
Hortas comunitárias são espaços coletivos de cultivo de vegetais, frutas, ervas e outros alimentos, situados principalmente em áreas urbanas e periurbanas, geridos por uma comunidade ou grupo de pessoas que partilham a responsabilidade pela manutenção e colheita das plantas.
No ABC, são aproximadamente 208 hortas comunitárias e 91 escolares, entre Diadema, Santo André e São Caetano. Mas, apesar das iniciativas para a sustentabilidade e segurança alimentar, uma parcela de agricultores urbanos relata a falta de incentivo por parte das administrações para o desenvolvimento dos trabalhos.
Em Santo André, por exemplo, o Serviço Municipal de Saneamento Ambiental (Semasa) identificou através de diagnóstico 175 hortas urbanas e 25 hortas escolares ativas. Mesmo que essas plantações se destaquem pelo cultivo de ervas medicinais, temperos, verduras, frutas e legumes, com produções mensais que variam de 11 a 5.000 mudas, são poucos profissionais em ação e investimento no setor.
Jézer Franco, co-fundador da Horta Campo Verde e atuante como agricultor urbano em Santo André, comenta que a horta foi criada em 2019 como espaço terapêutico, mas tornou-se uma oportunidade de negócio e tem crescido dia após dia. “Em 2018, meu pai começou a desenvolver um quadro depressivo e demonstrou interesse por desenvolver a horta. No início, foi um espaço terapêutico, mas agora cresceu tanto que precisamos de ajudar para manter”, relata Jézer.
Segundo ele, a Horta Campo Verde produz atualmente até 36 mil unidades de alface por mês. E apesar do sucesso, é preciso investimento para que o trabalho ganhe andamento. “Estamos iniciando só agora um contato maior com o Semasa e esperamos construir uma ponte legal para dar os primeiros passos nesse sentido de garantirmos apoio para continuar o trabalho”, afirma o agricultor esperançoso.
Para se ter ideia, 49% das hortas situadas na cidade comercializam seus produtos, enquanto o restante é destinado ao consumo próprio, doação ou compostagem. No total, 278 agricultores estão envolvidos nessas atividades, enquanto as hortas escolares possuem foco pedagógico.
Rafael Ramos, outro agricultor da região, iniciou sua horta em 2015 e hoje vive exclusivamente dessa atividade. Ele também aponta a ausência de suporte da prefeitura. “Nunca houve qualquer tipo de ajuda ou apoio”, afirma Rafael, que sugere soluções como a doação ou venda de matéria orgânica, poda de árvores e restos de feiras, atualmente descartados em aterros, mas que poderiam ser utilizados para nutrir o solo das hortas. “Fico indignado, pois a prefeitura gasta muito dinheiro levando essas matérias para o aterro, e para nós esse material seria excelente”, desabafa.
Ações e projetos
Em resposta, a prefeitura de Santo André informa que investe em iniciativas para fortalecer a agricultura urbana. Uma delas é o Programa Composta Santo André, que visa estimular a compostagem de resíduos orgânicos, enquanto o projeto Quintal Verde, na Vila Guiomar, está sendo implementado como um espaço de referência em práticas agroecológicas.
A prefeitura também oferece cursos gratuitos de extensão agroecológica e trabalha na elaboração da Política Municipal de Agricultura Urbana e Periurbana.
Hortas comunitárias para aposentados e moradores
Em Diadema, o Programa Agricultura Urbana envolve mais de 400 moradores que cultivam hortaliças, chás e temperos sem agrotóxicos em 33 hortas comunitárias distribuídas pelos 11 bairros da cidade. Parte da produção é comercializada, enquanto o restante é consumido pelos próprios agricultores ou compartilhado com familiares e amigos. A maioria dos participantes, composta principalmente por aposentados, vê no programa uma forma de melhorar a qualidade de vida e promover o plantio sustentável, além de complementar a renda.
Um exemplo é Ivonete Chagas, moradora de Diadema, que cuida de canteiros na Horta Comunitária Sesi II há mais de 14 anos. “Para mim, uma alimentação saudável não tem preço. É muito bom poder colher uma fruta ou uma verdura fresquinha que nós mesmos plantamos”, conta Ivonete. Ela percebeu o grande potencial das hortas e desde então não as largou mais. “Não lembro quando foi a última vez que fui a uma feira comprar frutas, legumes, verduras”, diz.
Já São Caetano implantou hortas em todas as 66 escolas da rede municipal, com foco pedagógico e no enriquecimento da merenda escolar. O cultivo e a colheita dos alimentos são realizados com o apoio do projeto social “Mães Acolhedoras”, que envolve 620 mães de alunos em situação de vulnerabilidade econômica. Essas mães, capacitadas pela Escola Municipal de Ecologia, recebem ajuda de custo para colaborar com a manutenção das hortas e auxiliar na alimentação das crianças.
Outras cidades
As prefeituras de São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires foram contatadas sobre a situação das hortas comunitárias em seus municípios, mas não responderam até o fechamento da matéria. Já Rio Grande da Serra informou que não possui hortas comunitárias na cidade.
Ações sociais
Jézer compartilha que, ao longo da trajetória da Horta Campo Verde, foram realizadas diversas ações sociais, incluindo parcerias com asilos e ONGs. Atualmente, a horta concentra seus esforços em um projeto específico voltado para comunidades e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
“Atualmente, estamos em parceria com alguns voluntários e doadores de alimentos, o que nos permite produzir cerca de 150 marmitas e ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social”, explica Jézer.