimes ocorriam por motivos fúteis, muitos relacionados ao abuso de álcool. Esse estudo levou à elaboração da Lei Seca que determinou o fechamento de bares entre as 23h e 5h.

José Vicente da Silva é especialista em Segurança Pública e atuou em Diadema, na pesquisa dos casos de homicídio, no ano 2000. (Foto: Alesp)

“Esses dados vem do Ministério de Saúde e são um pouco diferentes dos dados da Secretaria de Segurança Pública. Os números o IPEA, têm uma vantagem porque  contabilizam aquilo que os estados escondem, e o Estado de São Paulo é o pior neste sentido, que são os casos de morte violenta por causa indeterminada, que só depois se constata que eram homicídios. Mais de 70% destes casos são de homicídios e isso é um problema que a Polícia Civil de São Paulo tem que resolver. A preocupação que os dados demonstram que houve uma piora da mortalidade violenta. No ABC,  cidades como São Bernardo e Santo André, têm muitos recursos. São Bernardo, inclusive tem uma poderosa Guarda Civil Municipal com efetivo superior ao de PMs que trabalham na cidade, mesmo assim vemos uma piora dos indicadores, não tão pior como o levantamento nacional, mesmo assim não se pode deixar piorar porque São Paulo tem uma vanguarda importante na redução dos homicídios, em queda constante nos últimos 20 anos, mas temos algumas disparidades como vemos no ABC e outras cidades como Caraguatatuba”, diz o especialista.

“Os dados do IPEA chamam atenção para que as autoridades chequem os homicídios e verifiquem o perfil. Lá no ano 200o fiz um trabalho junto com o Instituto Fernand Braudel e pegamos cerca de 500 homicídios em Diadema e passamos um pente fino com recurso do banco mundial verificando qual o perfil das vítimas, onde morreram e em que circunstâncias, data e hora. Vimos que ocorriam nas proximidades de bares e isso é importante não só para a ação policial, mas para alguns instrumentos e políticas públicas da prefeitura. Em 200o percebemos que as mortes aconteciam nos botecos da periferia e sem alvará de funcionamento. Foi feita uma lei municipal para fechar bares e tivemos apoio dos vereadores. É preciso ficar de olho nestes indicadores que precisam de atenção”, completa José Vicente da Silva.

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