No dia 6 de outubro ocorre o primeiro turno das eleições municipais em todo o país, quando a população decide quem será o próximo prefeito e vereadores dos próximos quatro anos. No ABC, a corrida eleitoral gera algumas discussões, envolvendo temas como a influência da capital, a polarização entre Lula e Bolsonaro, o apoio do governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), a busca pelo voto evangélico e a crise do PSDB.
Cada candidato nas sete cidades da região aproveita o período de campanha para firmar parcerias e apresentar suas propostas à população, sendo também influenciado por eleições em outras regiões, como a da capital. Em entrevista ao RDtv, o professor de Ciência Política da UFABC (Universidade Federal do ABC), Diego Corrêa, comenta que tal situação não ocorre na região da mesma forma, pois os partidos têm uma postura mais autônoma e local.
“Acredito que os eleitores do ABC prestam atenção nas eleições da capital porque é uma cidade grande. Mas, na hora de votar, eles se concentram mais na conjuntura local, desconsiderando o que acontece fora de sua cidade”, explica.

Polarização
Outro fator que o professor diz que não tem tanta influência na hora do voto envolve a polarização criada desde 2022, entre Lula e Jair Bolsonaro, esquerda e direita. Em sua análise, poucos candidatos do ABC se alinharam ou assumiram parceria com alguma dessas duas figuras.
“Claro, os partidos de esquerda como o próprio PT (Partido dos Trabalhadores) assume naturalmente um posição de parceria com o presidente Lula, mas do outro lado, não temos algum candidato que usa da figura de Bolsonaro para buscar voto”.
Para Corrêa, é perigoso se aproximar das figuras de Lula ou Bolsonaro por conta da polarização, que ao mesmo tempo que atrai um eleitorado assíduo, leva consigo uma autodefinição que rotula o candidato. No ABC, o mais próximo que se tem de contato com o bolsonarismo é com o candidato a prefeito de São Bernardo, Alex Manente, que trouxe o vereador Paulo Eduardo, do PL (Partido Liberal), próximo a Bolsonaro.
Especificamente em Santo André e São Bernardo, o especialista afirma que parte da queda do petismo nos cargos políticos está ligado com a desindustrialização, que implica na diminuição da base de trabalhadores de fábrica e reverte o munícipe para um perfil mais especializado em serviços, de classe média e alta, que configura parte do eleitorado bolsonarista.
Tarcísio Gomes de Freitas
A busca pelo apoio do governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), é estratégia para candidatos que visar se alinhar (em caso de vitória) para pôr em prática suas propostas de governo. Porém, para Corrêa, o governador eleito em 2022 não é o mesmo em 2024, o qual se desvinculou do bolsonarismo e adotou uma postura mais do “centrão”.
“Tarciso tem uma característica distinta do Bolsonaro. Por ser menos polarizante, tem um discurso mais moderado em diversos aspectos, que não gosta de tomar partido entre as figuras do PT e PL. É uma estratégia menos arriscada se afiliar a ele, apesar do próprio Tarcísio dizer que só decretará apoio em casos de segundo turno”, explica.

Busca pelo voto evangélico
A busca pelo voto evangélico ficou marcada na eleição de 2022, principalmente pelo espectro direitista, fortalecendo o discurso com uma pauta de costumes mais conservadora. Corrêa analisa que as forças das igrejas possibilitaram que a religião se tornasse pauta não só para a direita, mas para a esquerda. “Esse movimento acontece devido à organização das igrejas, que por vezes orientam voto para determinado político, seja de esquerda ou direita, aumentando o foco nesse público”.
Esse tópico chama atenção do docente: o eleitorado evangélico tem uma peculiaridade que poucos eleitorados possuem de algumas de suas características típicas de eleitor. Há eleitores evangélicos trabalhadores de classe social mais baixa que são alvo de candidaturas de esquerda, que moram nas periferias e favelas. Contudo, neste mesmo eleitorado, há os evangélicos conservadores em termos de costumes, sendo contra o aborto e com críticas a casamento homossexual, por exemplo.
Apesar das pautas dos candidatos envolverem temas como saúde, educação e segurança, o especialista ressalta que ter pautas de costumes são atraentes para o público evangélico.
Futuro do PSDB
O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) foi protagonista nas eleições municipais de 2020 com quatro prefeitos e 28 vereadores eleitos no ABC. Hoje, a região conta apenas com dois prefeitos filiados aos tucanos, sendo Paulo Serra de Santo André e Orlando Morando de São Bernardo. O PSDB, que já foi visto como antagonista do PT, hoje segue com candidatos se desvinculando do partido.
“O PSDB foi uma das vítimas da polarização que ocorreu em 2022, em que o Brasil foi dividido em PT e PL. Acontece que este partido foi ofuscado por não tomar decisões que mais contundentes em suas propostas, diferentes dos dos outros dois, e claramente de não figuras tão presentes no cenário nacional como Lula e Bolsonaro”, diz Corrêa.