
A Comissão da Infância, Juventude e Adoção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santo André promoveu, na noite de quarta-feira (25), um evento voltado à discussão da saúde mental dos adolescentes.
Intitulado “Saúde Mental do Adolescente: Eu, Adolescente: Você Sabe Como Me Sinto? Vamos Conversar?”, o encontro fez parte das ações da campanha Setembro Amarelo, voltada para a prevenção do suicídio.
O evento contou com a participação de diversos profissionais da saúde, destacando-se as palestras de Lígia Nóbrega Reato, hebiatra da Faculdade de Medicina do ABC, e Carlos Jordan, hebiatra e psiquiatra. Ambos abordaram temas centrais relacionados à saúde mental dos jovens, como depressão, ansiedade e o impacto das desigualdades sociais no bem-estar psicológico dos adolescentes.
Evento
O evento surge a partir de uma colaboração entre a Comissão da Infância, Juventude e Adoção da OAB de Santo André e o apoio da hebiatria da Faculdade de Medicina do ABC. O intuito inicial é promover uma roda de conversa onde os adolescentes possam se abrir e discutir temas de saúde mental, além de conhecer mais sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“A ideia era que esses jovens pudessem conversar com profissionais da área de saúde mental e ter um momento para falar sobre si, como se sentem, para que também possam ser ouvidos. Podemos dizer que o evento foi um sucesso; os adolescentes adoraram”, explica Eliane Mendes, professora e advogada, membro da Comissão da Infância, Juventude e Adoção da OAB de Santo André.
Aproximadamente 50 estudantes de duas escolas de Santo André participaram do evento: o Colégio Estadual Dr. Américo Brasiliense e o Colégio Muriah, uma instituição particular. Os adolescentes tiveram a oportunidade de se manifestar sobre o tema por meio da arte, apresentando músicas, poesias e desenhos, que compuseram uma exposição no hall da OAB.
Discussão ampla e interativa
Além das palestras, o evento proporcionou um espaço de debate por meio de rodas de conversa que reuniram médicos, advogados, psicólogos, assistentes sociais, professores, diretores escolares, estudantes, familiares e membros da comunidade. A troca de experiências e informações foi considerada produtiva pelos presentes, reforçando a importância de um diálogo aberto e contínuo sobre saúde mental na adolescência. Também houve uma apresentação musical da banda do Colégio Estadual Dr. Américo Brasiliense, o que tornou o evento mais leve e descontraído para os jovens.
A Dra. Lígia Nóbrega destacou a crescente deterioração da saúde mental entre os jovens e apontou a influência das pressões sociais e econômicas nesse processo. O Dr. Carlos abordou as diferentes formas de sofrimento emocional vivenciadas pelos adolescentes, como estresse, insônia e ansiedade, e explicou a importância de identificar precocemente os sinais de perigo, como o isolamento e as mudanças de comportamento.
Por sua vez, a psicóloga Dra. Graziela enfatizou a necessidade de fortalecer o apoio familiar e social, incentivando atividades que promovam o bem-estar, como praticar esportes, sair da rotina das redes sociais e valorizar os momentos em família e com amigos.

Setembro amarelo
Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, criada em 2015 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O objetivo é sensibilizar a população sobre a importância da saúde mental e estimular o diálogo sobre um tema ainda considerado tabu.
O suicídio entre jovens é crescente e preocupante, sendo a segunda principal causa de morte entre indivíduos de 15 a 29 anos, segundo dados da OMS. No Brasil, entre 2011 e 2018, a taxa de suicídio entre jovens de 10 a 19 anos aumentou 14%, com fatores como depressão, ansiedade e falta de acesso a serviços de saúde mental de qualidade contribuindo para essa situação.
Pesquisas indicam que 30% dos adolescentes brasileiros já apresentaram sintomas de depressão ou ansiedade. A pandemia de COVID-19 agravou esses problemas, com um aumento significativo nos relatos de crises de saúde mental entre crianças e adolescentes. Um estudo da Unicamp revelou que 80% dos jovens em atendimento psiquiátrico relataram piora nos sintomas durante o isolamento.
Carlos Jordan destaca os sinais de alerta para problemas psicológicos em jovens, como alterações no apetite e no sono, queda no rendimento escolar, falta de autocuidado, isolamento social e perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas. Ele enfatizou que a identificação precoce desses sinais é crucial para evitar a piora do quadro.
Campanha
A campanha Setembro Amarelo visa conscientizar sobre a prevenção do suicídio e fortalecer redes de apoio entre familiares, amigos, educadores e profissionais de saúde. A OAB de Santo André promoveu atividades e palestras para incentivar diálogos abertos sobre saúde mental, ressaltando a importância do cuidado psicológico no desenvolvimento saudável dos jovens.
O psiquiatra ressaltou o papel dos pais na identificação desses sinais, alertando que muitas vezes eles não reconhecem os problemas devido à rotina ou ao estigma em torno da saúde mental. Ele recomendou que os pais estejam atentos e abertos ao diálogo. Em casos graves, o uso de medicações pode ser necessário, pois são seguras e eficazes na adolescência.
Além disso, o uso excessivo das redes sociais e a pressão por padrões estéticos e de sucesso podem agravar esses transtornos. Jordan enfatizou a importância de uma abordagem equilibrada em relação às redes sociais, destacando a necessidade de regulamentação e conscientização sobre seu uso moderado, sem sobrecarregar pais e escolas.
O papel da sociedade e do poder público
A vice-presidente da Comissão da Infância, Juventude e Adoção, Dra. Priscila Frade, ressalta a importância de ampliar o debate sobre saúde mental e o papel fundamental da família, da sociedade e do poder público na criação de políticas e espaços voltados ao cuidado dos adolescentes. Ela também destacou a relevância do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nesse contexto, explicando como a legislação impacta a vida dos jovens e a garantia de seus direitos à saúde.
O evento concluiu com a proposta de realizar novas ações e encontros ao longo do ano, ampliando os espaços de debate e conscientização, não apenas durante o setembro Amarelo. A comissão sugeriu a organização de treinamentos, palestras e eventos em escolas, parques e outros espaços públicos, com o objetivo de prevenir desordens mentais e oferecer suporte contínuo aos jovens.
A iniciativa da OAB de Santo André se mostrou um passo importante na luta pela promoção da saúde mental dos adolescentes, contribuindo para a formação de uma rede de apoio que envolva escolas, famílias e profissionais, garantindo que os jovens recebam o acompanhamento e o cuidado necessários para seu pleno desenvolvimento.
Próximos passos
A iniciativa da OAB de Santo André deu um passo importante na promoção da saúde mental dos adolescentes, contribuindo para a formação de uma rede de apoio que envolve escolas, famílias e profissionais. Isso garante que os jovens recebam o acompanhamento e o cuidado necessários para seu pleno desenvolvimento.
Devido ao sucesso do evento, a Comissão da Infância, Juventude e Adoção planeja uma nova edição ainda este ano. A Dra. Eliane afirmou: “Nossa ideia é dar seguimento a mais eventos. Os próprios adolescentes saíram pedindo mais tempo de conversa. Isso é algo que não dá para esperar; queremos dar o próximo passo”.
A comissão é composta por oito integrantes: Shirley Van Der Zwaan (Presidente), Priscila Frade (Vice-presidente), Janete Gomes, Eliane Mendes de Sá, Grazielle Novais, Beatriz Aviles, Regina Santos, Denise Marttins e Miriam Pinho.