Apesar dos avanços tecnológicos que revolucionaram os serviços notariais e de registro, o contato presencial permanece indispensável em diversas situações. A introdução de ferramentas digitais, como o e-Notariado, ampliou a acessibilidade e agilizou os processos, mas a confiança e o acolhimento que o atendimento presencial proporciona continuam sendo fundamentais, especialmente em atos mais sensíveis.

A digitalização trouxe benefícios claros, mas também impôs desafios ao setor. Em entrevista ao RDtv, o tabelião Andrei Duarte, vice-presidente do Colégio Notarial do Brasil, seção São Paulo, diz que a chave está na adaptação de cada ambiente profissional em introduzir a tecnologia em seus processos. “Digitalizar é uma oportunidade, mas deve ser feita com planejamento, respeitando o que o contato humano agrega ao serviço”, diz.
Duarte reforça que o equilíbrio é essencial em um país com desigualdades tecnológicas e culturais significativas, mesmo que, enquanto as plataformas digitais facilitam a vida de muitos, ainda há aqueles que enfrentam barreiras no acesso à internet ou que simplesmente se sentem mais seguros com o atendimento presencial.
No caso dos cartórios brasileiros, algumas das unidades adotaram soluções como assinaturas digitais e videoconferências, permitindo a realização de mais de 1,2 milhão de atos remotamente apenas no estado de São Paulo. Essas inovações atenderam à crescente demanda por conveniência e segurança, especialmente durante a pandemia. Porém, mesmo com a popularização dessas ferramentas, muitos cidadãos ainda preferem resolver questões delicadas de maneira presencial, como divórcios, inventários e testamentos, que frequentemente envolvem aspectos emocionais.
O acolhimento e a confiança estabelecidos durante o atendimento presencial são diferenciais importantes para os cartórios, que lidam com momentos cruciais da vida das pessoas. No cenário digital, há o risco de perder a proximidade que fortalece essa relação de confiança. Além disso, em atos mais complexos, a presença física do tabelião garante uma validação mais sólida, que dificilmente será substituída pela tecnologia. Isso é especialmente relevante em casos que exigem mediação ou aconselhamento, como questões familiares, segundo Duarte.
O modelo de transformação adotado por países altamente digitalizados, como a Estônia, é frequentemente mencionado como referência, mas os especialistas alertam para a importância de personalizar essas mudanças ao contexto brasileiro. “Não se trata de digitalizar tudo, mas de encontrar o equilíbrio certo para atender às necessidades de diferentes públicos”, diz. Enquanto o e-Notariado e outras ferramentas digitais continuarão avançando, os cartórios devem preservar o contato humano como uma característica essencial de sua atuação.
Duarte destaca que a combinação entre tecnologia e humanização é o caminho para manter os cartórios como instituições de confiança e acolhimento, capazes de atender tanto às exigências do mundo moderno quanto às necessidades emocionais e sociais de seus usuários.