
Esta semana a CAE, Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, aprovou um projeto de lei que cria o Programa Brasil de Semicondutores, o Brasil Semicon que estende e aumenta incentivos para o setor. A proposta pode mudar o cenário industrial no País. Os semicondutores são essenciais para o desenvolvimento das tecnologias que impulsionaram a terceira e a quarta revolução industrial, sendo a base para dispositivos como computadores, smartphones e sistemas que suportam automação, inteligência artificial e internet das coisas.
Sem uma indústria robusta de semicondutores, é impossível acompanhar a inovação tecnológica e participar ativamente das transformações econômicas e sociais globais.
O professor da Strong Business School, em Santo André, e assessor especial do Ministério da Ciência e Tecnologia, Euzébio Jorge Silveira de Sousa , lembra que nos anos 1980, o Brasil interrompeu o desenvolvimento de sua indústria por não conseguir adentrar plenamente na terceira revolução industrial, o que limitou seu crescimento econômico e sua capacidade de inovar. No entanto, a atual reconfiguração geopolítica mundial e a possibilidade de uma transição ecológica abrem novas oportunidades para o Brasil. O país pode se transformar em um produtor de tecnologias de baixo carbono, alinhando seu desenvolvimento com as demandas globais por sustentabilidade e inovação.
Base tecnológica
O profissional afirma que o Programa Brasil Semicon surge como uma iniciativa crucial para o avanço tecnológico do Brasil. Focado na pesquisa, inovação, produção e aplicação de semicondutores, displays e painéis solares, o programa visa criar uma base tecnológica robusta, capaz de impulsionar a economia e diminuir a dependência de importações. A consolidação dessa indústria é estratégica para o Brasil, permitindo uma inserção qualificada no comércio internacional e colocando o país em um patamar competitivo, com potencial para exportar produtos de alta tecnologia.
Euzébio Jorge explica que o programa exige que as empresas beneficiadas invistam 5% de seu faturamento bruto em pesquisa e desenvolvimento, com flexibilidade para alocação desses recursos em projetos de interesse nacional. Esse investimento contínuo é essencial para manter o Brasil competitivo, especialmente em setores estratégicos como o de semicondutores. Além disso, a produção local de semicondutores permitirá a criação de supercomputadores com tecnologia própria, aumentando a autonomia tecnológica do país e reduzindo a dependência de componentes importados.
Com uma indústria sofisticada de semicondutores, o Brasil avança em direção ao desenvolvimento sustentável e à superação de seus problemas estruturais. A criação de uma base tecnológica sólida não só impulsiona a economia, mas também contribui para a redução das desigualdades sociais, gerando empregos qualificados e promovendo a inclusão digital.
Oportunidade estratégica
Para o professor de Consultoria de Negócios Estratégicos da Strong Business School, a Valmir Conde, a aprovação da PL dos Semicondutores também cria oportunidade estratégica para o ABC, um polo industrial automotivo que pode se tornar um destino atraente para novas indústrias de tecnologia.
A instalação de empresas de semicondutores na região pode otimizar a cadeia produtiva local, fortalecer ainda mais seu cenário econômico e tecnológico. Durante a pandemia, a falta de semicondutores afetou a produção de veículos, em várias fábricas da região, algumas montadoras chegaram a cancelar turnos de produção, impactando toda a economia do ABC. Com a nova legislação, a região tem a oportunidade de se fortalecer, reduzir a dependência de importações e aumentar a competitividade global.
Valmir diz que uma indústria forte de semicondutores no Brasil beneficiará o consumidor final, que poderá ter acesso a produtos a preços mais competitivos. A produção local de semicondutores é fundamental para a implementação de um plano nacional de desenvolvimento de inteligência artificial e para a criação de soluções tecnológicas que atendam às necessidades da sociedade brasileira. “O fortalecimento dessa indústria é crucial para alinhar o crescimento econômico do país com a justiça social e a preservação do meio ambiente, construindo um futuro mais próspero e equitativo para todos”, completa.