Pesquisa inédita na região, feita pela CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano, aponta que o consumidor do ABC gasta aproximadamente R$ 600 milhões por ano em sites de apostas, as chamadas BETs, dinheiro que deixa de circular no comércio e afeta prioritariamente as classes econômicas C, D e E. A pesquisa foi feita como uma enquete com questionamentos enviados por celular onde 612 responderam as questões. Os resultados preliminares desta enquete mostram que sete em cada 10 respondentes conhecem os jogos online e 30% jogam, em média seis vezes ao mês e gastam cerca de R$ 125 mensais.
Alexandre Damásio, presidente da CDL de São Caetano, explica que primeiro a CNDL (Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas) fez sua pesquisa apontando essa problemática e destacando o gasto de R$ 6 bilhões por mês em jogos no país. “As BETs estão saindo dos joguinhos, entrando na cena política, na cena de consumo e atrapalhando a economia real do brasileiro comum. Nós do ABC também sofremos isso de maneira intensa”, diz. Damasio falou com exclusividade ao RDTv sobre a pesquisa regional.
A pesquisa nacional aponta 40 milhões de consumidores de jogos, sendo que 63% apostam em jogos esportivos, 27% nas slots, 26% em roletas, 20% nos chamados caça-níqueis e 18% jogam poker online. “Nesses dados não se encontram as loterias formais, não se fala do jogo do bicho e ainda outras apostas que não são mapeadas. Nós pegamos pesquisa nacional, que foi feita em setembro, não usamos a mesma metodologia, mas transformamos em uma metodologia de enquete nas três praças – São Caetano, Santo André e São Bernardo. Ainda estamos em tabulação, mas a gente pode afirmar, com certeza, que hoje nós temos no ABC pelo menos 380 mil usuários de joguinhos, que têm feito um tíquete médio de apostas por mês, próximo de R$ 125 e é um público que aposta mais de seis vezes por mês. Ou seja, quase 400 mil pessoas no ABC jogam habitualmente jogos online. Se multiplicar isso pelo tíquete médio, olha a fortuna que deixamos na mesa dos cassinos e que nós tiramos do consumo real, de restaurante, de cinema, das lojas e da aquisição em supermercados, é um volume absurdo contra qual estamos nadando”, diz Damásio.
Na pesquisa nacional 46% admitem que deixaram de consumir alguma coisa para jogar; 18% deixaram de gastar em vestuário, 17% deixaram de gastar com internet, 16% deixa de passear com a família, 16% deixou de fazer refeição fora de casa ou pedir delivery para usar esse dinheiro em jogo. O presidente da CDL de São Caetano aponta ainda gastos sociais que encarecem a conta do jogo compulsivo.
“Temos o aumento de uso de aparelho público para tratamento de compulsão, tem um encarecimento do espaço publicitário em nichos como o esportivo, porque as bets utilizam a propaganda de forma massiva, para normalizar um ato compulsivo e enganoso. Se tem uma mobilização para normalizar a prática do jogo online para uma geração, o que é muito perigoso e o órgão público não recebe absolutamente nada. Se entrega para o site de apostas toda uma população e o dinheiro que é gerado no mundo real e não se tem nenhuma contrapartida positiva. O Estado só fica com o ônus, com uma população com menor capacidade de consumo, adoentada, com aumento da inadimplência, e mais demanda por tratamento de ansiedade e compulsão”, diz.
O dirigente aponta que as casas de apostas online não são reguladas nas cidades, que vão ficar com 100% dos problemas. “A BET não é regulada na cidade, que fica com 100% das coisas ruins. As BETs vendem imagem que aquilo é passatempo, que vira tendência de querer ganhar e compulsão. Temos três elementos importantes: a geração de impostos; a regulação da propaganda, que hoje é consumida por crianças, idosos e pessoas hipossuficientes; e também é preciso dificultar o acesso com dupla verificação. São três elementos que vão fazer com que consigamos limitar, sem atrapalhar a livre iniciativa, orientar o jogo para que não seja um consumo compulsivo e proteger os menores, os idosos e pessoas de baixa renda”, diz Damásio.
Os lojistas, que antes reclamavam de aspectos econômicos, mercado financeiro e desemprego, para justificar baixo movimento de vendas, hoje já apontam as BETs. Essa não é só a preocupação do pequeno comerciante, já é também de grandes conglomerados de vendas. “O discurso financeiro foi atropelado pelo discurso das BETs. O lojista que vende para o público C,D e E sente de forma brutal esse empobrecimento ou melhor essa indisponibilidade destes R$ 125 por mês, que eram gastos numa meia, em camisetas no comércio popular ou em um produto de beleza. Um dinheiro que está sendo consumido na espera do ônibus ou no trajeto de entre casa e trabalho”, afirma.
Viciante, a aposta online usa a simplicidade e a facilidade dos celulares e também usa estrategicamente o futebol para ter acesso ao menor número de apostadores que acreditam que, de alguma forma, o dinheiro gasto nos jogos ajuda seu time do coração. “Hoje se tem entre os jovens menos fumantes, mas eles continuam bebendo, porque a propaganda contra o álcool é inexistente, por isso a necessidade de limitação da propaganda é o que faz um diferencial da próxima geração achar que está tudo bem gastar dinheiro jogando”, completa Damásio.
As pesquisas nacional e regionais foram levadas para o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, a quem foram apresentados os três eixos para garantir que as BETs funcionem com regulação. Em São Caetano a CDL vai lançar em 6 de dezembro uma cartilha, digital e impressa sobre o perigo dos jogos online.