
Com ingressos esgotados, encerra neste domingo (15/09) a 27ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, feira que une amantes dos livros em um só lugar. A feira, que prevê receber mais de 600 mil pessoas até o seu encerramento, se tornou um espaço plural para todas os gêneros e movimentos. Como parte deste processo, a representatividade feminina marcou presença principalmente por escritoras do ABC que lançaram suas obras no evento.
Corpo feminino
Presente na sexta-feira (13/09), Nathalia de Oliveira (32 anos), lançou na Bienal do Livro SP a sua obra “[i] de Injúria”, pela Editora Pedro e João. A são-bernardense escreveu a obra com base em sua pesquisa de mestrado chamada “Corpos injuriados na escola, problematizações para o ensino de Filosofia”, desenvolvida na UFABC (Universidade Federal do ABC) que recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Teses e Dissertações de 2022.
A temática surge para Nathalia quando um grupo de suas estudantes se mostram incomodadas do modo que seus corpos são tratados no espaço escolar. “Elas me procuraram pedindo que desenvolvesse algum projeto para os meninos serem educados a respeitá-las”. Com essa prerrogativa, a professora identificou que não eram só os corpos femininos que eram violentados no espaço escolar, mas todo corpo que não estava dentro daquilo considerado “padrão”.
Desse modo, a obra se trata de uma pesquisa realizada em escolas de São Bernardo, na qual buscou a compreensão, desnaturalização e possível (des)construção dos discursos a respeito dos corpos injuriados na escola, revisitando estereótipos, clichês e preconceitos acerca de representações de gênero, que visam fabricar, ditar, sancionar, vigiar e controlar determinados padrões de normalidade.

“Espero que o ‘[i] de injúria’ e os verbetes ali presentes afetem as pessoas leitoras e permita-nos construir um mundo mais equitativo, mais inclusivo, onde todos possam ser quem são!”, ressalta Nathalia.
“Sempre que possível estive presente na Bienal, mas nunca imaginei em voltar como autora. Sou aluna oriunda de escola pública, e hoje sinto que apesar das dificuldades, podemos chegar a espaços inimagináveis”, diz Nathalia. Na feira, se encontrou com cantora Nilze Benedicto, na qual recitou trechos de sua obra enquanto cantava.
Representação indígena
De Ribeirão Pires, a cacica do povo Pataxó Hã Hã Hãe, Jaqueline Haywã (53 anos), leva para Bienal do Livro não apenas o lançamento de sua obra, mas toda uma representatividade que contribue para a pluralidade da feira. “A expectativa é grande. Nunca imaginei que uma mulher indígena pudesse ocupar esse espaço e receber tanto carinho. E desta vez, 11 pessoas da minha família e de outras etnias estarão comigo”, diz.
A cacica participou do lançamento da obra “Feminino Coletivo”, coletânea que inclui 16 poemas de diversas escritoras (inclusive de Jaqueline), no dia 7 de setembro pela Editora SPVI Book. A autora diz que se emocionou na celebração, em que junto com outras representantes indígenas dançou Toré (dança indígena).
Já no domingo (15/09), às 15h, Jaqueline participa de uma sessão de autógrafos do seu primeiro livro “Reconstruindo a História”. A obra contém poemas que relatam histórias que passou e sentiu ao lado de sua avó Angelina, Pataxó Hã Hã Hãe da etnia Kariri Sapuyá, expulsa brutalmente de suas terras por fazendeiros.
“Espero que quem ler os meus poemas faça uma reflexão sobre a disseminação do povo indígena da mesma família Pataxó Hã Hã Hãe até Ribeirão Pires e outras

cidades do ABC. É sobre uma história de um povo contada pelo próprio povo desmistificando a ideia de que existem indígenas apenas nas aldeias”, comenta Jaqueline.
Educação e pandemia
Pedagoga de São Bernardo, Kely Cristina Santos (53 anos), tem 37 anos na educação, formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FASB/1992), sendo uma das responsáveis pela implantação do EJA (Educação de Jovens e Adultos) no município entre os anos de 2012 e 2016. E é com essa bagagem que ela lançouo livro “A Escola: EJA – Uma Educação para e com Educandos Adultos em Meio à Pandemia” na Bienal do Livro, publicada pela editora Appris.
“Comparecer como escritora na Bienal é indescritível. Sou uma consumidora compulsiva de livros, sejam eles na área da educação ou não. Sempre estive presente em todas as edições há pelo menos trinta anos e é uma emoção muito grande. Dessa vez a experiência supera minha expectativa enquanto uma educadora que preza pela qualidade do que faz”, relata Kely.
A obra em questão aborda o lado da educação em plena pandemia, causada pela covid-19. Diretora Escolar há 20 anos, Kely conta no livro alguns registros da época em que tomou decisões e aplicou medidas para garantir a excelência na qualidade de ensino para os seus alunos. Assim que as atividades retornaram ao presencial, a autora decidiu então unir essas anotações em um obra e contar o que pôs em prática para a escola obter sucesso na condução das suas responsabilidades.
No evento, a pedagoga encontrou leitores que também tinham interesse pela área educacional, e compartilhou alguns dos seus aprendizados entre eles. “Estar junto a tantos outros leitores presentes diariamente no evento coloca em dúvida se somos mesmo uma população que não lê. Dividir conhecimento em um espaço tão diverso, com tantos perfis é a maior expectativa na Bienal”, comenta.