ABC - sábado , 29 de junho de 2024

Polícia investiga abuso sexual em creche de Diadema; investigados alegam inocência

DDM de Diadema investiga o caso e espera que dentro de 30 dias os laudos periciais tragam novos fatos. (Foto: Google)

A DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Diadema está investigando a denúncia de pelo menos quatro casos de abuso sexual em crianças que, segundo as informações iniciais, teriam ocorrido dentro de uma casa no bairro Jardim Campanário, onde funcionaria uma creche clandestina. Boletins de ocorrência foram registrados e exames periciais foram requisitados. Pelo menos uma criança foi diagnosticada com herpes genital, doença sexualmente transmissível. Em nota, a proprietária da creche e o marido negaram os abusos e dizem que vão provar isso ao longo da investigação.

Segundo a delegada titular da DDM de Diadema, Renata Cruppi, até o momento quatro famílias procuraram a polícia. “Essas famílias narraram algum tipo de violência e estamos fazendo levantamento para a investigação correr bem. Ouvimos os representantes da casa, que estavam com advogado, e não descartamos nenhum detalhe. Agora precisamos aguardar o laudo pericial para depois, se confirmado o estupro, confrontar com o material genético dos dois”, disse. Segundo Renata o casal está na condição de investigado.

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Nenhum dos dois cuidadores tem passagem pela polícia. Segundo a delegada e famílias ouvidas pelo RD, o local funcionava havia mais de 25 anos cuidando de crianças de várias idades. “Tem casos de pessoas que foram cuidadas nesta casa que já trouxeram seus filhos”, disse Renata. A informação é confirmada por pais que contaram que o local era altamente recomendado. A delegada diz que há diversas diligências sendo feitas, mas a investigação depende dos laudos periciais que devem sair em cerca de 30 dias.

As suspeitas começaram no dia 24/05 quando A.R., mãe de uma menina de seis anos e de um menino de dois, recebeu queixas da menina, que reclamou de dores para urinar. Ao examinar a filha percebeu algumas lesões na parte íntima e, em uma conversa com a tia, que é assistente social, a criança contou que o homem que trabalha na creche a teria tocado. “Ela contou que o tio lambia o bumbum dela”, reproduziu a mãe que, de imediato levou a criança ao Hospital da Mulher Pérola Byington, na Capital, onde foram feitos exames constatando que a criança tinha herpes. De lá mãe e filha foram encaminhadas para a Delegacia da Mulher do Cambuci onde foi feito o registro e o caso encaminhado para a DDM de Diadema.

“Ela não queria ir para lá de jeito nenhum, mas eu achei que era cansaço, porque ela acordava muito cedo, ia para a escola das 7h até as 16h e depois a perua deixava ela na creche onde ela ficava até as 19hs quando eu chegava do trabalho. Eu não sabia, achava que era só cansaço mesmo. Depois que fiz um grupo de mães outros casos apareceram, eu não sabia que isso era tão grande assim. Eu fui até lá, com outras mães e ela (dona da creche) nos atendeu com frieza, senti que para ela não foi surpresa. Ela estava mais preocupada com o grupo que eu criei do que com a violência sexual. Ela negou, mas quis conversar comigo em particular e eu não aceitei”, completa a mãe. O filho mais novo de A.R. também apresentou um comportamento estranho em que não deixava que ninguém trocasse sua fralda, mas não foram vistos sinais de qualquer tipo de violência no corpo do menino.

Depois do surgimento deste primeiro caso, outro, ocorrido há oito anos, surgiu e também é investigado. Trata-se de uma menor também de seis anos de idade, mas que hoje tem 14. D.S.B, irmã mais velha da adolescente diz que na época a dona da creche disse à sua mãe que ocaso poderia ter ocorrido em outro lugar. “Ela (dona da creche) conseguiu abafar o caso na época”, disse.

D.S.B tem um filho de sete anos que ficava na creche clandestina e foram pedidos exames periciais para a criança também. “Ele ficava lá quando era bebê e já estava acostumado, conhecia bem a casa. Ele ficava lá de tarde, depois da escola. Eram muitas crianças, “, conta.

