A poluição ambiental ganhou destaque recentemente devido à onda de calor que afetou o país nos últimos meses. Queimadas em diversas regiões, somadas a indústrias que não seguem rigorosamente as normas e legislações ambientais, têm contribuído para o aumento das temperaturas e variações climáticas, impactando diretamente a saúde da população. Especialistas afirmam que a falta de envolvimento dos órgãos públicos na questão tem um efeito negativo sobre a qualidade do ar nos municípios.
O professor João Carlos Mucciacito, mestre em Tecnologias Ambientais pela Fundação Santo André, destaca em entrevista ao RDtv que a discussão sobre meio ambiente começou a ganhar relevância há cerca de dez anos, quando os impactos do desenvolvimento industrial, especialmente das fábricas surgidas na década de 1970, começaram a ser sentidos.
“Termos como ecologia, sustentabilidade e meio ambiente eram tratados apenas por intelectuais da época. Como a sociedade não se envolveu na discussão, o desenvolvimento industrial do ABC e do Estado de São Paulo foi mal planejado, resultando em fábricas e estruturas que ainda hoje prejudicam a qualidade do ar”, afirma.

Segundo o docente, a falta de planejamento está diretamente ligada ao desinteresse político dos governos municipais e estaduais, além de a iniciativa privada não considerar a questão ambiental em seus processos. No entanto, ele observa que, em algumas indústrias, passou a ser uma prioridade respeitar os licenciamentos ambientais em prol da qualidade do ar.
No Estado de São Paulo, as legislações ambientais são geridas pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que exige três etapas para que uma empresa possa operar em determinada região: licenciamento provisório, no qual o poder público analisa a viabilidade da instalação; licenciamento de instalação; e, por fim, o licenciamento de operação, que autoriza a indústria a entrar em atividade.
“Quando falamos de desinteresse político, isso se reflete na realidade atual. Nos debates sobre as prefeituras das cidades da nossa região, a temática ambiental é abordada de maneira superficial, demonstrando a falta de entendimento técnico e a pouca atenção que o assunto recebe. O discurso se repete sem levar a soluções efetivas”, comenta Mucciacito.
Apesar das indústrias serem grandes fontes de poluentes, o professor destaca que o transporte público também falha na redução da emissão de gases tóxicos. A presença de frotas de ônibus antigos, com motores obsoletos, resulta em uma queima excessiva de combustível e baixa eficiência, gerando gases nocivos como o CO₂ (dióxido de carbono), principal responsável pelo efeito estufa.
“A realidade é que falta vontade política para promover a melhoria do meio ambiente. Desde os anos 1970, utilizamos combustíveis industriais de baixa qualidade, assim como nos automóveis que possuem motores ultrapassados. A transição para fontes de combustível, como a cana-de-açúcar, foi um passo, mas ainda estamos apenas no começo de uma mudança que pode levar até 20 anos para mostrar resultados significativos”, explica o docente da FSA.
Para Mucciacito, as ações que promovem a qualidade do ar e a sustentabilidade dependem principalmente da iniciativa governamental, mas a sociedade também desempenha um papel crucial nessa transformação. “Culturalmente, aceitamos o transporte público como ele é, sem exigir qualidade por ser ‘público’. A questão é que pagamos por isso e não devemos aceitar ônibus ultrapassados com motores poluentes em nossas cidades”, diz.