
A Câmara de São Bernardo divulgou nesta sexta-feira (21/03), uma nota de repúdio contra as falas proferidas pelo vereador Luiz Henrique Watanabe (PRTB), durante a sessão da última quarta-feira (19/03), associando o sacerdócio católico com casos de pedofilia envolvendo padres. O posicionamento do Legislativo ocorre após as críticas feitas pela Diocese de Santo André sobre as mesmas falas.
O Legislativo inicia esclarecendo que as declarações “associando de forma infundada, injusta e generalizada, o sacerdócio católico à pedofilia não representam o pensamento desta Casa de Leis nem dos vereadores abaixo mencionados neste documento”. O documento conta com o nome dos demais 27 vereadores. Algumas assinaturas não contam, porém, segundo a assessoria da Câmara todos os citados aprovaram o texto.
“Não compactuamos com a disseminação de informações falsas e prejudiciais, ao mesmo tempo que reafirmamos nosso respeito aos valores e à atuação da Igreja Católica, que há séculos contribui para a formação ética, social e cultural de nossa sociedade. Reconhecemos a dedicação dos sacerdotes e fiéis ao serviço da fé e da caridade, promovendo o bem comum.”, segue.
“O debate político deve ser pautado pela responsabilidade e pelo respeito. Declarações infundadas não contribuem para um diálogo democrático saudável. Como representantes do povo, defendemos a liberdade religiosa e valorizamos instituições que fazem parte da identidade e história de nossa sociedade. Manifestamos nossa solidariedade à Diocese de Santo André, demais Dioceses e a todos os fiéis católicos que se sentiram ofendidos. Esta Câmara Municipal reafirma seu compromisso e respeito a todas as religiões.”, finaliza o texto.
Diocese de Santo André

A nota de repúdio da Câmara de São Bernardo foi divulgada após a nota da Diocese de Santo André, emitida na última quinta-feira (20/03). Assinada pelo Bispo de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini; pelo coordenador da Pastoral Presbiteral, Padre José Aparecido Cassiano; e pelo coordenador do Departamento de Comunicação, Padre Marcos Wanderlei Vinicius; a nota diz que “tais afirmações infundadas e desrespeitosas ferem a honra dos milhares de sacerdotes que dedicam suas vidas ao serviço do próximo e à fé de milhões de católicos.”.
O texto lembra que a fala de Watanabe ocorreu em meio a discussão de uma moção de apoio ao Papa Francisco. A citação do relatório John Jay (2004) para a justificativa da fala do vereador, segundo a Diocese, “distorceu gravemente os fatos e disseminou desinformação”.
“O estudo, encomendado pela própria Igreja Católica nos Estados Unidos, não aponta qualquer relação entre o recrutamento de sacerdotes e tendências pedófilas, tampouco menciona psicólogos responsáveis por essa suposta prática. O relatório, na verdade, atribui os casos de abuso a falhas institucionais do passado, como a transferência indevida de clérigos acusados e a omissão de denúncias às autoridades civis, sem qualquer indício de que a Igreja tenha deliberadamente selecionado abusadores.”, diz a Diocese.
“Dessa forma, é falaciosa e irresponsável a tentativa do vereador de usar esse estudo para justificar suas acusações. A tentativa de manipulação dos dados revela não apenas uma falta de compromisso com a verdade, mas também um grave desserviço à sociedade, alimentando discursos infundados e desviando o foco do real propósito do relatório: fortalecer a proteção dos vulneráveis e garantir maior transparência na Igreja. Repudiamos veementemente esse tipo de distorção, que apenas contribui para a desinformação e o enfraquecimento de debates sérios sobre a prevenção de abusos.”, segue.
Vereador afirma que vai se retratar

A reportagem entrou em contato com o vereador Watanabe. A princípio, o parlamentar divulgou uma nota de esclarecimento sobre o caso. No texto, o legislador diz que “durante décadas, vimos um movimento ideológico se infiltrar dentro da Igreja, minando sua autoridade moral e afastando fiéis. A politização do altar sufocou a busca pela santidade e pelo transcendente, substituindo o Evangelho por discursos ideológicos. Mas a Igreja é maior do que isso.”.
Em outro trecho, Watanabe afirma que a Igreja “sempre foi perseguida” e que uma das estratégias para isso seria “destruí-la por dentro”. Sobre o discurso no plenário, o vereador afirma que sua fala “jamais teve como alvo esses homens de bem (falando dos padres), que merecem nosso respeito, nossas orações e nosso apoio incondicional. Me referi exclusivamente aos infiltrados, aos criminosos que, sob o disfarce da batina, tentam perverter a Igreja a enfraquecê-la.”.
