ABC - sábado , 19 de abril de 2025

Casos de dengue aumentam quase 6 mil por cento este ano no ABC

Variação climática e socioeconômico favorecem o aumentos dos casos entre 2023 e 2024 (Foto: Divulgação/Fiocruz)

Entre janeiro e outubro de 2024, as cidades do ABC registraram uma explosão no número de casos de dengue em comparação com o mesmo período de 2023. O total de casos autóctones (contraídos localmente) e importados saltou de 742, no ano passado, para 44,1 mil em 2024, um crescimento de 5.850%.

Na avaliação de Alaide Mader Braga Vidal, professora de parasitologia e integrante da comissão de combate e prevenção ao Aedes aegypti da FMABC (Centro Universitário da Faculdade de Medicina ABC), o aumento expressivo de casos de dengue é reflexo de uma combinação de fatores climáticos, sociais e de conscientização.

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Alaide explica que as condições climáticas favoráveis, como aumento das chuvas e temperaturas mais altas, aceleram o ciclo de vida do Aedes aegypti, facilitam a proliferação. “Esse cenário, aliado a lacunas na conscientização e na fiscalização, resulta em um ambiente propício para a reprodução do mosquito”, alerta.

Especializada em Ciências da Saúde, a professora também aponta fatores socioeconômicos, como a falta de infraestrutura em áreas de vulnerabilidade social, onde coleta de lixo e condições de saneamento são insuficientes. “Muitas pessoas vivem em condições precárias e não cuidam adequadamente do ambiente, o que facilita a proliferação do mosquito”, afirma.

São Bernardo puxou o aumento

Em 2024, São Bernardo, apresenta o maior aumento da dengue, com 11.006 casos (10.734 casos autóctones e 272 importados). Em 2023, a cidade registrou apenas 76 casos (29 autóctones e 47 importados), um aumento de 14.381%. O município oferece a vacinação contra a dengue em suas 34 UBSs e já aplicou 10.651 doses, além de manter vigilância contínua contra o Aedes aegypti, com ações que incluem bloqueios sanitários e inspeções em locais de alta circulação.

Outro com explosão de casos é São Caetano, que contabiliza 8.756 casos (8.732 casos autóctones e 24 importados), este ano, em contraste com os 75 casos (25 autóctones e 70 importados) do ano anterior, um aumento de 11.574%. A vacinação iniciou em junho e alcançou aproximadamente 2.570 jovens. As medidas de controle do mosquito incluem visitas a imóveis especiais e pontos estratégicos, como cemitérios e ferros-velhos, além da intensificação da conscientização em escolas e empresas.

Em terceiro aparece Santo André, com 13.633 casos de dengue este ano (13.340 casos autóctones e 293 importados). No mesmo período em 2023, foram 290 casos, sendo 197 autóctones e 93 importados, um aumento de 5.143% em relação a 2024. A Prefeitura diz que intensificou as ações educativas e de controle, como visitas domiciliares, monitoramento de imóveis especiais e aplicação de inseticida em pontos estratégicos. A vacinação contra a dengue também está disponível para jovens de 10 a 14 anos nas 34 unidades de saúde, com 4.349 pessoas vacinadas com a primeira dose e 791 com a segunda.

Em Rio Grande da Serra conta com 221 casos em 2024, comparados a 5 em 2023, um aumento de 4.320%. A vacinação ocorre em todas as unidades de saúde para adolescentes de 10 a 14 anos, com 182 vacinados até o momento. As ações de controle incluem a avaliação de densidade larvária, vistoria em pontos estratégicos e bloqueios em áreas com casos suspeitos ou confirmados.

Diadema registrou 9.849 casos registrados até outubro de 2024, ante 253 casos em 2023, um aumento de 3.792%. Como prevenção, a Prefeitura cita a vacinação para jovens de 10 a 14 anos ocorre em todas as 20 UBSs, com 6.828 doses já foram aplicadas. Entre outras ações de combate estão a nebulização, bloqueios de criadouros e mutirões educativos.

Com números melhores, porém também preocupantes, Ribeirão Pires registra 686 casos (433 autóctones e 253 importados) em 2024, em comparação com 23 casos (7 autóctones e 16 importados) no ano anterior, um aumento de 2.882%. Para reforçar a imunização, a cidade disponibiliza a vacina em 10 unidades de saúde para jovens de 10 a 14 anos. A Prefeitura também implementa vistoria casa a casa, atividades educativas e monitoramento com armadilhas para o Aedes aegypti.

Prefeituras investem em ações como vistorias para inibir criadouros (Foto: Divulgação/PMETRP)

A Prefeitura de Mauá não respondeu ao RD até o fechamento desta reportagem.

Trabalho coordenado entre prefeituras

Para se prevenir, Alaide Mader Braga Vidal, presidente do Comitê de Contingenciamento, Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Dengue, recomenda a eliminação de focos de água parada e orienta sobre a importância de cobrir ou eliminar recipientes onde o mosquito possa depositar seus ovos. Entre as medidas citadas, estão a limpeza de calhas, o uso de repelente, roupas de manga comprida e a instalação de telas em portas e janelas. Alaide também reforça a necessidade de que as pessoas comuniquem às autoridades locais sobre pontos de acúmulo de água para as prefeituras realizarem ações de controle.

Embora os municípios implementem ações para conter a dengue, afirma Alaide, é preciso intensificar esforços com um trabalho coordenado entre prefeituras, comunidade e autoridades de saúde pública. A conscientização da população é fundamental, visto que a eliminação de criadouros depende, na maioria, da colaboração da sociedade. “O esforço tem que ser coordenado, e as campanhas de conscientização devem ser permanentes para alcançarmos um controle mais eficaz”, finaliza.

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