Delegada Renata Cruppi disse que o casal de cuidadores está sendo ouvido na condição de investigado. (Foto: Reprodução RDTv)

As famílias e a polícia disseram que o casal de cuidadores deixou a casa e não está mais em Diadema. A delegada Renata Cruppi contou que a polícia está em contato com a advogada do casal e tem o atual endereço. A delegada informou também que mesmo em relação ao caso ocorrido há oito anos é possível colher informações e os psicólogos conseguem excluir falsas memórias do relato e focar nas memórias reais da jovem. “O que foi narrado bate com o depoimento das outras crianças, de que as agressões teriam ocorrido na hora do sono das crianças. Uma deles disse que sentia que era tocada mas não abria o olho por medo”, explica.

A prefeitura de Diadema, questionada sobre a atuação do Conselho Tutelar no caso, disse que não passaria informações com o conteúdo das denúncias. “Em relação ao questionamento sobre o Conselho Tutelar (CT), o órgão tem autonomia para atuar na proteção dos direitos de crianças e adolescentes e está ciente do caso. Entretanto, não será fornecida nenhuma informação sobre o andamento das denúncias, já que os atendimentos do CT são protegidos pelo sigilo para preservar a identidade da(s) criança(s).No que se refere à Secretaria de Saúde de Diadema, os munícipes e famílias que demandaram os serviços da pasta, estão sendo atendidos e acompanhados pela equipe da UBS de referência, que conta inclusive com atendimento de serviço social, de acordo com o protocolo do município”, informou a administração municipal, em nota.

Ameaças

De um lado as mães temem que eles fujam. “O nosso medo é que esse caso fique esquecido e eles abram uma nova casa em outro lugar para continuar fazendo isso”. completa D.S.B.. De outro lado o casal, que pediu para não ser identificado, que relata que tem sido vítima de ameaças. Em carta enviada ao RD eles reforçam a inocência e dizem que vão prová-la no decorrer da investigação.

Leia a íntegra da carta enviada pelo casal investigado:

“Estamos vivendo um momento de grande abalo emocional, e nesse primeiro momento, em decorrência das graves ameaças a nossa integridade física, entendemos que, qualquer tipo de exposição não irá restabelecer a nossa segurança, bem como ainda afetará negativamente a apuração dos fatos, já que, a investigação encontra-se em fase preliminar.

É importante esclarecer que, não concederemos entrevistas e pedimos que, o Vosso Programa atue com responsabilidade jornalística, não expondo nossas identidades e tão pouco dados sensíveis, como nosso endereço, fotografias e entre outras informações de foro íntimo, sob pena de violação de privacidade.
Pois, esclareço que, há mais de 25 anos, presto esse serviço de cuidadora na comunidade e jamais, me deparei qualquer espécie de denúncia.

Nesse sentido, enfatizo que, tanto o meu Marido, quanto minhas filhas e eu, estamos firmes da inocência e que, aguardaremos os desdobramentos do processo de investigação em andamento para apurar a denúncia de forma justa e precisa, deixando claro que, colaboraremos sem medir esforços com as autoridades, para que tudo possa ser devidamente investigado e esclarecido.

Acreditamos na justiça e confiamos que, ao final desse processo investigativo, a verdade prevalecerá. A privacidade e a segurança da nossa família são primordiais, e, tomaremos todas as medidas cabíveis para protegê-las.

Como jornal de grande relevância, repercussão e propagação local, contamos com a vossa isenção e a responsabilidade jornalística na apuração dos fatos, destacando que, a denúncia encontra-se em sua fase inicial, qualquer julgamento de clamor social praticado pelo jornal de maneira parcial e sensacionalista, será devidamente denunciada, e as medidas legais serão tomadas.

Embora, para o jornal diário seja somente uma das pautas corriqueiras do dia, para nossa família trata-se claramente de caso de vida ou morte.
Acreditamos e esperamos que, possam ter empatia com a nossa situação, e peço que, não insistam, pois, é sabido que, não tem sido dias fáceis, todavia, não descansaremos até que tudo seja devidamente esclarecido e comprovado pela investigação em curso.”

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