Na sequência, em ligação telefônica, Watanabe afirmou que não inventou qualquer informação que disse no plenário. “De fato eu li, não tinha razão nenhuma para inventar uma coisa daquela, mas agora estou com muita dificuldade para encontrar, é uma coisa antiga, tá? Têm outros estudos que tratam de coisas até mais graves do que na John Jay College em relação aquilo. Até por essa razão eu me retrato, eu me retrato no sentido da questão da pedofilia. Inclusive vou fazer isso em plenário, na próxima sessão, porque uma vez como estou com dificuldade de encontrar, eu tenho que retirar o que foi dito (sic).”.
Sobre a nota da Câmara, o legislador afirmou que soube de sua confecção pelo presidente do Legislativo, Danilo Lima (Podemos), mas que o texto que foi divulgado estava diferente do conteúdo que lhe foi antecipado. Questionado sobre algum receio de uma punição mais severa por parte da Casa de Leis, Watanabe afirmou que está tranquilo e que nenhuma das situações da sessão dão base para qualquer tipo de ação contra o seu mandato, e ainda ressaltou que conta com apoio de munícipes.
Confira abaixo a íntegra das notas da Câmara de São Bernardo, da Diocese de Santo André e do vereador Luiz Henrique Watanabe:
Nota de Esclarecimento: A Verdade Sobre Minha Fala e a Defesa da Santa Igreja (Vereador Watanabe)
“O bom pastor dá a vida por suas ovelhas.” (Jo 10,11)
A Santa Igreja Católica sempre teve em seus sacerdotes fiéis a maior força para manter viva a chama da fé. E hoje, graças ao trabalho de tantos padres verdadeiramente comprometidos com a missão de Cristo, vemos um grande renascimento da espiritualidade dentro da Igreja.
A verdade é simples: é a fé que restaura, não a política. É a busca pela salvação das almas, não a luta de classes, que fortalece a Igreja.
Durante décadas, vimos um movimento ideológico se infiltrar dentro da Igreja, minando sua autoridade moral e afastando fiéis. A politização do altar sufocou a busca pela santidade e pelo transcendente, substituindo o Evangelho por discursos ideológicos. Mas a Igreja é maior do que isso.
Vários movimentos de renovação espiritual têm ajudado a restaurar a verdadeira missão da Igreja. Um grande exemplo disso é a Renovação Carismática Católica (RCC), que trouxe de volta milhões de fiéis que haviam se afastado. Mas não é só ela. Hoje, vemos diversas expressões de fé que, cada uma à sua maneira, resgatam a essência do sacerdócio e da Igreja, levando os fiéis de volta a Cristo.
Graças a Deus, vemos surgir grandes sacerdotes — homens que amam verdadeiramente a Cristo, respeitam a Igreja e querem salvar almas. São eles os verdadeiros pastores, que guiam suas ovelhas com zelo, sem ceder à tentação de transformar os púlpitos em palanques ou o altar em um palco de militância. Esses padres não pregam a destruição da Igreja em nome de um ideal revolucionário; eles a fortalecem, porque sabem que a missão principal é conduzir almas a Deus.
A esses bons padres, expresso todo o meu respeito, carinho e apoio. São eles os verdadeiros defensores da fé, que enfrentam um mundo cada vez mais hostil ao cristianismo sem abrir mão da verdade. E é ao lado desses sacerdotes fiéis que estou.
Mas aqui é preciso fazer uma distinção clara: a Igreja sempre foi perseguida, e uma das estratégias mais perversas de seus inimigos foi tentar destruí-la por dentro.
Mas a verdade é esta: a imensa maioria dos sacerdotes são homens de Deus, de reputação ilibada, que dedicam suas vidas à fé e ao serviço ao próximo. Minha fala jamais teve como alvo esses homens de bem, que merecem nosso respeito, nossas orações e nosso apoio incondicional. Me referi exclusivamente aos infiltrados, aos criminosos que, sob o disfarce da batina, tentam perverter a Igreja e enfraquecê-la.
E aqui está algo que muitos não mencionam: mesmo com os casos de abuso denunciados ao longo dos anos, o número de ocorrências dentro da Igreja Católica é proporcionalmente muito menor do que em qualquer outro segmento da sociedade. Isso acontece porque a Igreja, diferentemente de muitas outras instituições, não varre a sujeira para debaixo do tapete. Pelo contrário, tem sido uma das poucas entidades que enfrenta esse problema de frente, investiga e pune com rigor.
A Igreja não é a vilã. Ela é vítima desses infiltrados. E é exatamente isso que eu denunciei. Quem tenta distorcer minhas palavras ou não entendeu o que eu disse ou tem interesses muito diferentes dos da verdadeira fé cristã.
Por isso, reafirmo: sou um defensor da Igreja e estarei sempre ao lado da verdade. A quem deseja me atacar por dizer isso, eu respondo com serenidade: seu problema não é comigo, mas com a realidade dos fatos.
Aos sacerdotes que vivem sua missão com santidade, todo o meu respeito e apoio. Aos que tentam destruir a Igreja por dentro, a certeza de que não terão sucesso.
A Igreja permanece. A verdade sempre prevalece.
Luiz Henrique Watanabe