
Mais votado entre os 21 vereadores de Diadema, Jeferson Leite (PT) vive um clima de grande fraternidade com o prefeito Taka Yamauchi (MDB), inclusive com direito a compartilhamentos de conteúdos entre eles nas redes sociais e agradecimentos mútuos. Essa proximidade, porém, já incomoda consideravelmente os outros quatro parlamentares da bancada petista no Parlamento, que o veem adotando um papel de “governista”, ao invés de fazer oposição ao emedebista.
Pelas redes sociais, é comum ver Jeferson Leite ao lado de Taka, seja em vistorias e até em inaugurações, a exemplo das entregas 252 apartamentos do Residencial Parque Real, por meio do Programa Casa Paulista, do governo do Estado de São Paulo. Tanto que o petista é figura presente em stories do Instagram do próprio prefeito e teve conteúdo compartilhado no perfil do secretário municipal de Governo, Marcos Michels, chamando a atenção de outros vereadores da bancada.
Sobre a estranheza quanto a essa proximidade, Jeferson Leite atrela a situação à rivalidade acirrada, marcada por troca de acusações, entre Taka e o ex-prefeito José de Filippi Júnior (PT), que polarizaram as duas últimas eleições municipais: 2020, vencida pelo petista, e 2024, na qual o emedebista levou a melhor. O vereador afirma que seu mandato será voltado mais à cidade em relação à ideologia partidária.
“É natural estranharem uma relação institucional entre um prefeito e vereador, após uma eleição marcada por muitas acusações. Mas estou com disposição para trabalhar pela cidade e, se essa for a intuição do prefeito, a gente vai cumprir o nosso papel institucional. Já a publicação do Marcos Michels foi de um buraco em uma rua da Vila Nogueira, bairro onde moro, resolvido pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Não sei por qual motivo que o secretário resolveu postar, mas é o direito dele”, justificou.
Apesar do papel institucional mencionado pelo parlamentar, outra situação chama a atenção ao acessar suas redes sociais, como o Instagram. Diferentemente dos outros quatro vereadores do PT – Josa Queiroz, Orlando Vitoriano, Gel Antônio e Patty Ferreira -, onde há alguma alusão ao partido em imagens, descrição de perfil e até pelo uso da cor vermelha na identidade visual, remetente ao petismo, essa percepção não existe nas páginas de Jeferson Leite.
Mais um episódio curioso na relação entre Jeferson Leite e Taka ocorreu durante última sessão da Câmara dos Vereadores, na quinta-feira (20/02), quando a bancada do PT aderiu ao requerimento elaborado pelo G10 – grupo de vereadores independentes ao governo -, acusando o prefeito de abrigar casos de nepotismo. Todos os parlamentares petistas assinaram o documento, todos menos Jeferson Leite, que justificou a decisão por não ser discutida antes internamente no grupo.
Desse modo, os outros quatro vereadores do PT não escondem o incômodo com os gestos de Jeferson Leite, embora evitem comentar publicamente para não agravar o clima no partido. “O PT criou diretrizes que estabelecem de postura para militância e integrantes. E isso (a proximidade do Jeferson Leite) vai ser discutido no partido”, resume Josa.
Jeferson Leite, por sua vez, remete ao papel multipartidário do presidente Lula (PT) para embasar a condução do seu mandato e que, portanto, não desrespeita as diretrizes do partido. “Nosso presidente dialoga com vários partidos, trata todos os prefeitos com maior cordialidade e respeito, pensando em implantar suas políticas por todo território nacional e o meu intuito é um pouco disso: construir um diálogo para que Diadema não vire uma cidade como foi na gestão (do ex-prefeito) Lauro Michels, que perdeu muitos projetos com o governo federal”, diz.
Histórico de vai e volta no PT
De origem no movimento habitacional junto ao seu pai e liderança histórica no segmento, Edmundo da Silva Ribeiro – falecido há cerca de 20 anos -, Jeferson Leite foi acolhido politicamente pelo ex-vereador Ronaldo Lacerda, que passou a encabeçar o movimento. Ambos eram do PT até 2020, quando houve a migração para o PDT a fim de bancar uma candidatura majoritária puxada pelo próprio Lacerda.
O então postulante pelo PDT ficou fora do segundo turno, entre Filippi e Taka naquele ano, mas Jeferson Leite conseguiu o seu primeiro mandato na vereança pelo partido. Quatro anos depois, de volta ao PT, o vereador foi reeleito com o apoio de 7.782 eleitores, sendo o mais votado para o Legislativo. Entretanto, muitos petistas não esquecem do passado, quando houve a saída do parlamentar no petismo, e não deixam de olhar para o presente pela proximidade com Taka.