
A privatização da linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que está em processo desde 2023 e que deve ser concluída somente no ano que vem, traz expectativas dos usuários dos trens entre o ABC e a Capital, de que o serviço fique mais eficiente, com intervalos menores entre as composições e vagões menos lotados. As melhorias a serem feitas no âmbito da concessão à iniciativa privada incluem a modernização de algumas estações, reconstrução de outras e a implementação de quatro novas paradas na linha. Exemplos de problemas nas linhas 8 e 9, operadas pela Via Mobilidade, trazem temor aos passageiros do ABC.
Vagner Cipriano de Alencar, de 36 anos, mora em Ribeirão Pires e usa o trem diariamente. Apesar de apontar problemas na acessibilidade e o alagamento nas vias que, por vezes, impede a circulação das composições, avalia que ainda assim o serviço é bom. “Olha em 2025 eu avalio o serviço da linha 10 como bom. Ainda é a opção mais rápida, para deslocamento até a Capital. Os trens são novos, o ar condicionado funciona, reconheço que precisam de obras para conter os alagamentos no Verão com as chuvas fortes. O ponto fraco sempre foi, e ainda é, a acessibilidade, tem quase 30 anos que o estado investiu em reformas e modernização das estações na região metropolitana, mas o ABC ficou por último nessa questão. Faltam elevadores em muitas estações, veja o exemplo de Mauá e Santo André. No Guapituba nem telhado em e toda a extensão da plataforma”, aponta.
Sobre a operação por empresa privada, Alencar vê com reservas. “Os exemplos que eu tenho como supervia no Rio de Janeiro, via Mobilidade nas linhas 8 e 9 aqui em São Paulo, não são bons. Um serviço é terceirizado, mas os investimentos ainda ficam a cargo do Estado com os subsídios, qual a lógica de entregar a iniciativa privada se não vai haver essas melhorias, as multas são ignoradas e fiscalização inexiste. Então entregar algo pronto para iniciativa privada não vejo com bons olhos, mesmo que faça até algum sentido conceder a linha 10 com a obrigação de construir a linha 14”, completa.
O morador de Mauá, Eduardo Furtado, tem usado com frequência a linha 10 Turquesa para levar o filho aos treinos de futebol na Estação Água Branca, onde ele também faz uso da linha 7 Rubi. Ele conta que obras da prefeitura diminuíram os alagamentos na via. “Em questão de chuva não vi problemas, levo meu filho que foi jogar no Campo do Nacional em São Paulo, na Estação Água Branca da CPTM , voltei estava uma baita de uma chuva, o trem estava em pleno funcionamento. Em Mauá na altura do Paço e do piscinão, a CPTM fez uma obra de canalização, que acabou com a enchente. Em 25 ou 30 minutos estou na Estação Luz saindo de Mauá, a cada 12 minutos tem trem passando, é a melhor época em funcionamento”, elogia.
Arthur Reis, de 22 anos, que mora em Ribeirão Pires e usa o trem para ir a São Paulo todos os fins de semana, diz que ele volta lotado no sentido Rio Grande da Serra. “Fica cheio mesmo aos domingos. E o trem também demora, chego a ficar 40 minutos na plataforma esperando, principalmente nos fins de semana em que fazem manutenção na linha”, diz o jovem. Ele não se queixa da limpeza, que diz ser boa, mas aponta problemas de acessibilidade, principalmente nas estações mais antigas como a de Rio Grande e a de Ribeirão Pires. Na média ele acha o serviço bom. “Dou nota 7,5 porque é melhor do que o modelo de privatização que tem na linha 8 e 9”, classifica. Ele aponta, no entanto, também a falta de acessos internos para a mudança de lado na plataforma, sem precisar sair da estação de Ribeirão Pires.
A assessora de comunicação, Solange Borges, que vai todos os dias de Santo André para a Capital, onde trabalha, diz que o trem é o melhor meio de transporte entre o ABC e a Capital, mesmo com as dificuldades. “É uma linha importante para a população do ABC, principalmente para os moradores acessarem a região central de São Paulo e fazer a transferência para outros ramais. O serviço tem sido aprimorado, o que me motivou a usar esse meio de transporte com frequência. Além disso, o tempo para chegar à Capital, comparado ao uso do carro, é imbatível no dia a dia”, diz. Apesar do elogio à mobilidade que o sistema de trens proporciona ela se queixa das estações. “A Prefeito Saladino que foi reformada ficou boa, mas falta isso chegar a estação Santo André também”, completa.
Concessão
A privatização do lote ABC – Guarulhos que envolve também a futura linha 14-Ônix teve consulta pública foi finalizada no dia 03/03, segunda-feira de Carnaval, o edital tem previsão para ser lançado no terceiro trimestre deste mês, com leilão realizado até o fim do ano e a assinatura do contrato deve acontecer em 2026.
Atualmente, a Linha 10-Turquesa atende 14 estações e possui integração com sete linhas (1-Azul; 2-Verde; 3-Vermelha; 4-Amarela; 7-Rubi; 11-Coral; 12-Safira), além dos Expressos Turísticos Mogi das Cruzes e Paranapiacaba. Com as melhorias planejadas, o número de estações atendidas passará para 18 e as linhas integradas aumentarão para 11 em nove pontos distintos. Além das existentes, a linha 10-Turquesa passará a se conectar diretamente com as Linhas 6-Laranja, as futuras linhas 16-Violeta e 14-Ônix, além da 15-Prata do Metrô.
O projeto prevê quatro novas estações: Bom Retiro, São Carlos-Parque da Mooca, ABC e Pari (Contingente). O governo do Estado garante melhoria na infraestrutura ferroviária. “Haverá ainda uma redução do intervalo entre os trens de 6 para 4,5 minutos no trecho entre Bom Retiro e Mauá. A proposta também visa minimizar as interrupções causadas por alagamentos nos horários de pico do verão e a extinção das passagens em nível, que serão substituídas por passarelas, viadutos rodoviários ou passagens inferiores”, diz comunicado da Secretaria de Parcerias em Investimentos que aponta ainda compra de 16 trens novos elevando a capacidade da linha para 552 mil passageiros por dia, atualmente atende a 358 mil.