
O Anuário 2024 de Cidades mais Seguras do Brasil, levantamento realizado pela empresa especializada em tecnologia e serviços no setor imobiliário, MySide, aponta que São Bernardo subiu oito posições no ranking, comparado com o estudo anterior de 2023 e lidera o segmento de cidades entre 500 mil e um milhão de habitantes. O mesmo estudo aponta queda de uma posição para Santo André e agora ocupa o nono lugar. São Caetano, Ribeirão Pires e Mauá, que não apareciam no levantamento anterior também pontuaram bem. O ranking compila dados do Ministério da Saúde e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2023.
Ranking mostra que São Bernardo subiu por ter reduzido o índice de homicídios por cem mil habitantes que, no anuário de 2023, apontava 12,1, ou seja 12 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, para 8,4. Já Santo André ostentava a marca de 11,7 no primeiro estudo e passou para 14,5.
No segmento de cidades com população entre 200 mil e 500 mil habitantes, Mauá aparece com destaque neste último levantamento. A cidade do ABC ficou em sétimo dentre todas as cidades do país nesta faixa populacional, com índice de 6,5 homicídio/100 mil habitantes.
No grupo de cidades com população entre 100 mil e 200 mil moradores, Ribeirão Pires se destaca no índice nacional na 11ª colocação com índice de 3,9. No Estado de São Paulo a cidade ocupa a 9ª posição. São Caetano também aparece como destaque no grupo de cidades de 100 mil a 200 mil habitantes. O município ficou na 14ª colocação no ranking nacional, com índice de homicídio de 4,8, e na lista dos municípios paulistas desta faixa populacional, está em 10°.
Para especialistas, apesar da variação das cidades no ranking todas estão em boa situação se comparado com os índices nacionais e seguem uma tendência de queda de mortes violentas no Estado. O ex-secretário Nacional de Segurança Pública e consultor na área, José Vicente da Silva, considera os índices do ABC bem positivos. “Mesmo em Santo André, que teve uma pequena piora, os números são bons. No Rio de Janeiro chega a 28 homicídios por 100 mil, em Curitiba é 20. Eu penso que acima de 10 já traz aguma preocupação e não está mito acima. Importante apontar que a segurança deve ser avaliada não só pelos homicídios, mas por roubos, furtos e outros delitos eu procuro seguir uma teoria estatística de que até 10 mortes se considera a cidade semi-pacificada, acima disso a pacificação está comprometida e em localidades com mais de 100, e temos cidades assim no país, é guerra civil. Uma cidade pacificada tem índice 1. Em São Paulo temos Vinhedo com índice de 0,99. Mas o ABC está bem, a média do Brasil está em torno de 22”, aponta.

Sobre o ABC, Silva disse ter conversado por vezes com o ex-comandante da Guarda Civil Municipal da cidade, o coronel Carlos Alberto, como também conversou com o ex-secretário de segurança de Santo André, Edson Sardano. “É difícil avaliar porque um resultado tão diferente em cidades vizinhas e tão semelhantes. Podemos pensar em qualidade dos serviços prestados pelo município nas regiões mais periféricas, onde os assassinatos mais acontecem, isso pode melhorar a tensão nestes locais”.

O coronel da reserva da PM de São Paulo e pós-graduado em Direitos Humanos, Adilson Paes de Souza, também considera que outros índices de criminalidade devem ser considerados para ranquear as cidades quanto à violência. “A insegurança grassa na sociedade e não por causa dos homicídios, mas também pela incidência de roubos. A população se sente, cada vez mais, insegura e com medo. Por outro lado, eu não sei qual é a metodologia da pesquisa, mas é possível afirmar que a segurança pública é um ativo importante que impacta na composição de vários preços, imóveis é um deles. Costumo dizer que a insegurança é uma commodity, rende muito dinheiro. É possível afirmar que uma notícia dessa auxilia a atrair mais pessoas para residir nestas áreas. As pessoas desejam, com intensidade, viver com mais segurança”.
O professor de criminologia, direito penal e coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), David Pimentel Barbosa de Siena, considera também que fatores sociais e a intervenção do poder público, não apenas através da polícia, mas com melhorias nas periferias, podem ajudar a reduzir os índices de crimes. “O homicídio é um crime multifatorial, que pode ser praticado por inúmeras motivações, mas há questões importantes debatidas na literatura, que podem nos ajudar a explicar o aumento ou diminuição. A letalidade policial e a vitimização policial têm uma correlação com os homicídios, isso a gente percebe estatisticamente. Outra questão a ser considerada é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), sobretudo a Educação; quanto mais educação, menor a taxa de homicídios. Outra análise é sobre os feminicídios, um crime com características completamente diferentes, e tem o próprio crime organizado, que coloca uma série de regras para matar nas periferias, portanto os índices podem variar a depender da atuação do crime organizado”, diz o professor que é autor do livro “Criminologia”, que fala da área da ciência dedicada a entender os motivos e contextos que levam ao comportamento criminoso.

Para Siena é difícil apontar algo que possa ter dado errado para que Santo André piorasse no ranking, mas é preciso observar os números por um intervalo maior de tempo, porque pode ser somente uma questão sazonal. “Pode ter esse aumento agora e no ano que vem diminuir, tem que acompanhar os dados e ver o que é tendência. O Estado historicamente tem uma tendência de queda de homicídios que vem deste 1995 e foi até 2023, quando teve uma reversão com um aumento das taxas, o que eu tenho acompanhado com preocupação. Em Santo André podem ter acontecido muitas coisas. O homicídio é de difícil prevenção que se dá apenas na forma primária, oferecendo qualidade de vida, saúde e, principalmente, educação”, completa.