ABC - terça-feira , 22 de abril de 2025

Especialista diz que violência não é rara em campanhas, polarização que aumentou

Leandro abaixa e corre para não ser atingido pelos tiros (Foto: Reprodução)

Em dia posterior a uma terça-feira de violência na política do ABC, que culminou com um candidato encontrado morto e outro alvo de tiros, políticos mantiveram suas atividades de rua. Apesar dos crimes serem investigados e as duas vítimas serem filiadas ao União Brasil, não há informações sobre ligação entre os casos. Para especialista em Direitos Humanos ouvidos pelo RD, a violência mirando postulantes a cargos eletivos não são raros nas eleições brasileiras, mas para ele a situação tem se agravado por causa da polarização e da influência das redes sociais nas campanhas.

Na terça-feira (24/09) o candidato a vereador em Santo André Luis Antonio de Jesus Barbosa, o Luis Lampião (União Brasil) foi encontrado morto em um carro em Diadema. A vítima estava dentro de um carro abandonado na rua Caramuru, na Vila Conceição. O corpo estava enrolado e um corbetor amarrado com uma corda. A família rastreou o carro que a vítima usava e assim ele foi localizado. A Secretaria de Segurança Pública informou que o caso foi registrado como homicídio e é investigado pela Delegacia de Homicídios da Seccional de Diadema.

Newsletter RD

Lampião tinha 57 anos, era vigilante e essa foi a segunda eleição da qual participava. Em 2020 ele também tentou o cargo de vereador, mas ficou apenas como suplente. Ele estava desaparecido desde sábado (21/09). Em nota a coligação que tem como candidato a prefeito de Santo André, Eduardo Leite (PSB) manifestou pesar. “Nós, da campanha do candidato a prefeito Eduardo Leite (PSB), nos solidarizamos com a família do candidato a vereador Luis Antônio de Jesus Barbosa (União Brasil) pelo ocorrido nesta terça-feira (24). Com profunda tristeza, lamentamos o falecimento de Luis Antônio, que era conhecido como Luis Lampião e compunha o quadro de candidatos a vereador da coligação Pra Santo André Avançar Ainda Mais. Luis Lampião tinha 57 anos e trabalhava como vigilante. Natural de Santo Estêvão (BA), concorria ao cargo de vereador, pelo União Brasil. Desejamos que Deus conforte o coração dos familiares e amigos.

Luis Lampião tinha 57 anos e foi encontrado morto em um carro abandonado em Diadema. (Foto: Reprodução)

O outro caso ocorrido também na terça-feira (24/09) foi em Mauá. O candidato a vereador Leandro Hernandez Felipe, o Leandro GFF (União Brasil), foi alvo de tiros. O caso aconteceu em frente ao comitê, no bairro Parque São Vicente. Um motociclista passou em frente ao local, quando o candidato estava na calçada, falado ao telefone. Foram vários tiros na sua direção efetuados por um homem que estava de moto. Felipe se abaixou e correu para dentro do imóvel e conseguiu escapar dos tiros. O motociclista fugiu. Quando correu para se abrigar dos tiros, Felipe se feriu levemente e foi medicado. A polícia esteve no local que será periciado. Alguns dos disparos atingiram a fachada do imóvel. O caso é investigado pelos policiais do 1° Distrito Policial de Mauá.

Para o advogado, professor de direitos humanos e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) paulista, Frederico Afonso, os embates mais fortes e a violência que permeia as campanhas políticas não são novidade no país, que em campanhas já viu candidatos serem ameaçados, baleados e até mortos. O que, na opinião do professor, é novo e que pode demonstrar maior virulência da campanha é a exposição desta violência nas redes sociais e nos debates televisivos.

“Você tem um apresentador de televisão, o Datena, que tem o público de mais idade como expectadores,  que vai na Tv e dá uma cadeirada no outro, depois vem o assessor do Pablo Marçal agredindo o assessor do Ricardo Nunes, sendo que neste último a vítima parece que tentou tomar o celular do outro, então a gente vê que parece que foi de propósito, que o Marçal esperava uma cadeirada como se o assessor do Ricardo Nunes esperasse um soco no supercílio que sangra bastante e é uma imagem forte. Há um excesso de violência, como aconteceu no ABC com um morto e outro alvo de tiros”, analisa Afonso.

Professor Frederico Afonso dá aulas de Direitos Humanos e considera que não é possível cravar que a violência nas campanhas aumentou, mas que a polarização tornou a campanha mais tensa. (Foto: Reprodução)

O professor cita casos como o do ex-presidente americano, Donald Trump, que levou um tiro na orelha, mas há vários casos relatados no Brasil, o mais recente foi o episódio em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda em campanha, foi esfaqueado em uma atividade de rua. ou o caso da vereadora Marielle Franco e seu motorista, mortos em uma emboscada no Rio de Janeiro. “Eu vejo como motivo o excesso da polarização. Eu digo que a suspensão do X (antigo Twitter) deu uma segurada porque essa é a rede social mais beligerante que existe. O Pablo Marçal trouxe um jeito escancarado, escrachado. Eu acho interessante quando as pessoas falam que ninguém está discutindo sobre a cidade como se prestassem atenção nisso. O cara (Marçal) é um Às nas redes sociais e trouxe uma questão diferenciada, alimentando a discórdia, falando verdades ou mentiras que servem para a projeção das redes sociais as quais ele domina”, aponta.

Afora as brigas e discussões em frente às câmeras, sobre os episódios de violência com candidatos, o professor avalia que, em geral, eles acontecem. O Grupo de Investigação Eleitoral da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) fez uma pesquisa sobre a violência política no país e apurou que de 2019 a 2020 foram 485 casos de violência na última eleição municipal. “Não consigo dizer que essa é a eleição mais violenta, mas é a eleição da cadeirada e do assessor que deu um soco em outro. Será que não estão focando mais nisso? Atendado sempre tem, toda eleição tem vereador morto, portanto fico resistente em falar que essa é a eleição com  violência sem precedentes, mas uma cadeirada num debate que foi noticiada no mundo todo e isso não tem precedentes. Os ânimos mais acirrados também é algo que não tem precedente; agora falar que essa é a eleição da violência, não sei, precisamos de um levantamento mais preciso para afirmar. Isso sempre teve, mais ou menos mas, repito, se houve um aumento, isso se deve à polarização”, completa.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes