ABC - quarta-feira , 16 de abril de 2025

Troca dos ônibus por elétricos não tem prazo na região e 99% usa diesel

Ônibus elétrico que circula em Santo André. (Foto: Helber Aggio/PMSA)

O ABC não tem um prazo estipulado para troca de ônibus movidos a diesel por outros movidos a energia limpa, como os elétricos. A polêmica se instalou na última semana na Capital, quando Câmara paulistana propôs dilação do prazo para a eletrificação de 100% da frota para até 30 anos, depois da repercussão negativa o prazo foi reduzido para para 20. Se mantido esse patamar a frota no município de São Paulo seria trocada até 2038. Já na região as prefeituras não criaram prazos e há poucos ônibus elétricos em circulação; são 13 de em uma frota com 1.199 veículos, o que dá pouco mais 1%.

Para o professor do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia) e especialista em mobilidade elétrica, Fábio Delatore, a regulamentação para a substituição da frota poderia vir do Governo Federal, impondo prazos, mas não necessariamente seria uma medida focada exclusivamente no ônibus elétrico, poderia englobar as energias limpas e também os veículos híbridos. “Como a implantação do ônibus 100% elétrico é mais complicada pela infraestrutura, poderiam ser incluídas alternativas ao diesel além de medidas para o recobrimento vegetal das cidades recuperando o que foi suprimido, e não focar somente no elétrico como o único ponto da regulamentação, ou imposição”, diz.

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O professor considera que apenas 1% de veículos elétricos rodando em uma região como a do ABC é um percentual muito pequeno. Isso pode ser explicado pelo custo, já que um ônibus elétrico custa, em média, três vezes mais e, principalmente, pela infraestrutura necessária para a recarga. Segundo ele a Enel tem que dotar as garagens com uma capacidade de carga maior e também são necessárias novas tecnologias para a micro recarga ao longo do trajeto do ônibus, seja por trechos com via aérea que alimente o coletivo seja por pontos para recarregamento nas paradas para garantir a autonomia. “O ponto principal no ABC é a disponibilidade de energia, pois o custo do ônibus pode ser, de certa forma, mitigado por alguns incentivos. É isso que São Paulo está vendo agora, eu acho que lá eles tiveram um choque de realidade, todo mundo quer energia limpa, mas subestimaram a estrutura que precisa ser feita para que isso aconteça”, diz o professor que atua no ensino e pesquisa em Eletrônica Automotiva e Sistemas de Controle.

Ônibus Elétrico no Terminal de Diadema. Cidade tem a maior frota elétrica do ABC com sete ônibus. (Foto: André Baldini/PMD)

Na opinião do especialista o ideal, neste momento. seria o uso de veículos híbridos. “Eu gosto do modelo em que a tração do veículo é elétrica, mas há um motor à combustão que tem a função apenas de gerar energia para as baterias que, neste caso, seriam menores, com isso se resolve o problema da infraestrutura para recarga”, completa.

No ABC a maior frota de ônibus elétricos é a de Diadema, que tem sete veículos operando, em meio a uma frota de 128 ônibus. O sistema transporta diariamente 62 mil passageiros por dia. A prefeitura disse que não tem uma lei para estipular o número mínimo de ônibus elétricos ou prazos para renovação.

Santo André tem 313 ônibus no sistema municipal, entre eles apenas um 100% elétrico e outro híbrido. A cidade informa que não tem estabelecido prazo para substituir a frota por ônibus elétricos. “Está sendo realizado um estudo de viabilidade para implantação de veículos elétricos. Após essa fase, será analisado o instrumento legal pertinente à implantação”, diz nota do paço andreense. Na cidade o sistema transporta diariamente 163 mil passageiros.

Rio Grande da Serra tem 18 ônibus nas linhas municipais e nenhum elétrico ou híbrido. Em Ribeirão Pires também não há veículos elétricos no transporte público, mas a prefeitura diz que estuda implantar frota eletrificada. A cidade não informou quantos ônibus tem em suas linhas, mas em recente resposta ao RD, a prefeitura informava uma frota de 38 ônibus.

A Prefeitura de São Bernardo informa que tem 387 ônibus, distribuídos entre 66 linhas, mas só um é elétrico. “No período de oito anos, a frota municipal recebeu 286 novos ônibus para renovar o sistema de transporte coletivo. Cerca de 200 mil pessoas utilizam o sistema de transporte público diariamente. A partir do final do ano passado, em caráter experimental, a Linha 20 (Pq. Imigrantes/Paço), via Demarchi, circula com um veículo elétrico (a baterias), o qual tem apresentado eficiência. Essa linha transporta uma média de 4.000 passageiros por dia. O contrato vigente estabelece a substituição gradativa da frota por tecnologia limpa”, diz nota do paço.

A prefeitura de São Caetano, questionada sobre a frota atual, não respondeu, mas em junho, quando o RD abortou o tema, a prefeitura informava ter 57 ônibus que fazem as linhas municipais, mais seis veículos em reserva. Esse sistema transporta, em média, 72 mil passageiros por dia. Em junho o primeiro ônibus elétrico começou a circular em caráter provisório e a prefeitura disse na época ter estudo para aumentar a frota elétrica de forma gradual.

A prefeitura de Mauá, não respondeu aos questionamentos do RD, mas recentemente a Suzantur, que opera o transporte coletivo na cidade, anunciou o aumento da frota de elétricos na cidade de dois para quatro veículos. A licitação do transporte coletivo na cidade determina 248 ônibus.

Intermunicipal

Enquanto nas cidades o número de coletivos elétricos é muito pequeno, nas linhas intermunicipais o número é maior e com o novo corredor BRT o transporte menos poluente será ampliado na região, segundo informa a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) autarquia estadual que gerencia o transporte intermunicipal. “A frota gerenciada pela EMTU que circula em toda Área 5 é de 826 ônibus, sendo que 265 operam exclusivamente no Corredor ABD, onde 96 trólebus estão distribuídos em 12 linhas intermunicipais. Estima-se que, dos 253 mil passageiros/dia transportados, 105 mil utilizam os ônibus elétricos diariamente. Atualmente, não há norma com meta de eletrificação, no entanto a EMTU tem trabalhado junto as concessionárias para modernizar sua frota com tecnologias mais modernas e mais limpas. Em 2024, todos os 236 ônibus 0km adquiridos na Região Metropolitana de São Paulo possuem motor Euro VI, tecnologia mais moderna que contribui para a redução de poluentes e eficiência energética dos motores a diesel. Além disso, um novo investimento sustentável e inédito é o Corredor BRT ABC. Com 18 km de extensão total, o trecho ligará a região do ABC à capital e será operado por 92 veículos 100% elétricos a bateria, com 23 metros, ar-condicionado, silenciosos e não poluentes”, explica a EMTU, em nota.

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