
A telemedicina, que se destacou durante a pandemia da covid-19 como solução para a continuidade do atendimento médico, ainda enfrenta dificuldades significativas para se consolidar no ABC. Embora tenha o potencial de democratizar o acesso à saúde e reduzir filas em hospitais, as cidades da região têm avançado lentamente na implementação dessa prática, devido à falta de tecnologia e à ausência de ações efetivas.
Em cidades como Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, a telemedicina é praticamente inexistente. No primeiro município, a prefeitura admite que não oferece o serviço devido à falta de cobertura de internet 5G, mas há planos para que essa modernização seja implementada em 2025. Ribeirão Pires, por sua vez, também não conta com esse tipo de atendimento, embora esteja realizando estudos para sua implementação, ainda sem uma data definida.
Em Diadema e Santo André, a infraestrutura necessária para a telemedicina ainda é limitada. Muitas unidades de saúde carecem de tecnologia adequada, como equipamentos de videoconferência e sistemas de prontuário eletrônico integrados, o que compromete a eficácia do atendimento à distância. Em Diadema, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) têm tablets para orientar e monitorar gestantes, gerenciar resultados de exames e realizar buscas ativas, mas quem busca atendimento à distância enfrenta dificuldades. “Tentei agendar consulta online com um dermatologista, mas informaram que não há esse tipo de atendimento na cidade. Agora, estou esperando uma brecha no trabalho para ir pessoalmente”, relata Marcus Antônio Soares, morador do Inamar.
Em Santo André, o serviço de telemedicina está disponível apenas na UPA da Vila Luzita. Em 2023, foram realizados 4,1 mil atendimentos, e este ano já são 5.255. A prefeitura informa que pacientes que não precisam de exame presencial e são classificados como “Verde” (com menor grau de urgência) podem sinalizar o interesse por meio do site ou do aplicativo da prefeitura.
Fila de Espera
Em São Caetano, os serviços de telemedicina foram implementados em 2022 e atualmente oferecem 14 especialidades médicas, incluindo cardiologia, dermatologia e psiquiatria. No entanto, há uma fila de espera para acessar esses serviços.
A prefeitura explica que a lista de espera é única e abrange consultas de todas as especialidades, incluindo pacientes da atenção básica que aguardam atendimento. “Aqueles que já foram atendidos via telemedicina e precisam de acompanhamento são colocados na fila exclusiva para telemedicina”, informa a administração.
Em 2023, São Caetano realizou 38.358 atendimentos por meio da telemedicina. Já este ano, entre janeiro e setembro, foram efetuados 31.327 atendimentos por meio da telemedicina.
Mais eficiência
De acordo com a Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTMS), a telemedicina poderia aumentar a eficiência dos serviços de saúde e proporcionar um atendimento mais ágil, especialmente em áreas com alta demanda e escassez de médicos. Contudo, a realidade do ABC mostra que muitos pacientes ainda enfrentam longas esperas para consultas presenciais, mesmo em especialidades que poderiam ser atendidas virtualmente.
Além da infraestrutura deficiente, a falta de capacitação dos profissionais de saúde é outro fator que contribui para a estagnação da telemedicina no ABC. Muitas cidades não oferecem treinamento para atendimentos online, e muitos pacientes ainda resistem à ideia de consultas virtuais, acreditando que a interação presencial é fundamental para um diagnóstico adequado. Pesquisas indicam que, embora a aceitação da telemedicina tenha crescido durante a pandemia, a adesão a longo prazo permanece incerta.
As prefeituras de Mauá e São Bernardo não responderam até o fechamento da reportagem.